Capítulo 09 - Acordos

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Passei a noite inteira observando a mulher misteriosa, não dormir é um hábito relativamente comum para mim, tão comum como destruidor, eu sabia, mas era algo difícil de contornar, eu gostaria de dormir mais, contudo, parece que a cada ano que pass...

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Passei a noite inteira observando a mulher misteriosa, não dormir é um hábito relativamente comum para mim, tão comum como destruidor, eu sabia, mas era algo difícil de contornar, eu gostaria de dormir mais, contudo, parece que a cada ano que passa, menos eu durmo e mais próximo me encontro de colapsar meu corpo em direção a um terno de madeira. Não sou estúpido ao ponto de me achar machão o suficiente para vencer a falta de sono, sei os danos que isso gera ao meu corpo e sinto eles cada vez mais latentes conforme envelheço.

— Bom dia! — Escuto a voz da enfermeira e assinto — preciso ministrar a medicação agora — fala em tom de pedido e me ergo da cadeira, me apoiando na parede, para que ela entenda que pode realizar o seu trabalho. Observo enquanto ela faz isso e sinto meus olhos fecharem por segundos, e quando os abro a enfermeira está do outro lado da sala, organizando as medicações do dia.

Inferno! Tive um breve apagão. Os sinais são péssimos, preciso dar um jeito de dormir, o mais breve possível, antes que isso piore. Saio da enfermaria e vou em direção ao elevador, assim que chego no meu andar noto a claridade, ando até a janela e afasto as cortinas, sendo cegado momentaneamente pelos raios de sol. Pela claridade deduzo que já são quase seis da manhã.

O dia amanheceu com um sol brilhante, nuvens claras e céu extremamente azul. Era um deboche natural com a minha pessoa, eu não conseguia ver nada disso com clareza, eu só via vermelho sangue, tamanho o ódio que sentia. O corpo de Juan estava pronto para o enterro, o enterraríamos em poucas horas, uma cerimônia para honrar o nome dele havia sido preparada por Gael, eu não queria, mas ainda sentia raiva demais para olhar na cara dele.

Saí de casa assim que Margarida chegou, o menino ainda dormia. Fui em direção ao templo que usávamos para velar os corpos dos homens que morriam em missão. Esse templo foi construído pelos meus avós maternos, um lugar de honra para os membros da Beltrán, meu pai usou em alguns momentos, mas logo abandonou a prática, contudo, para reviver os costumes da minha família materna, resolvi reavivar essa tradição.

Ando até o espaço preparado para velar o seu corpo, ainda está vazio, faltava algumas horas para o início da cerimônia e então do enterro, hoje a organização estava em luto, Juan era um homem muito respeitado, sua morte é vista com honra, visto que morreu em missão. Observo caixão fechado e isso me deixa ainda mais furioso. Abro o mesmo e a cena que vejo me embrulha o estômago. Fecho o caixão imediatamente e tento me controlar.

Ele foi escalpelado, e ainda jogado vivo dentro de um rio, o corpo está inchado devido a água, pelo que li na autópsia que fizemos, a causa da morte foi o afogamento. Ele era um ótimo nadador, mas que chance ele teria após tantos danos a sua pele? Apenas a do rosto foi mantida, mas dá para ver a carne apodrecida de seu pescoço, e sei que o restante do corpo está da mesma forma — Desgraçada — falo furioso e coloco a mão sobre o seu caixão antes de me despedir dele.

— Você sempre foi um amigo leal, alguém que eu podia confiar, não importavam as circunstâncias, desde o início da nossa adolescência até aqui, eu tive a sorte de ter tido você em minha vida. Nenhuma palavra que eu venha a dizer vai poder expressar o quanto a sua existência foi imensurável para que eu mantivesse a minha sanidade. Com todas as loucuras que eu era obrigado a lidar, ter alguém para conversar sobre as garotas, ou então sobre esportes, ou qualquer que fosse o assunto que me trouxesse alguma normalidade me fez não sucumbir, e não foram poucas as vezes que eu estive prestes a explodir. Vou fazer o possível para conseguir me manter firme sem o equilíbrio que você me proporcionava. Quero que se vá sabendo que você foi essencial para que eu pudesse hoje estar onde estou, e sempre serei grato por me escolher para ser seu amigo. Estarei todos os anos fazendo oferendas em seu nome, para honrar a sua existência, não fique preocupado, cuidarei de suas irmãs por você, assim como você sempre prometeu que cuidaria do meu se eu faltasse. Você concluiu sua última missão, e eu honrarei isso, a farei pagar, não posso matá-la, de toda forma a morte é um alívio, existem outras coisas que posso fazer para que ela se arrependa, e acredite, eu farei. Vá em paz, que eu entrarei em quantas guerras forem necessárias até que você seja vingado.

O Carniceiro (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora