Eu juro por tudo que é mais sagrado que gostaria de ser uma daquelas pessoas que quando estão tristes perdem a fome ou que se perdem nas horas e esquecem de comer. Isso nunca aconteceu comigo.
Se estou feliz, eu como, se estou triste, como mais, se estou ansiosa, como ainda mais e já deu pra notar que eu tenho problemas, mas faço terapia para tentar mudar isso, mesmo que tenha meus altos e baixos.
Minha personalidade e estilo de vida me fazem passar despercebida e eu gosto disso, poucos amigos, quase não saio de casa e isso significa que posso me dedicar ainda mais ao meu casal favorito.
Foi assim que apelidei eles quando chegaram. Estou falando dos meus vizinhos, eles são um casal e encontrei com eles no elevador quando estavam se mudando, algum tempo atrás. Um é o perfeito exemplo de virilidade e macho alfa e o outro até parece uma boneca, com alguns traços femininos, mas que me encantaram desde o início.
Um dia eu vi o Lucas ajudando a dona Neide, nossa vizinha da frente, com algumas caixas pesadas e eu juro que fiquei uns 5 minutos admirando as veias sobressaltadas do braço dele.
Eu sei, eu sei, o que tem de novo em veias? Eu não tenho resposta para essa pergunta, mas nunca disse para ninguém que eu sou normal.
Enfim, a minha obsessão com esse casal começou em uma noite em que descobri que o quarto deles fica exatamente na parede oposta a minha sala de estar. Eu consigo escutar quase perfeitamente tudo que eles fazem e como o Samuel é todo macho alfa realmente.
Bom, semanas depois, o resultado foi eu colocando uma linda poltrona confortável bem naquela parede e ficando vidrada em tudo que tem a ver com eles.
Obviamente que eles nem desconfiam que eu ouço tudo, nem vão saber o quão interessantes se tornaram as minhas noites depois da chegada deles.
Porém, em momentos como esse, em que estou no meu terceiro pote de sorvete, às 3h da manhã, chorando e me sentindo um lixo por não ter conseguido manter nem mesmo uma semana inteira de dieta, eu gostaria ter alguém como eles.
Alguém para segurar a minha mão e dizer que vai ficar tudo bem, como ouvi outra noite o Lucas consolando o Samuel e provavelmente o abraçando. Afinal, nem só de putaria vive um casal.
Minha cabeça dói, minhas pernas estão formigando pela posição e me sinto suja depois de comer tanto sem necessidade. Não consigo parar de pensar nas calorias e gordura que ganharei e então, como em outras noites, vou até o banheiro e me olho no espelho.
Olho até me dar conta de que nada vai mudar nunca, então me ajoelho na frente do vazo e induzo para colocar tudo para fora. Tomo um banho e decido que já é hora de ir dormir porque amanhã nem pensar em ter um café da manhã para mim.
Lembro que preciso jogar o lixo fora e visto um roupão por cima do pijama que uso, então saio até a lixeira do prédio.
Assim que a porta do elevador se abre, dou de cara com as costas grandes e musculosas de Samuel, bem em frente a porta da minha casa. O reconheceria em qualquer lugar. Deus, devo está doida mesmo.
- Oi? - chamo sua atenção e a muralha se vira para mim, com a cara fechada e de poucos amigos, porém cordial o suficiente para eu saber que não oferece perigo para mim.
- Sophia, não é? - o timbre chega aos meus ouvidos e não posso culpar o Lucas por se apaixonar por ele.
- Sou eu. - confirmo e respirou fundo, saindo do elevador assim que as portas ameaçam fechar novamente.
- Precisamos conversar.