Parte 01
- Deus do céu.Caio acordou atordoado, todo aquele maldito pesadelo permeava sua mente. O celular tocava, Miranda estava ligando.
- Nem ferrando que eu vou ajudar ele. Que se dane!
Caio atendeu o celular. O silêncio pairou do outro lado.
- Oi Miranda... São 3h da manhã.
- Danone... de morango... não sei como alguém come essa porcaria.
Caio franziu a testa, sem entender.
- Tu tá drogado?
- Sim... eu cheirei Nescau, seu merda, é óbvio que não. Mas... a Venezuela é um dos países que mais exporta petróleo, sabia?
- Miranda, vai dormir! - Gritou Caio.
Parte 02
Assim que Caio desligou, Miranda caiu na cama e voltou a dormir. Miranda era um notável sonâmbulo, capaz de abrir a porta de casa e ir para a rua, conversar com quem quer que fosse, voltar para casa e no outro dia acordar como se nada tivesse acontecido. Caio não dormiu mais naquela noite e ao amanhecer, teve que recorrer ao energético, junto com uma dose de café. Se arrumou e seguiu para a clínica de odontologia que trabalhava. Naquela manhã, ele deveria realizar três extrações dentárias. Porém, logo na primeira, tudo desandou. Seus dois assistentes prepararam a mesa e os materiais. A moça que teria o dente extraído achou Caio tão lindo, que teceu-lhe um comentário:- Meu Deus, doutor, acho que você é o homem mais lindo que eu já vi.
Em outros momentos, Caio seria cordial, mas dessa vez não. A cabeça perturbada pelo pesadelo e a agitação e cortisol desencadeada pelo energético com café, o levaram a dar uma resposta imoral para um dentista conceituado como ele.
Parte 03
- Cala a boca vadia, todo mundo aqui te odeia.A moça ficou atônita, teria ele realmente dito aquilo? Os dois assistentes entreolharam-se com certo espanto mas não ousaram falar nada.
- E vamos logo com isso. Segurem ela.
Um dos assistentes segurou sua cabeça e o outro segurou seu corpo. Caio esqueceu-se da anestesia ou talvez, propositalmente não a colocou. Ele rasgou a gengiva da mulher, colocou o aparelho de sucção de saliva dentro de sua boca e continuou rasgando, abrindo, partindo. A mulher gritava, esperneava, tentava virar a cabeça e frequentemente tentava levantar-se, sem sucesso algum. O assistente que segurava a cabeça estava sério, seu olhar era frio. O outro apertava a mulher e fechava os olhos a cada grito que ela dava. A impressão era de que Caio crescia, suas mãos tão grandes, puxando algo tão pequeno. A mulher sentia uma dor aguda, fina, agonizante, como quando alguém bate o dente em um copo de vidro, ou o mindinho na quina da mesa, quando alguém recebe um soco no nariz ou quando cai, batendo o cotovelo.
Parte 04
Obviamente a mulher não aguentou e desmaiou. Os assistentes a soltaram por um instante e Caio puxou o dente, que veio com um jato de sangue, sujando o jaleco dos assistentes e o rosto de Caio. O sangue, porém, não parou. Hemorragia externa. Caio correu para um lado e os assistentes para outro, pegaram os materiais necessários e conseguiram estancar o sangue depois de se sujarem e encharcar a paciente com o próprio sangue. Os assistentes jogaram as luvas em Caio e saíram, com raiva, o desprezando. Caio saiu do transe e percebeu toda a tragédia que havia praticado. Suas mãos cobertas pelas luvas estavam sujas de sangue e tremiam. Aquele vermelho carmesim era brilhante, muito chamativo.Parte 05
Caio foi pra casa e as outras duas extrações foram canceladas, afinal ninguém mais queria realizar as extrações depois de um procedimento sanguinolento como aquele. A mulher foi encaminhada ao hospital, atordoada, sem conseguir andar, pois havia perdido muito sangue. Caio dormiu profundamente naquela noite e no dia seguinte, mal se lembrava do que tinha acontecido. Enquanto se arrumava, recebeu uma ligação do seu superior, informando da denúncia feita pela paciente. As câmeras de segurança viram tudo, tentar se defender era impossível.- Trinta dias suspenso?! Não! Eu não posso...
Tentou argumentar, mas falhou. A denúncia estava feita, tudo que poderia fazer era esperar os próximos acontecimentos.
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SOMOS 10
HorrorEm uma pequena cidade, amigos de longa data são assombrados por pesadelos terríveis todas as noites. À medida que os sonhos se intensificam, eles percebem as consequências reais. No entanto, existe algo no canto, na escuridão, os observando, sugando...