Capítulo 6.2

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— Lyssandra, volte! — escuto minha mãe gritar desesperada enquanto sobe o penhasco.

— Mamãe eu consigo, eu treinei muito — respondo enquanto me viro e encaro a grande tempestade na minha frente.

As bruxas do Ar, que não são muitas, estão tentando apaziguar os ventos enquanto as bruxas da Água contêm o mar de invadir a cidade. Li um livro onde uma bruxa do Frio parou uma tempestade ao transformar as nuvens de chuva em neve e então a direcionou para o oceano e acho que consigo fazer o mesmo. Eu estou treinando a 6 meses, treinei todos os dias, eu sou capaz de fazer alguma coisa. Eu posso ajudar.

Então um vento muito forte acerta eu e as outras bruxas, mas diferente de mim elas são bruxas do Ar, conseguem se firmar no chão enquanto eu perco o equilíbrio e sou arrastada para a beirada do penhasco. Tento me prender no solo com o meu dom, mas o chão está escorregadio por causa da chuva e minhas mãos não formam uma base de gelo sólida rápido o suficiente. Começo a entrar em pânico e arranho a terra com meus dedos pequenos, tento me segurar na grama e nas pedras pequenas que ainda estão fixas na terra até que de repente não há mais chão. Eu só sinto o vazio embaixo de mim.

Isso não pode estar acontecendo, eu prometi que a gente ia se encontrar...

Tudo que escuto é o grito da minha mãe antes de ser finalmente engolida pelo mar.

Me levanto de supetão. Que porra foi essa? Foi um pesadelo ou...

Eu estou voltando a me lembrar?

❄ ❄ ❄ ❄

— Agora tenta com isso aqui — Zion me mostra o esfregão.

Estou praticando levantar objetos congelados, infelizmente, Zion adorou isso e agora tudo que ele consegue carregar, ele me traz. Já levantei uma esponja, panela, prato, espada (embainhada) e um banquinho, tenho medo de que ele apareça com um canhão a qualquer momento

Ergo as mãos e me concentro no esfregão, focando em cobri-lo com gelo e quando essa parte está completa começo a erguê-lo. A sensação de erguer um objeto congelado é estranha, é como se eu estivesse movendo algo usando minhas veias em vez de dedos, sinto como se fosse uma extensão de mim que segura o esfregão congelado e a cada centímetro que ele se afasta, essa extensão fica mais fina e mais difícil de manter estável.

— Bu!

Dou um pulo e escuto Terin rindo perto de mim. Com essa distração acabo perdendo o controle e o esfregão — que estava há uns 3 metros do chão — acaba caindo bem em cima da cabeça da Cordélia.

Levo as duas mãos até a boca e penso seriamente em me atirar para fora do navio.

— Bruxa! — ela rosna enquanto vem em minha direção.

— Desculpa, foi totalmente sem querer — Falo enquanto caminho para trás até sentir a amurada atrás de mim. Um tremor de medo se espalha pela minha coluna.

— Cordélia, calma — Rique segura seu braço com firmeza — Ela está praticando, acidentes assim podem acontecer.

— Até você vai defender ela agora? — Ela se vira para ele e eu respiro aliviada sabendo que não sou mais seu foco de raiva.

— Sim, porque ela não fez nada — responde.

Olho de Rique para Cordélia e de Cordélia para Rique. O olhar que eles estão trocando não é de colegas de pirataria, é um olhar que mostra que eles já se conhecem a muito mais tempo.

— Délia — ele fala em um tom mais baixo — A Lyssandra não é igual as Irmãs.

Algo no "Irmãs" me faz imaginar que é uma palavra que começa com maiúsculo.

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora