Uma nova jornada

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Folhas murchas espalhadas no chão voavam com o vento, leves como plumas, leves como poeira, leves como se nada as prendesse das grandes árvores com pequenos flocos de neve derretidos pelo passar do tempo na vinda da primavera. Flores cresciam no solo e mostravam sua força no tempo gélido, trazendo paz aos invernos já passados em Kattegat. Já se visualizava de longe o marrom das pedras das montanhas, onde antes era somente uma camada branca e densa por milhares flocos de neve. Um tempo novo para eles, um tempo novo... para Maeve. E naquele alto, quatro lobos emergem silenciosamente da penumbra das folhagens da grama e árvores altas. Suas pelagens brilhavam à luz do sol, seus olhos amarelados com uma intensidade faminta. Movendo-se em perfeita harmonia, eles avançam em direção a um objetivo comum: a caça.

Não era possível um humano acompanhar a velocidade daquelas criaturas. A altura daqueles lobos atingiu ao seu fim limite depois de meses, sendo cada um deles terem dois metros, chegando a serem maiores que cavalos — com exceção de Fenri, o lobo negro, pois ele possua mais trinta centímetros de acréscimo em seu crescimento. Mas não era somente isso que crescia neles, e sim, sua fome. A sede de caçar, a sede da presa, a sede de carne crua — seja ela qual for. Eles eram formidáveis, grandes, belos e invejáveis. Os moradores tinham medo de verem aquelas feras circularem aos arredores da cidade, os moradores tinham ambição de ter aquelas feras em suas mãos, os moradores... Ah, por Odin. Eles nunca colocariam as mãos naquelas criaturas. Não poderiam. Nunca poderiam...

Eles corriam contra o vento no alto das montanhas, o pesar das patas no solo afundava na terra e deixando um rastro por onde passavam. Os pássaros se assustavam com aquele som, voando assustadoramente para o céu. O barulho daquelas feras em velocidade era comparado a uma manada de gado, onde um pastor as controlava — mas nada podia controlá-los, exceto Maeve e ela não estava ali, então eles faziam o que bem quisessem de acordo com o instinto, com a natureza raivosa.

Um cordeiro não era o suficiente para saciá-los, dois cordeiros não chegavam a forrar o estômago, três cordeiros poderiam até ser considerados, quatro cordeiros já estavam sendo bem saborosos. E depois viria o quinto, o sexto, sétimo, o oitavo... e parava ali. As presas não tinham donos, fugiam do pasto ou simplesmente apareciam para serem devorados. Porém, não era só isso no campo de alimentação deles. Podia ser o que fosse. Qualquer coisa...

E quando já estavam no pico da montanha, onde a neve estava quase completamente derretida e só tinha apenas o solo das pedras enormes, Hogan, o lobo vermelho, avistou um cervo e a fera parou de correr instantaneamente quando sua presa pôs os olhos nele. Por um curto momento, quase um milésimo de segundo, o cervo achou que podia fugir, que podia se salvar, que podia despistar aqueles olhos amarelados sobre ele. E quando o animal andou para trás para se safar, avistou Khol. O cinzento era mais rápido que seus irmãos, mais brutal, mais... cruel. E aquele curto passo do cervo para não ser o banquete deles foi o que lhe sentenciou a morte. Khol avançou tão rápido que a presa mal pode terminar de piscar os olhos, sentir o coração palpitar, de ver a luz do sol daquela manhã, pois seu pescoço foi completamente quebrado e esmagado por dentes afiados. Hogan, terminou de completar o ataque, puxando as pernas daquela pobre criatura com tamanha força que Khol precisou fincar mais seus dentes para ter seu pedaço no intuito de saborear.

Fenrir, o lobo negro, tinha matado um alce e comido tudo, só para ele, de uma única vez em uma parte da floresta. Dois moradores observaram por um tempo o que aquela fera estava fazendo, mas não podiam olhar muito. A criatura poderia matá-los se olhassem demais para ele. Damon, o lobo branco, estava acabando seu pequeno lanche. Não sabia dizer exatamente o que aquela fera havia matado, mas havia muito sangue no chão e em seus pêlos, passando a língua avermelhada entre os dentes e ao redor da boca até na altura do focinho.

I See Fire - Ubbe RagnarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora