Prólogo

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— Merda, merda, merda...

Armin corria pelo corredor da faculdade sem se importar com os olhares sobre si pelo estardalhaço. Estava mais do que atrasado e era apenas a sua terceira semana. Normalmente não havia problemas, mas o professor Sadies, de estética da arte, era do tipo antiquado que fazia questão de dar uma leve humilhada em seus alunos que chegavam depois do horário.

Quando chegou à porta para abri-la, viu que não era o único atrasado.

— Pronto para uma sessão de vergonha? — O garoto sorria para si, mas parecia compadecido com a situação.

Era a primeira vez que Thomas falava com ele, não que eles fossem colegas de longa data, afinal, Armin fora transferido de outra universidade para cursar o último semestre. Sem falar que ele não era a pessoa mais comunicativa da turma, pois chegar ao final do curso, quando todas as panelinhas já estavam mais do que formadas, era pedir demais.

Sem falar que Thomas mantinha sua própria distância, com seu ar de bad boy, os cabelos loiros bagunçados e jogados para o lado, as dezenas de piercings nas orelhas, a aura sombria e misteriosa que sempre carregava fazia dele o perfeito garoto encrenca que todas as garotas e garotos suspiravam à distância e que Armin fazia questão de se manter afastado por detestar aquele tipo de atenção.

Armin abaixou o olhar de forma tímida e assentiu, deixando que ele fizesse as honras de abrir a porta, os fios dourados de seus cabelos compridos caindo sobre os olhos azuis elétricos, escondendo o constrangimento.

E foi assim que, juntos, eles enfrentaram a primeira humilhação do professor naquele mês.



— Quando foi que você e Thomas se tornaram próximos?

Armin ergueu o rosto de seu caderno, onde anotava algumas referências para um trabalho, encarando o casal, Mina e Nack, que subitamente invadiu seu espaço e sentou-se, com as cadeiras viradas para sua mesa.

A sala de aula estava particularmente vazia, com alguns poucos alunos que optaram por passar o breve intervalo por ali mesmo. Eles teriam a mesma aula pelo resto da tarde e isso facilitava para os estudantes, que não precisariam ficar correndo de uma sala para outra.

— Nós não estamos próximos.

— Qual é, vocês até sentam perto um do outro agora — disse Mina revirando os olhos como se fosse uma informação óbvia.

Armin corou e desceu olhar para suas anotações e tentou disfarçar, dando de ombros.

— Ele senta atrás de mim, apenas isso.

O casal bufou pela insistência do colega em negar.

— Ele fala com você — Nack persistiu no assunto, que já estava deixando Armin visualmente desconfortável — Sabe quantas pessoas tentaram arrancar ao menos um resmungo daquele cara nos últimos quatro anos e só receberam um vácuo cortante?

— E a culpa é minha por preferir ignorar perguntas idiotas?

Os três jovens olharam para a fonte da voz fria que nem haviam visto se aproximar. Thomas estava parado bem atrás da garota e isso fez com que ela desse um pulo com o susto, afinal, de onde ele tinha surgido?

O casal nem fez questão de continuar ali ou desculpar-se, apenas saiu rapidamente com resmungos sobre "pessoa difícil" e "novato privilegiado". Thomas sentou-se atrás de Armin como se nada tivesse acontecido, ignorando os olhares atentos dos colegas, e espiou as anotações dele.

O sabor de seu sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora