- Ui, se vens a sair do escritório do chefe com essa cara é porque alguma coisa não está bem... - Tânia comenta, ao ver-me aproximar da minha secretária – O que é que aconteceu?
- O meu projeto foi reprovado, por completo. Fiz tudo o que o cliente pediu, a cumprir obviamente com toda a legislação e tudo o que tem de ser feito, e ele rejeitou. E agora tenho de fazer tudo novamente, com todas as alterações que ele se lembrou que afinal quer fazer, incluindo coisas que depois vão ser reprovadas a nível burocrático. – esclareço, furiosa – Isto demorou-me duas semanas a estar completamente feito, com licenças e tudo pronto! Agora, é deitar tudo ao lixo e começar do zero.
- Essas pessoas não têm a mínima consideração pelo nosso trabalho. – a minha amiga observa, num tom de desdém – Se soubessem o trabalho que estas coisas dão, não faziam essas coisas.
- Estou fula! – grunho.
- E com todas as razões. – ela concorda – Está quase na hora de ir embora... Se fosse a ti, não fazia era mais nada hoje.
- Não posso ir embora mais cedo quando o boss está cá. – declaro, apontando com a cabeça na direção do escritório do patrão.
- Verdade, mas também não precisas de adiantar trabalho. Falta meia hora para o teu horário de saída. Procrastina um bocado. – ela aconselha-me e eu sorrio – A sério, não te estejas a matar agora. Respira fundo. Amanhã é um novo dia.
- Acho que tens razão. – suspiro – Vou aproveitar para limpar a caixa dos e-mails. – gargalho.
Resolvo mesmo seguir o conselho da Tânia e não voltar a pegar nos projetos até à minha hora de saída, até porque não estou minimamente focada para isso. Há poucas coisas que me tiram verdadeiramente do sério, mas sentir que o meu trabalho é desvalorizado e desrespeitado é uma dessas coisas. Sinto-me mesmo com um humor de cão, por isso foco-me só na simples tarefa de apagar os e-mails antigos e de alocar os e-mails atuais às pastas corretas – o que se revela uma tarefa estranhamente apaziguante.
Quando termino, ainda faltam cinco minutos para o meu horário de saída, por isso fico só a fazer scroll nos sites de notícias e a atualizar-me. Sou surpreendida pela notícia da oficialização do empréstimo do Rúben ao Benfica, embora a justificação do mesmo tenha sido obviamente um pouco deturpada da forma mais conveniente para o Manchester City. Leio alguns dos comentários dos adeptos – alguns de felicidade por verem o "bom filho" retornar a casa, outros insatisfeitos com a decisão do City por acharem injusto o que estão a fazer com o Rúben. Por momentos, penso mandar-lhe mensagem a dizer alguma coisa, mas rapidamente paro esses pensamentos. Primeiro, nem se quer tenho o número dele e não vou simplesmente mandar-lhe uma mensagem pelo Instagram, que iria cair certamente numa caixa com centenas de mensagens por ler. Segundo, não nos voltámos a cruzar, então acho que seria simplesmente estranho. Não faz sentido. Foi só um pensamento irrefletido. Eu e o Rúben não somos amigos.
- Hey, já são 18h. Vamos embora? – pergunta-me a Tânia e eu assinto, arrumando prontamente as minhas coisas.
Como o Gonçalo hoje teve uma reunião no terreno, para ver uma obra, saio com Tânia e decidimos ir beber um café numa esplanada perto do nosso local de trabalho, para espairecer um pouco.
- Como vão as coisas com o Dinis? – a minha colega de trabalho e amiga questiona-me, com um sorriso sugestivo que me faz revirar-lhe os olhos.
- Pareces a minha irmã, sempre armada em casamenteira. – observo, recebendo uma gargalhada da sua parte – A nossa amizade vai bem. – friso a palavra amizade – Ele está fora esta semana, de férias. Temos trocado algumas mensagens e assim, nada de especial.
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Pontos Nos Is | Rúben Dias
Romance«Hoje é o dia de a agarrar Pra ficar com quem eu sempre quis E se a voz nervosa não falhar Talvez vá ser feliz!»