Cap-10

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— Ela é nada, Poppymin — eu a tranquilizei. — Nada.
Poppy se aninhou contra o meu peito e viramos para a direita, na direção de nossos amigos. Quanto mais nos aproximávamos, mais eu apertava Poppy. Avery se endireitou quando nos aproximamos.
Eu me voltei para Poppy e repeti:
— Nada.
Poppy apertou minha camiseta, querendo me dizer que ela tinha escutado. Sua melhor amiga, Jorie, ficou de pé.
— Poppy! — Jorie gritou, empolgada, vindo abraçá-la.
Eu gostava de Jorie. Ela era avoada e não pensava muito antes de falar, mas ela amava Poppy e Poppy a amava. Era uma das únicas pessoas nesta cidadezinha que achava a excentricidade de Poppy cativante, e não apenas esquisita.
— Como vocês estão, meus queridos? — Jorie perguntou e deu um passo para trás. Ela olhou para o vestido preto de Poppy. — Você está linda! Tão fofa!
Poppy curvou a cabeça em agradecimento. Segurei-lhe a mão de novo e a guiei em torno da pequena fogueira. Eu me sentei, com as costas apoiadas em um banco de madeira, e puxei Poppy, para que ela se acomodasse entre minhas pernas. Poppy me deu um sorriso e se sentou comigo, colocando as costas contra o meu peito e encaixando a cabeça em meu pescoço.
— Então, Pops, como foi? — Judson, meu amigo mais próximo, perguntou do outro lado da fogueira. Deacon, que também era meu amigo, estava sentado ao lado dele. Ele levantou o queixo em um cumprimento, e sua namorada, Ruby, deu um pequeno aceno para nós.
Poppy encolheu os ombros.
— Bom, acho.
Enquanto envolvia o peito dela com os braços, apertando-a forte, olhei para meu amigo moreno e completei:
— Foi a estrela da apresentação. Como sempre.
— É só violoncelo, Rune. Nada especial — Poppy argumentou delicadamente.
Balancei a cabeça em protesto e disse:
— A plateia veio abaixo.
Flagrei Jorie sorrindo para mim. Também flagrei Avery revirando os olhos

com desdém. Poppy ignorou Avery e começou a falar com Jorie sobre as aulas.
— Pops, juro que o sr. Miller é um alienígena do mal. Ou um demônio. Droga, ele é de algum lugar fora do que conhecemos. Foi trazido pelo diretor para nos torturar, jovens terráqueos fracos, com aulas de álgebra difíceis demais. É assim que ele consegue sua força vital. Tenho certeza. E acho que ele está de olho em mim... Porque sei que ele é um extraterrestre! Aquele cara fica me olhando feio!
— Jorie! — Poppy riu, e riu tanto que chacoalhou o corpo todo. Sorri pela alegria dela e então parei de prestar atenção. Eu traçava preguiçosamente desenhos no braço de Poppy, querendo apenas ir embora. Eu não tinha nada contra ficar com nossos amigos, mas preferia ficar sozinho com ela. Era a companhia dela que eu desejava; onde quer que estivéssemos juntos, era sempre o melhor lugar.
Poppy riu de outra coisa que Jorie havia dito. Seu riso foi tão intenso que ela derrubou para o lado a câmera que estava no meu pescoço. Poppy me deu um sorriso de desculpas. Eu me curvei para a frente, puxei seu queixo com o dedo e a beijei nos lábios. Era para ser algo rápido e suave, mas, quando a mão de Poppy se enroscou nos meus cabelos, me puxando para bem perto, tornou-se algo mais. Enquanto Poppy abria os lábios, empurrei minha língua de encontro à dela, perdendo o fôlego.
Os dedos de Poppy envolveram meus cabelos. Coloquei as mãos em seu rosto para prolongar o beijo o máximo possível. Se eu não precisasse respirar, imaginei, jamais precisaria parar de beijá-la.
Perdidos no beijo, só nos largamos quando alguém limpou a garganta do outro lado da fogueira. Levantei a cabeça e vi Judson dando um risinho. Quando olhei para Poppy, seu rosto estava em chamas. Nossos amigos esconderam o riso, e apertei Poppy mais forte. Eu não ficava envergonhado por beijar minha garota.
A conversa recomeçou, e examinei a câmera para ver se estava tudo bem. Minha mamma e meu pappa a tinham comprado no meu aniversário de treze anos, quando perceberam que a fotografia estava se tornando uma paixão. Era uma Canon dos anos 1960. Eu a levava comigo para todos os lugares e tirava milhares de fotos. Não sei bem por quê, mas capturar momentos me fascinava. Talvez porque às vezes tudo que temos são momentos. Porque não há repetições; o que acontece em um momento define a vida – talvez seja a vida. Capturar um momento em filme o mantém vivo para sempre. Para mim, fotografia era algo mágico.
Rolei mentalmente o filme da câmera. Fotos da natureza e closes de flores de cerejeira do bosque ocupavam a maior parte do filme. Aí viriam as fotos de Poppy naquela noite. Seu rosto lindo no momento em que a música tomava o

controle. Eu tinha visto aquele olhar no rosto dela apenas uma outra vez – quando ela olhava para mim. Para Poppy, eu era tão especial quanto a música.
Nos dois casos havia uma ligação que ninguém poderia quebrar.
Levantei o celular com as lentes da câmera viradas em nossa direção. Poppy não estava mais participando da conversa. Ela silenciosamente corria a ponta dos dedos ao longo do meu braço. Pegando-a desprevenida, tirei a foto, assim que ela olhou para mim. Soltei apenas uma risada quando ela apertou os olhos, irritada. Eu sabia que não estava brava, apesar de seus esforços para passar essa impressão. Poppy amava qualquer foto que eu tirasse da gente, mesmo quando ela menos esperava.
Quando me concentrei no celular, meu coração começou a bater forte. Na foto, ao olhar para mim, Poppy estava linda. Mas era a expressão no rosto dela que tinha me surpreendido. O olhar em seus olhos verdes.
Naquele momento, naquele simples momento capturado, havia aquela expressão. A que ela me dava tão prontamente quanto dava à sua música. A que me dizia que eu era dela da mesma maneira que ela era minha. A que tinha garantido que passássemos todos aqueles anos juntos. A que dizia que, mesmo sendo jovens, tínhamos encontrado um no outro nossa alma gêmea.
— Posso ver?
A voz baixa de Poppy tirou minha atenção da tela. Ela sorriu para mim e baixei o celular para mostrar a ela.
Observei Poppy, não a foto, enquanto seu olhar se voltou para a tela. Observei seus olhos se abrandarem e o sopro de um sorriso se esboçar em seus lábios.
— Rune — ela sussurrou, enquanto buscava minha mão livre. Eu apertei sua mão, e ela disse: — Eu quero uma cópia desta. É perfeita. — Assenti e beijei a sua cabeça.
É por isso que eu amo fotografia, pensei. Pode despertar emoções, emoções brutas, de uma fração de segundo no tempo.
Ao desligar a câmera do celular, vi o horário na tela.
— Poppymin? — eu disse baixinho. — Temos de ir para casa. Está ficando tarde.
Poppy assentiu com a cabeça. Fiquei de pé e a puxei para cima. — Vocês estão indo? — perguntou Judson.
Assenti.
— Estamos. Vejo vocês na segunda.

Acenei para todos e peguei a mão de Poppy. Não falamos muito no caminho para casa. Quando paramos na porta da casa dela, eu a peguei nos braços e a puxei para o meu peito. Coloquei minha mão no lado de seu pescoço. Poppy olhou para cima.
— Tenho tanto orgulho de você, Poppymin. Tenho certeza de que vai entrar na Julliard. Seu sonho de tocar no Carnegie Hall vai se tornar realidade.
Poppy deu um sorriso vivo e puxou a alça da câmera em torno do meu pescoço.
— E você vai para a Escola de Artes Tisch, na Universidade de Nova York. Estaremos juntos em Nova York, como sempre foi para ser. Como sempre planejamos.
Concordei com a cabeça e rocei meus lábios em sua bochecha.
— E então não haverá mais hora de voltar para casa — sussurrei de modo provocante. Poppy riu. Movi os lábios em direção à sua boca, beijei-a suavemente e me afastei.
No momento em que eu soltava as mãos dela, o sr. Litchfield abriu a porta. Ele viu eu me afastar de sua filha e balançou a cabeça, rindo. Ele sabia exatamente o que estávamos fazendo.
— Boa noite, Rune — ele disse, secamente.
— Boa noite, sr. Litchfield — respondi, vendo Poppy corar enquanto seu pai fazia um gesto para que ela entrasse.
Cruzei o gramado até minha casa. Abri a porta, entrei na sala e vi meus pais sentados no sofá. Ambos estavam com o corpo inclinado para a frente e pareciam tensos.
— Hei — eu disse, e minha mãe levantou a cabeça. — Hei, querido — ela respondeu.
Franzi a testa.
— O que há de errado?
Minha mamma lançou um olhar para meu pappa e balançou a cabeça.
— Nada, querido. A Poppy tocou bem? Sinto muito por termos perdido.
Encarei meus pais. Eles estavam escondendo algo, eu sabia. Quando eles não continuaram a conversa, assenti devagar com a cabeça, respondendo à pergunta deles:
— Ela foi perfeita, como sempre.
Pensei ter visto lágrimas nos olhos de minha mãe, mas ela piscou

rapidamente, livrando-se delas. Precisando escapar do embaraço, mostrei minha câmera.

*gnt desculpa pela demora!!*

Mil beijos de garoto Onde histórias criam vida. Descubra agora