IV - Pé de Valsa

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"Deus é gaúcho
De espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil"

Querência Amada - Teixeirinha

Não era do feitio de universidades federais suspenderem as aulas nem se o mundo estivesse acabando e, por esse exato motivo, houve uma greve voluntária dos alunos por conta da morte de Heitor

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Não era do feitio de universidades federais suspenderem as aulas nem se o mundo estivesse acabando e, por esse exato motivo, houve uma greve voluntária dos alunos por conta da morte de Heitor. Tantos adolescentes mortos era o fim do mundo.

Por mais que ninguém conhecesse o garoto, a morte dele foi como colocar mais um bloquinho sobre a torre já instável. Os quatro universitários mortos no ano passado balançaram a estrutura dela e agora Heitor terminara de derrubá-la.

Isso gerou dois dias sem aula porque os alunos decidiram que não as teriam por respeito à morte de todos esses universitários. Ayla não era tão dedicada ao ponto de ser a única a ir para as aulas, apesar de acreditar que alguém que estivesse com a quantidade de faltas no limite estava indo.

Usou desse tempo para adiantar os trabalhos, revirar algumas caixas e abortar de vez a ideia de um emprego. Podia se ocupar com muitas coisas e se tivesse um trabalho teria que se levantar cedo, e isso era péssimo. Era um saco ter que justificar de onde tirava suas coisas, mas tinha justificativas que funcionavam e continuaria com elas. Ela não se preocupava se pensavam que ela traficava ou se prostituía, o que era um pensamento recorrente que os outros tinham.

Certa vez sua vizinha, Madalena, parou a mãe da garota no meio da rua para dizer que havia algo de errado com Ayla porque a garota carregava um celular de última geração que nem mesmo ela conseguia comprar e avisou Helena que ficasse de olho na filha porque era comum a prostituição entre os jovens.

Ayla revirou os olhos quando soube disso. Apesar de que agora talvez a mãe começasse a achar que ela realmente se prostitui.

Mesmo assim, Helena nunca exigiu grandes explicações de Ayla sobre de onde ela tira tantas coisas inúteis. A garota acreditava que, para a mãe, se o dinheiro dela não está saindo da conta, está tudo certo.

E também existe a justificativa de que são os tios e avós paternos de Ayla que dão a ela, e isso é algo que Helena acredita de pé junto e nunca irá questionar, até porque, para ambas, é um assunto tão delicado quanto uma fina membrana.

— Achei um lenço — anunciou ao remexer uma da centena de caixas postas no "cômodo da bagunça" atrás de uma folha de E.V.A que precisava para um trabalho da faculdade.

— Um o quê?

Lúcifer adentrou a sala com curiosidade terminando de comer um bolo de pote.

— Isso era pra mim, sabia?

— Pois saiba que estava uma delícia — disse com a colher entre os dentes, sentando-se na cadeira empoeiradas posta lá desde que o mundo é mundo.

— É um lenço de gaúcho, deve ser de quando meu pai dançava em CTG¹.

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