Fim.

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"Vem aqui em casa, a gente precisa conversar, eu não queria ter que fazer isso, mas as coisas não andam bem. Eu nunca terminaria contigo se as coisas não tivessem chegado nesse nível, não faz mais bem para nós. Eu me odeio muito por isso, eu te amo muito, garota, por isso saiba que eu terminei te amando."

As palavras ecoavam na minha cabeça enquanto eu observava as gotas de chuva escorrem pela janela traseira do carro, enquanto o motorista dirigia para minha casa. Cada gota que caía parecia bater em uníssono com os batimentos frenéticos do meu coração, cada uma um lembrete cruel da conversa que acabara de acontecer.

Ao chegar em casa, me vi encarando as malas ainda fechadas, jogadas de qualquer jeito no canto do quarto. O silêncio no ambiente era ensurdecedor e as paredes pareciam estar sussurrando lembranças dolorosas. Cada recordação era como uma faca afiada perfurando o coração, relembrando momentos felizes agora desbotados pela tristeza da separação. A dor percorria meu corpo das mais diversas formas e eu apenas queria que aquilo não passasse de um pesadelo.

A noite foi um turbilhão de emoções, um vendaval de lágrimas e angústia que me arrastou para um sono agitado, onde pesadelos se misturavam com a dura realidade do término. Ao despertar, a dormência que tomava conta de mim deu lugar a uma dor lancinante, um peso opressivo no peito que me lembrava a cada instante do vazio deixado por sua ausência, uma alma dilacerada pela dor do adeus.

A tentação de ligar, de tentar consertar o que estava quebrado, era avassaladora, mas o medo da rejeição me mantinha imobilizada. O que restava agora era o eco das palavras não ditas, os sentimentos não expressos, que se acumulavam como uma carga insuportável sobre meus ombros.

A conversa ecoava em minha mente, cada palavra dele se repetia incessantemente, enquanto eu tentava decifrar o que deu errado, onde as coisas começaram a desmoronar. Perguntas sem resposta pairavam no ar, acrescentando um peso ainda maior ao meu coração partido. O momento em que ele pronunciou as palavras finais, o momento em que ele terminou comigo, ecoava como um mantra em minha mente, me deixando completamente atordoada e perdida em um mar de emoções.

Colins, meu ex-namorado, preferiu não cortar contato, oferecendo uma tênue esperança de que talvez, algum dia, pudéssemos encontrar uma maneira de voltar atrás, de consertar o que havíamos quebrado. Tê-lo por perto era reconfortante e angustiante, nutria a esperança, que eu sabia ser frágil, de algum dia reatarmos o sentimento que, em algum momento, se perdeu. Eu estava disposta a não desistir, mesmo após o fim, pois tinha certeza de que nossos sentimentos permaneciam inalterados, apesar do relacionamento ter acabado. Era uma ilusão satisfatória, no fundo eu sabia que não passava apenas de uma âncora que me prendia ao passado, impedindo-me de seguir em frente e encontrar a felicidade e a realização pessoal fora desse vínculo.

A rotina se tornou um fardo pesado demais para suportar: dias intermináveis passados na cama, esperando por uma mensagem específica que nunca vinha, uma voz que nunca mais seria ouvida. Cada momento era uma batalha contra a escuridão que ameaçava engolir-me por completo, um esforço desesperado para encontrar um raio de luz em meio à tempestade. Em meio ao caos, os calmantes se tornavam meus aliados nessa batalha diária e o futuro me gerava ansiedade pois a cada dia parecia mais vazio e incerto.

A constante sensação de frustração e impotência gerava uma reação agressiva, uma explosão de emoções contidas que se manifestava de formas cada vez mais destrutivas. No começo, tudo parecia um paraíso. Todo mundo o adorava e aos olhos de todos era um cara ideal sem defeitos, sempre me presenteando com presentes caros e extravagantes, porém o tempo passou e eu não consigo recordar quando as flores começaram a murchar, e tudo virou cinzas ao vento.

A ausência de Colins deixava um vazio em minha vida, uma sensação de não pertencimento que me consumia por dentro. Cada dia era uma luta para encontrar um sentido, uma razão para continuar seguindo em frente, mesmo quando tudo ao meu redor parecia desmoronar.

Sufocada pelos ciúmes excessivos e pela falta de confiança, eu me via presa em um ciclo vicioso de autodestruição. A proibição de Colins em relação às minhas amizades que o desagradavam levava ao meu isolamento social, restringindo-me e deixando-me cada vez mais solitária e desconectada, abandonando grandes amigos por uma pessoa que atribuí um valor imensurável.

Cada acusação, cada briga, era uma ferida aberta que sangrava sem cessar, uma ferida que eu mesma ajudava a perpetuar, mesmo sem perceber.

Além disso, o controle sobre meus interesses pessoais, como assistir séries sem ele, fazia-me sentir aprisionada e incapaz de expressar minha individualidade. Eu constantemente cedia às vontades dele, sacrificando minhas próprias preferências e desejos, porque o meu mundo girava ao seu entorno e por muito tempo foi visto como normal pela minha pessoa.

Ele exibia um comportamento manipulador durante brigas, alegando ter outras pessoas interessadas nele sem evidências concretas, minando minha autoconfiança e autoestima, alimentando um ciclo de insegurança e ansiedade interminável.

A relutância em confrontar esses problemas de frente apenas alimentava o fogo da destruição, levando ao inevitável colapso do relacionamento que um dia foi meu porto seguro. Eu me via perdida em meio às ruínas de um amor que um dia foi tão belo, mas que agora se desfazia diante dos meus olhos, como areia escorrendo por entre meus dedos.

Poesia do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora