- É um bairro legal, parece calmo e a casa é bonita. Não sei o que esperava dele, mas com certeza não era isso.
- Você pensou que ele morava num muquifo, né? - Emma dispara do outro lado da linha, rindo, direta como sempre.
- Quer saber, sim - admito, saindo finalmente do carro . Estava há uns vinte minutos observando a rua larga, antes de Emma ligar, as casinhas bonitas com cerca, grama aparada, árvores que em contraste com a manhã ensolarada, deixavam o lugar perfeito, se eu excluísse a parte de que a casa é do meu pai. Meu pai que desapareceu quando eu era muito pequena, me deixando com apenas uma vaga lembrança dele, que até mandava um dinheiro, mas nunca vinha me visitar . E agora estou eu na sua casa, e ele não está, na verdade está em uma viagem sem data certa para volta. Seria engraçado se não fosse trágico. Mas eu tive que rir quando li isso na sua carta em resposta ao meu pedido envergonhado de um lugar para morar . - Mas, sabe, vamos ver por dentro, talvez lá ainda possa confirmar minhas expectativas.
Emma ri. Me encosto no carro e fico observando a casa, alguns vizinhos que me lançam olhares furtivos e curiosos, e crianças que brincam um pouco distante.
- Você é terrível.
- A quem será que eu devo ter puxado, né? Será que foi a um certo genitor que deixou a filha quando ela tinha três anos e depois nunca mais quis vê - la?
- Ao menos ele mandava dinheiro para a sua mãe - Emma fala. Emma como sempre tentando olhar a coisa por um lado mais prático, mas eu que passei a vida toda me sentindo rejeitada por ele, não sei olhar para essa situação com um olhar diferente de ressentimento.
- Que nem era grande coisa, e parou de mandar assim que fiz dezoito - rebato -, coincidentemente assim que ela ...- não consigo terminar e estou soando mais afetada do que eu gostaria. Lembro da minha mãe, minha mãe que tanto lutou por nós , se dobrando em duas para me criar, para no fim, morrer de uma doença em estágio terminal, como se o universo dissesse " não, eu não vou te dar nenhum alívio nessa vida" , no seu quarto com papel de flores amarelas, na nossa casa a qual ela conseguiu com tanto esforço , mas não foi o bastante por que ela não conseguiu pagar a hipoteca, quando se é pobre nunca é o bastante, e se estou aqui agora, é mais que óbvio que infelizmente eu também não consegui.
Uma lágrima escorre do meu olho sem que eu possa evitar, eu enxugo e fungo, e torço para que Emma não tenha escutado. Faz quase dois anos que minha mãe se foi, e eu ainda não sei como lidar com isso, às vezes penso que ela vai me ligar a qualquer momento, dizer que depois do trabalho vamos assistir a uma série nova que ela encontrou. Demorou muito tempo para que eu parasse de escutar ela me chamando pela casa. E talvez eu ainda a escutasse se ainda morasse lá, mas perdi a casa porque atrasei a hipoteca. Ainda me dói lembrar, me dói muito. A casa que minha mãe conseguiu com tanto esforço... Já fazia alguns meses que eu não conseguia emprego , também estava doente demais, eu sabia que precisava descansar, e se não fizesse, não ficaria mesmo disposta para trabalhar, mas não fiz, consegui alguns trabalhos diários aqui e ali, mas o dinheiro só era suficiente para comer, e quando eu achei que não poderia piorar, descobri que estava com pneumonia. Foi quando em um momento de desespero , temendo morrer sozinha naquela casa, ou pior, na rua após ser expulsa, escrevi uma carta para James, meu pai, destinando ao endereço que tinha nas suas cartas que ele mandou ao longo dos anos, as quais dentro não continham uma palavra sequer, só dinheiro. Eu não esperava, mas a resposta veio poucos dias depois, antes mesmo do senhor Roney me dar seu ultimato, e então aqui estou.
- Maddie?- ouço Emma me chamar. Talvez ela já esteja me chamando a um tempo.
- Ah, oi , desculpa, me distraí aqui.
- Pensei que tinha visto seu pai e por isso ficou muda .
Eu rio com sarcasmo.
- Se eu tenho certeza de uma coisa é que não o verei tão cedo . Talvez eu nem o veja, talvez eu arranje um lugar para mim antes dele voltar dessa tal viagem.
- Mas imagina se...- Emma continua falando, mas minha atenção é atraída para um cachorrinho que deve ter saído de alguma casa e vem correndo na minha direção, assim que chega, cheira meus pés parecendo querer brincar. Se eu não estou enganada, ele é um yorkshire.
- Oi, amiguinho, o que você tá fazendo aqui sozinho? Um cachorrinho apareceu aqui - digo a Emma, num tom mais animado. O cachorrinho de fato me deixa animada. Ou talvez a minha vontade de esquecer tudo não me faça não perder nenhuma oportunidade de ficar animada e esquecer tudo. - espera um pouco.
Ele tem uma coleira, eu me agacho para ver seu nome e se por acaso tem seu endereço. " Oscar". "- Então você se chama Óscar" - digo ,acariciando sua cabeça. No momento seguinte, escuto uma voz chamar o mesmo nome.
- Oscar!
Quando levanto o olhar para o dono da voz, e provavelmente do cachorro, descubro se tratar de um rapaz talvez um pouco mais velho que eu, com muitas tatuagens , pele clara e cabelo curto loiro, segurando uma guia.
- É seu cachorro? - questiono, quando ele se aproxima, não deixando de tomar nota da discrepância entre eles, se ele me pedisse para adivinhar qual raça de cachorro tinha , nunca diria um cachorrinho tão pequeno. Não parece fazer seu estilo.
É inevitável para mim analisar as pessoas assim que as conheço , talvez mais para mim por que se tem algo que fiz muito na vida por ficar só enquanto minha mãe trabalhava, enquanto ela precisava sair e me deixava com alguma amiga, foi ficar quieta e observar, mas o rapaz diante de mim parece implorar por atenção mesmo sem dizer nada. Desde as tatuagens e roupas, ou a falta delas, já que ele está sem camisa e usando apenas uma calça cinza de moletom, até seu rosto bonito que enquanto vinha até mim passava de uma expressão irritada para uma... convencida?
- Sim, mas não deve tá satisfeito comigo já que ele tá procurando outra - ele diz para mim, sorrindo, um sorriso que se eu não tivesse acabado de conhecê - lo , diria ser malicioso . Ele se abaixa para encaixar a guia na coleira do seu cachorro que ainda me cheira, depois levanta, me escrutinando com os olhos, devagar, passeando pelas minhas pernas até meus olhos, da forma mais incoveniente que eu já vi. Nem um pouco discreto - Se for você, pode ser dona dos dois.
Fico um pouco sem reação, e só sou disperta da minha incredulidade pela risada de Emma do outro lado da linha.
- Quem é esse? - ela diz entre risos.
Tiro os fones dos ouvidos por onde a escutava.
- Como é que é ? - é o que consigo dizer, sarcástica.
- Justin -Seu nome soa num tom sexy, e eu acredito que ele teve a intenção de fazer isso. Ele ergue a mão para mim, ainda sorrindo, como se não tivesse acabado de jogar uma cantada barata para alguém que acabou de conhecer, como um cachorro esfomeado.
Eu olho para a sua mão e começo a ponderar sobre a melhor forma de lhe dar um fora que o deixe mais baixo que o chão, mas de repente, no meio do caminho, enquanto observo seus olhos claros como mel , os lábios rosas um pouco projetados para cima, a sobrancelha esquerda erguida de forma convencida, eu tenho uma ideia.
Sorrio de volta e aperto sua mão, olho bem nos seus olhos, e falo baixo ,num tom tão sexy e intenso quanto o seu ao dizer seu nome:
- Sua dona .
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Jogos Perigosos
FanfictionMeredith nunca teve uma vida fácil, mas ela não imaginava o quão difícil as coisas ainda poderiam ficar se mudando para a casa do seu pai, o qual está viajando , em um bairro em Los Angeles, onde conhece Justin Bieber, seu novo vizinho. A princípio...