II - Caçadora de Comida Diabólica

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"Enquanto você dorme em uma serenidade terrestre
A carne de alguém está apodrecendo nesta noite
Como ninguém para você
O que você fez nunca poderá ser desfeito."

Witch Image - Ghost

Não era do feitio de Ayla se atrasar, principalmente nas segundas feiras, mas sua vida de "caçadora de comida diabólica" exigia que em algumas madrugadas ela passasse bem longe do travesseiro

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Não era do feitio de Ayla se atrasar, principalmente nas segundas feiras, mas sua vida de "caçadora de comida diabólica" exigia que em algumas madrugadas ela passasse bem longe do travesseiro.

A relação entre ela e Lúcifer era tranquila, pelo menos ela a considerava assim, podia dizer que eram bons amigos.

Estava escuro ainda quando Ayla pegou o ônibus em direção ao outro lado da cidade onde a faculdade ficava. No começo, a garota achava chato ter que se deslocar tanto para a universidade. Mas aprendeu a apreciar o conforto de alguns minutos no ônibus, era triste ver seus colegas que vinham de outras cidades gastarem horas viajando.

Ayla sempre quis morar em uma grande metrópole, mas agora, tendo de participar da maioria das coletas de Lúcifer, estar em uma cidade pequena era vantajoso para se passar despercebido e facilitava muito as coisas na questão da polícia não ser exatamente competente. Ela não gosta de admitir isso para si mesma porque sua mãe é delegada e comanda a maioria das investigações.

Ano passado os dois mataram cerca de quatro pessoas, uma delas Lúcifer tentou uma nova técnica: incriminar alguém. E funcionou. Agora a pacata cidade de cinquenta mil habitantes contava com dois homicídios sem solução, um homem inocente preso e mais um jovem que "se suicidou".

Por muito tempo Ayla ponderou se era realmente isso que ela queria: atrair vítimas para a morte, se livrar do corpo delas e depois ver a mãe ficar acordada até a madrugada na tentativa de resolver os casos que Ayla poderia descrever com todos os detalhes de como aconteceram e quem os causou.

Mas no fim, chegou a uma conclusão sólida: valia a pena. Não só pelos bens materiais como roupas, eletrônicos, dinheiro, mas também porque ela podia andar pela rua à noite totalmente despreocupada ou até mesmo se pôr na frente da bala de uma arma que Lúcifer daria algum jeito de a salvar. E além disso, encontrava conforto emocional no demônio muitas das vezes.

E essa sensação de poder tudo e não sofrer nenhuma consequência era, de uma forma tão inexplicável quanto Lúcifer, maravilhosa.

Ayla não era burra, e por não ser assim ela sabia que não podia simplesmente aparecer com um MacBook de trinta mil reais sendo desempregada. Por esse motivo, inclusive, ela queria um emprego para poder explicar à mãe de onde vêm seus produtos caros.

— "Eu gostaria tanto de morar num apartamento desse tipo."

Ela gesticulou em libras enquanto observava pela janela do ônibus a imagem do apartamento luxuoso se afastar. A ideia de ter uma sacada cheia de plantinhas e uma banheira gigante num banheiro enorme era muito sedutora e alcançável.

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