Capítulo único

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Me sentei em uma das mesas do fundo da biblioteca de Hogwarts, os olhos fixos em um livro qualquer que eu havia pegado na estante, tentando focar em qualquer coisa que não seja as lembranças do pesadelo que havia acabado de me tirar da cama.

Eu já estava acostumado com eles, estavam aparecendo com bastante frequência naquele ano, mas ainda sim era quase impossível dormir depois deles. Isso tornou meus passeios da madrugada mais comuns também.

A biblioteca e a torre da astronomia eram os lugares para onde eu costumava correr quando acontecia. Mas como estava começando uma tempestade a biblioteca me pareceu uma opção melhor na noite de hoje.

Fecho o livro com certa irritação, deitando minha cabeça em cima dele. Me distrair com ele não estava funcionando e eu estava começando a me sentir inquieto novamente, com o pesadelo ainda fervendo em minha mente.

A noite do cemitério no final do Torneio Tribruxo, a morte de Cedrico, a cena do pai dele gritando pela morte do filho e a culpa que eu senti ficam sendo revividas. Era uma tortura!

A tempestade rugia do lado de fora e eu sentia que a minha cabeça iria explodir quando eu ouvi uma voz, muito familiar, atrás de mim.

- Potter, o que está fazendo aqui? Perdeu seu caminho para a sua sala comunal? - A voz de Draco carregada de sarcasmo me fez revirar os olhos.

Levantei a cabeça movendo meu olhar para a figura loira atrás de mim, que carregava a sua tão costumeira expressão arrogante no rosto.

- E você, Malfoy, veio procurar um livro que te ensine como ser uma pessoa suportável? - Retruco, as palavras saíram de forma afiada antes que eu pudesse detê-las, soltando um suspiro irritado.

Esse era um daqueles momentos em que você já não está com muita paciência e parece que o mundo conspira para que você se irrite ainda mais.

Malfoy apenas resmunga um "Patético" antes de ir para a mesa ao lado, abrindo o livro que havia trago consigo.

Ficamos um tempo em silêncio, cada um em sua própria mesa e focado em seus próprios pensamentos. Vez ou outra eu não conseguia impedir que meu olhar viajasse até Malfoy.

Eu estava atordoado pelos pesadelos, o que já era algo comum, agora algo que não era comum era Malfoy parecer inquieto também. Eu pude, mesmo com a pouca luz da biblioteca que era iluminada apenas pelo Lumos de nossas varinhas, ver que seus olhos cinzentos estavam inquietos e sua postura rígida. Eu não pude deixar de me perguntar que estaria o incomodando a ponto de ele deixar a máscara de indiferença dos Malfoy ceder.

Eu balancei a cabeça para afastar esses pensamentos, me concentrando em fingir que podia ignorar Draco Malfoy. Afinal, era assim que as coisas sempre foram entre nós, e não havia razão para que isso mudasse agora.

Um estrondo alto do trovão do lado de fora fez Draco estremecer levemente, mesmo que tentasse disfarçar. Seus olhos se ergueram para mim e, quando percebeu que eu tinha o visto deixar escapar seu medo, ergueu o queixo em uma tentativa vã de indiferença e me lançou um daqueles seus famosos olhares de desafio, como se dissesse que não era para mim ousar dizer qualquer coisa sobre aquilo.

Uma parte de mim queria sair daquela biblioteca e realmente ignorar Malfoy, outra parte de mim sabia o quanto era ruim sentir medo e estar sozinho.

Maldita compaixão e empatia.

Um estrondo ainda mais alto soou fazendo Draco fechar os olhos, e aquilo foi a resposta para a minha indecisão.

- Você está bem? - Perguntei calmo, totalmente diferente da forma como falei com ele minutos atrás, testando como ele reagiria a minha tentativa de conversa.

Entre tempestadesOnde histórias criam vida. Descubra agora