Onde Está a Estrela?

Capítulo 2 - Fugindo de sua Própria Imagem.

Eram quase três da manhã. Nicholas andava vagarosamente nos corredores de seu prédio, ele havia retornado para casa, estava exausto. A cada passo que dava, as luzes automáticas acendiam, iluminando a passagem.

Antúrio residia em um prédio de luxo um pouco afastado do centro da cidade, poucas pessoas moravam nele, entretanto, o pouco que existia lá já era o suficiente para irritar e tirar a paciência da Estrela.

Até porque, ele geralmente fazia barulhos até altas horas, logo, isso gerava reclamações e multas para ele.
Mas isso não era o pior, o pior era que, no andar de baixo, moravam irmãs gêmeas (Carolina e Catarina), cujas idades eram iguais a de Nicholas. E elas ficavam em cima dele o tempo todo.
No começo ele gostava, tinha toda atenção das garotas a sua disposição, se sentia um homem desejado, mas esse sentimento mudou ultimamente.
As irmãs se vestiam com roupas exageradamente curtas e decotadas todos os dias. Ambas desejavam a Estrela e imploravam por atenção, Martim uma vez lhe disse para pegá-las logo, mas, por incrível que pareça, Nicholas não se sente mais tão atraído por meninas desse jeito, ou talvez só esteja triste demais para pensar nisso.
Uma vez, ele recorda que foi a uma balada noturna, com diversas bebidas e drogas à disposição... ele estava bêbado, obviamente... então, entre suas vagas lembranças, ele consegue recordar estar beijando uma daquelas garotas... talvez Catarina...mas não tem certeza... até porque ela nunca comentou sobre isso com ele. Se foi sonho ou realidade, ele nunca descobriria... ele acha que nem ela sabia quem estava beijando, aquele lugar estava tão escuro e ele estava tão drogado...
Ao destrancar a porta de seu apartamento, olhou profundamente para seu Interior. Tudo estava escuro, vazio. Ninguém o esperava, nunca esperou... nem um cachorrinho. Nada.
Ele acendeu as luzes e, por fim, trancou-a novamente.
Jogou sua mochila e toda sua roupa no chão.

Foi tomar banho.

A água quente descendo por seus cabelos e costas, lavando tudo... o mal, a ansiedade, a incapacidade... levava tudo para o ralo... ou talvez só em sua imaginação.
O barulho da água corrente acalmava-o de novo, ele respirava fundo e sentia -se, de fato, em casa.
Ao sair do banho, que deixou-o agradavelmente perfumado, ele se secou e colocou um pijama bem quente, por causa do frio que fazia.
Deitou na cama, mas, antes de dormir, pegou seu celular e olhou as notícias. Já haviam diversos vídeos dele correndo do palco, jogando a guitarra no chão e, principalmente, chorando na coxia.
Ele não queria ser exposto dessa maneira, queria apenas tentar esquecer o que aconteceu naquele dia. Quem sabe fosse mais fácil quando não era famoso; ele ainda recordava uma vez na escola quando havia tropeçado e rolado escada a baixo um andar inteiro, todos riram dele, mas ele era criança...iria esquecer... seus colegas certamente esqueceram, ele não; entretanto, os amigos que eram importantes. Agora, com vídeos eternizando tudo que ele fazia era um pouco difícil fazer com que as pessoas esqueçam, até porque são milhares.
Ele desligou o celular, jogou-o ao lado da cama e deitou.
"Eu não tenho privacidade" -pensava - "É como se eu não tivesse nem a chance de esquecer para recomeçar"
O tremor em suas mãos voltou, de forma mais leve. Ele respirou fundo.
"Não posso pensar nisso" -murmurou ele
E então, antes de dormir, levantou para ir ao banheiro e, novamente, ligou a torneira.

...

No dia seguinte, Nicholas acordou tarde, bem tarde. O sol vespertino transpassava por sua janela e atingiu seu rosto durante toda manhã, mas seu sono era tão profundo que nem se incomodou com a luz.
Logo, a Estrela despertou. Sentou na cama e pegou seu celular. Haviam diversas ligações perdidas de seus diretores e de Martim, ele nem quis responder nenhuma.
Antúrio levantou da cama vagarosamente e andou até sua cozinha. Ele precisava comer algo, estava com muita fome. Entretanto, não havia nada pronto.
Nicholas não queria cozinhar, ele apoiou suas mãos na mesa da cozinha e respirou fundo. Seu corpo inteiro doía profundamente, toda vez que ficava muito nervoso em um show, seu corpo sofria. Estava todo dolorido e sem vontade nenhuma de preparar alguma comida.
Ele então, abriu a geladeira e pegou três garrafas de cerveja de uma vez... E começou a tomá-las.