Cap-5

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— Poppymin? — disse Rune. Era como ele me chamava. Significava "minha Poppy" em norueguês. Eu adorava quando ele falava norueguês comigo. — Poppymin, não chore — ele sussurrou.
Mas eu não conseguia evitar. Eu não queria que minha vovó me deixasse, mesmo sabendo que ela precisava ir. Eu sabia que, quando voltasse para casa, vovó não estaria mais lá: nem agora, nem nunca.
Rune sentou ao meu lado e me puxou para um abraço. Eu me aconcheguei no peito dele e chorei. Eu amava os abraços de Rune, ele sempre me apertava tão forte.
— Minha vovó, Rune, ela está doente e indo embora.
— Eu sei, minha mãe me contou quando voltei da escola.
Concordei com a cabeça, ainda encostada no peito dele. Quando eu já não conseguia mais chorar, me sentei, enxugando o rosto. Olhei para Rune, que estava me observando. Tentei sorrir. Assim que consegui, ele pegou minha mão e a levou ao peito.
— Sinto muito que esteja triste — disse Rune, apertando minha mão. A camiseta dele estava morna do sol. — Não quero que você fique triste, nunca. Você é Poppymin; você sempre sorri. Você está sempre feliz.
Funguei e apoiei a cabeça no ombro dele.
— Eu sei. Mas vovó é minha melhor amiga, Rune, e eu não a terei mais.
Rune não falou nada no começo, depois disse:
— Eu também sou seu melhor amigo. E não vou a lugar algum. Eu prometo. Sempre e sempre.
Meu peito, que estava doendo muito, de repente não doía mais tanto. Concordei com a cabeça.
— Poppy e Rune até o infinito — eu disse.
— Até o infinito — ele repetiu.
Ficamos quietos por um tempo, até que Rune perguntou:
— Para que serve esse pote? O que tem dentro?
Puxando minha mão de volta, peguei o pote e o levantei no ar.
— Minha vovó me deu uma nova aventura. Uma que vai durar minha vida inteira.
As sobrancelhas de Rune se moveram para baixo e seu longo cabelo loiro

caiu sobre os olhos. Baixei o pote, e Rune deu aquele seu meio sorriso. Todas as meninas da escola queriam que ele sorrisse daquele jeito para elas – elas me disseram. Mas ele sorria assim apenas para mim. Eu disse que nenhuma delas poderia ficar com ele, de nenhum jeito, pois ele era meu melhor amigo e eu não queria dividi-lo com ninguém.
Rune apontou para o pote.
— Eu não estou entendendo.
— Você lembra quais são as memórias favoritas da minha vovó? Eu já te contei.
Eu podia ver Rune pensando intensamente, então ele disse:
— Beijos do seu vovô?
Assenti com a cabeça e puxei uma pétala rosa-claro de flor de cerejeira do galho que pendia ao meu lado. Observei a pétala. Elas eram as favoritas da minha vovó. Ela gostava delas porque não duravam muito. Ela me falou que as melhores coisas, as mais bonitas, nunca permanecem por muito tempo. Ela disse que uma flor de cerejeira era bonita demais para durar o ano todo. Era mais especial porque sua vida era curta. Como o samurai: beleza extrema, morte rápida. Eu ainda não tinha muita certeza do que isso significava, mas ela disse que eu entenderia melhor à medida que ficasse mais velha.
E acho que ela estava certa. Porque minha avó não era tão velha e estava indo embora jovem – pelo menos foi o que papai disse. Talvez fosse por isso que ela gostava tanto das flores de cerejeira. Porque era igual a elas.
— Poppymin?
A voz de Rune me fez olhar para cima.
— Estou certo? Beijar seu avô eram as lembranças favoritas de sua vovó?
— Sim — respondi, deixando a pétala cair —, todos os beijos que ganhou que fizeram o coração dela quase explodir. Vovó disse que os beijos dele eram as melhores coisas do mundo. Porque significavam que ele a amava, que se importava com ela. E ele gostava dela exatamente por quem ela era.
Rune fitou o pote e bufou.
— Ainda não estou entendendo, Poppymin.
Eu ri, e ele fez um bico e uma careta. Ele tinha belos lábios; eram bem grossos, com um arco perfeito. Abri o pote e puxei um coração de papel cor-de- rosa sem nada escrito. Eu o segurei no ar, entre mim e Rune.
— Isto é um beijo vazio. — Então apontei para o pote e continuei: — Vovó me deu mil deles para colecionar na minha vida. — Coloquei o coração de volta no pote, peguei a mão dele e disse: — Uma nova aventura, Rune. Colecionar mil

beijos de garoto antes de morrer... beijos da minha alma gêmea.
— O quê, Poppy? Estou confuso — disse ele, mas eu podia ouvir a raiva em sua voz. Rune podia ser bem genioso quando queria.
Eu puxei a caneta do bolso.
— Quando o garoto que eu amo me beijar, quando for tão especial que meu coração poderia quase explodir... apenas os beijos muito especiais... eu tenho que escrever os detalhes em um desses corações. É para quando eu ficar velha e grisalha e quiser contar para meus netinhos tudo sobre os beijos realmente especiais da minha vida. E sobre o garoto doce que me beijou. — Eu me levantei, sentindo a empolgação dentro de mim. — É o que vovó queria para mim, Rune. Então tenho que começar logo! Quero fazer isso por ela.
Rune também ficou de pé. Justamente nesse momento uma rajada de vento soprou pétalas de flor de cerejeira bem onde estávamos, e eu sorri. Mas Rune não estava sorrindo. Na verdade, ele parecia furioso.
— Você vai beijar um garoto, para o seu pote? Um garoto especial? Que você ama? — ele perguntou.
Assenti.
— Mil beijos, Rune! Mil!
Rune balançou a cabeça e fez bico de novo.
— NÃO! — ele rosnou.
O sorriso sumiu do meu rosto.
— O quê? — perguntei.
Rune se aproximou, balançando a cabeça mais forte.
— Não! Eu não quero você beijando um garoto para o seu pote! Eu não vou deixar!
— Mas... — tentei falar, mas Rune tomou minha mão.
— Você é minha melhor amiga — ele disse e estufou o peito, puxando minha mão. — Eu não quero você beijando garotos!
— Mas eu tenho que beijar — expliquei, mostrando o pote. — Eu tenho que beijar para a minha aventura. Mil beijos é muita coisa, Rune. Muita coisa! Você ainda seria meu melhor amigo. Ninguém jamais será tão importante para mim, seu bobo.
Ele olhou intensamente para mim, depois para o pote. Meu peito doeu de novo. Pelo olhar em seu rosto, eu via que ele não estava feliz. Ele tinha ficado mal-humorado de novo.


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Mil beijos de garoto Onde histórias criam vida. Descubra agora