"Deus é gaúcho
De espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil"Querência Amada - Teixeirinha
Não era do feitio de universidades federais suspenderem as aulas nem se o mundo estivesse acabando e, por esse exato motivo, houve uma greve voluntária dos alunos por conta da morte de Heitor. Tantos adolescentes mortos era o fim do mundo.
Por mais que ninguém conhecesse o garoto, a morte dele foi como colocar mais um bloquinho sobre a torre já instável. Os quatro universitários mortos no ano passado balançaram a estrutura dela e agora Heitor terminara de derrubá-la.
Isso gerou dois dias sem aula porque os alunos decidiram que não as teriam por respeito à morte de todos esses universitários. Ayla não era tão dedicada ao ponto de ser a única a ir para as aulas, apesar de acreditar que alguém que estivesse com a quantidade de faltas no limite estava indo.
Usou desse tempo para adiantar os trabalhos, revirar algumas caixas e abortar de vez a ideia de um emprego. Podia se ocupar com muitas coisas e se tivesse um trabalho teria que se levantar cedo, e isso era péssimo. Era um saco ter que justificar de onde tirava suas coisas, mas tinha justificativas que funcionavam e continuaria com elas. Ela não se preocupava se pensavam que ela traficava ou se prostituía, o que era um pensamento recorrente que os outros tinham.
Certa vez sua vizinha, Madalena, parou a mãe da garota no meio da rua para dizer que havia algo de errado com Ayla porque a garota carregava um celular de última geração que nem mesmo ela conseguia comprar e avisou Helena que ficasse de olho na filha porque era comum a prostituição entre os jovens.
Ayla revirou os olhos quando soube disso. Apesar de que agora talvez a mãe começasse a achar que ela realmente se prostitui.
Mesmo assim, Helena nunca exigiu grandes explicações de Ayla sobre de onde ela tira tantas coisas inúteis. A garota acreditava que, para a mãe, se o dinheiro dela não está saindo da conta, está tudo certo.
E também existe a justificativa de que são os tios e avós paternos de Ayla que dão a ela, e isso é algo que Helena acredita de pé junto e nunca irá questionar, até porque, para ambas, é um assunto tão delicado quanto uma fina membrana.
— Achei um lenço — anunciou ao remexer uma da centena de caixas postas no "cômodo da bagunça" atrás de uma folha de E.V.A que precisava para um trabalho da faculdade.
— Um o quê?
Lúcifer adentrou a sala com curiosidade terminando de comer um bolo de pote.
— Isso era pra mim, sabia?
— Pois saiba que estava uma delícia — disse com a colher entre os dentes, sentando-se na cadeira empoeiradas posta lá desde que o mundo é mundo.
— É um lenço de gaúcho, deve ser de quando meu pai dançava em CTG¹.
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Meu Diabo Particular
Mistero / ThrillerE se o próprio Lúcifer fosse seu anjo da guarda? Ayla, uma gaúcha que nunca saiu do próprio estado, viveu as primeiras décadas de sua vida sob o olhar protetor de seu exótico anjo da guarda: o próprio Diabo. Mas, com o surgimento de uma ameaça imine...