1° dia de um mês e dezesseis dias.
7:00 horas da manhã.
E um galo endemoniado não parava de cantar, estava assim dês das 5:00.
Dormiu incrivelmente mal... seu sono era leve, qualquer mísero barulho o despertava e essa casa rangia como se tivesse vida. Era um lugar entranho, uma cama estranha, com cobertores e travesseiros estranhos.
Queria sua casa de volta. Sua cama, seus travesseiros e suas pelúcias.
Já Giovanni, dormia todo aberto na cama. Um pedaço da colcha no chão, cabelos bagunçados, boca aberta, roncando como se nunca tivesse dormido tão bem quanto naquele momento. Olhar para ele era motivo de raiva profunda.
Aquela hora da manhã e já estava arrumado, calça jeans, tênis de cano e uma blusa de abotoar branca alguns tamanhos maiores. Usava uma maquiagem leve, para tampar as olheiras e realçar sua beleza natural. Estava estiloso, mas não do jeito que queria, sentia falta de seus saltos de luxo e vestidos de marca.
— Bora Giovanni, acorda porra!
— To acordado... — Ele disse, tampando os olhos, cobrindo-se por completo com a colcha.
— Levanta! — Mandou e dessa vez sendo mais incisivo.
Ele se levantou de olhos fechados e cara amassada. Parecia um zumbi se arrastando para dentro do banheiro, fazendo um barulho estranho, como um resmungo.
Quando finalmente saiu, estava arrumado. Suas roupas eram iguais, a única diferença era a blusa, mangas curtas e rosa, com um ursinho carinhoso na frente.
— Blusa branca?
— Põe qual então? — Giovanni entrou no closet e saiu, arremessando o que tinha nas mãos em seu rosto. — Cropped?
— Claro! Aqui é um calor do caralho e você tem uma cintura belíssima, tem que mostrar. Nada de esconder.
O tecido ia a cima do umbigo. Era azul claro, com uma estampa de arco-íris e em letras brancas, "Rainbow".
— Tô me sentindo ridículo! — Pôs as mãos na frente da barriga, olhando-se no espelho. — Me deixa tirar isso! — Virou-se para o amigo, formando um beicinho nos lábios.
— Não! Para com isso! Você não tá ridículo! Se eu fosse o Idris era dentro!
— Que isso? Hétero top agora?
— Vapo! — Ele gesticulou um "X" com os braços os abrindo rápido. Seu ombro foi socado e o tornozelo chutado. — Pra que isso?
— Para com isso! Ainda vão pensar que você gosta de mim! — Resmungou, pondo a cabeça para fora do quarto.
Portas fechadas e toda a casa em silêncio. Isso foi um grande incentivo de coragem.
Desceu as escadas devagar, evitando fazer barulho. Sentia que se Idris o olhasse daquele jeito, logo de manhã poderia enfiar a cabeça na terra.
— Aí bee, toma teu óculos e eu fiz uma bolsinha de remédio, por que você tem alergia a tudo né? Então, tá aqui nessa bolsona que você jura que é estilosa, mas parece mais uma bolsa de feira. Tem certeza que isso custou aquele valor mesmo? Se eu for no centro, eu acho várias dessa por vinte e cinco.
Não existia silêncio com Giovanni Pigozi.
— Você fala pra caralho, né? — Ele estalou a língua no céu da boca, o olhando de cima a baixo, enquanto colocava as mãos na cintura. — Como consegue falar tudo ao mesmo tempo? E ainda reclamar da MINHA bolsa? Você não tem que gostar da MINHA bolsa, por que ela é MINHA.
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Le Parfum.
Literatura FemininaEm 1995, Idris Vaughn era único, inalcançável, inacessível e impossível. Reinava como uma estrela solitária no universo da moda. Era uma figura magnética, quase mítica, com olhos verdes tão profundos que pareciam um abismo inexplorado. Sua altura...