Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida...

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- Não faça isso com ela! - Ele ficou na minha frente, tentando me defender do meu pai.

   - O que você pensa que está fazendo, seu moleque?! Ela é minha filha e eu faço o que eu bem entender com ela!!!

   - Eu vi tudo o que aconteceu!!! Ela não teve culpa de nada!! Um babac…Um cara mais velho mexeu com ela e ela apenas se defendeu! Não tem nada de errado nisso!

   - Ah! Dá licença, moleque!!! - A fera imbatível tentou empurrar o meu herói, mas ele deu um empurrão tão forte que o cachorro bravo quase caiu no asfalto.

   - Você não vai encostar mais um dedo nela senão a polícia e o conselho tutelar vai bater daqui a pouquinho na sua casa. 

   

   Enquanto o pau comia, eu só ficava assistindo a treta, torcendo para o garoto boa pinta ganhar. Eu não posso negar que ele era muito lindo! Um dos meninos mais bonitos que eu já vi em toda minha vida. Sem querer, me apaixonei né, fazer o quê?

   - Olha moleque, você já tirou muito minha paciência hoje. Só não solo sua cara no asfalto também porque sou um homem direito e não brigo com neguin favelado igual você. Volta pra boca onde você trabalha e larga minha filha.

   - Pro senhor ficar sabendo, eu tenho muito orgulho de onde nasci e da criação que a minha mãe me deu. Ela me ensinou a ter respeito com todos, até com os que duvidam de mim pela minha cor e por onde eu moro, então eu me recuso a me exaltar com o senhor aqui agora porque eu tenho respeito à sua filha e à minha escola.

   

   Uau. Que Caetano Veloso, que nada! Esse garoto era meu novo ídolo!! Mesmo não conseguindo ver o rosto dele, já que estava de costas pra mim, eu já imaginava as várias fotos que eu teria dele no meu quarto, estampadas na minha parede. 

   Meu pai tinha até ficado em silêncio depois desse discurso lindo que ele fez. O véio não tava acostumado com alguém batendo de frente com ele, já que ele sempre esteve na posição de machão da história, que ninguém consegue combater, e agora um menino de 14 anos estava dando lição de moral nele, e pior, mandando ele fazer algo e ele tendo que obedecer! Esse menino era incrível!

   - Levanta daí, Cássia. Vamos pra casa. - Meu pai encarou o menino com tanto ódio que até eu sairia correndo se fosse comigo, mas ele se manteve firme e forte, encarando de volta. 

   - Nunca mais ouse levantar um dedo para sua filha. - Depois, o menino misterioso se dirigiu a mim. - E se ele fizer qualquer coisa, pode me procurar. Sou da sala vizinha da sua.

   O meu pai pegou no meu braço e me forçou a ir embora com ele. Eu não queria ir pra casa, queria ficar ali e conhecer um pouco mais daquele menino lindo que tinha me defendido e iria me proteger. A pele dele era tão escura que brilhava no sol, os olhos pareciam duas jabuticabas fresquinhas, prontinhas para comer do pé. Ele era perfeito. Talvez por me lembrar um pouco o Luiz Melodia, a paixão veio mais facilmente.

   - Olha pra frente. Agora.

   Eu nem tinha percebido que eu ainda estava olhando para ele fixamente por de trás dos meus ombros. O amor era assim mesmo às vezes: você nem percebe que faz certas coisas até alguém te dar um toque e falar “ei, para que você tá esquisito”.

   Infelizmente, tive que andar até em casa toda estrupiada e todo mundo na rua me encarando e provavelmente pensando que eu era uma “marginalzinha”. Mas eu nem ligava. Só conseguia pensar no menino de olhos amendoados perfeitos que tinha me salvado. 

   Quando entramos no elevador do prédio, meu pai agarrou meu braço, encarou nos meus olhos e disse sem mexer muito os lábios:

Um anjo caído: a história de Cássia Eller - volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora