Ressaca

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Minha visão tá turva e uma dor terrível está dentro da minha cabeça, é meio desesperador, estou com bafo de álcool e meu cabelo está todo desarrumado, mas o pior, é que nem sei como acabei assim. O quarto imenso, cheio de posters de Kpop e baleias pintadas em tons de azul na parede com certeza era da Japonesa fofoqueira, mas ela, não dava nem sinal de estar perto dali.

Observando os retratos de família ainda meio tonta, comecei a andar e tentar achar a porta de saída do quarto. (não foi fácil, confundi com o banheiro e o guarda roupa duas vezes) assim que minha visão focou, percebi que eu não tinha noção o quanto de dinheiro Sayuri tinha. Sua casa era enorme, tanto de altura quanto de largura. Uma escada enorme de mármore estava à minha frente e embaixo de mim tinha uma sala de estar enorme com uma TV gigantesca e um grande retrato da família dela logo na parede principal.

— Então você é amiga bêbada de ontem? - Assim que desci pra sala, um cara alto,  suado, asiático e forte (ponha forte nisso) me encarou com um olhar e um sorriso sarcásticos.

— Devo ser, e você quem é? 

— Meu nome é Davi, eu sou…  

— Meu irmão. - Sayuri apareceu do nada  interrompendo nossa “conversa”.

— Irmão? - Perguntei confusa, como já falei, Sayuri me conta muita coisa, mas pouco  sobre a vida dela.

— Depois te explico melhor, tenho que tirar esse cheiro de você. - Sayuri me puxou pelo braço (como quase sempre) e me arrastou pra fora da sala, a última coisa que vi do hashimoto mais velho foi um tchauzinho com o braço e um sorriso amarelo.

— Você nunca me contou que tinha um irmão Sa. - Falei enquanto chegávamos perto do que deveria ser um banheiro.

— Às vezes nem eu lembro.

— Você esquece do cara que mora com você? - Eu não esqueceria nunca.

—Ele não mora aqui, ele mora em São Paulo, tá passando um tempo com a gente.

— Por que ele tava suado? - Perguntei curiosa.

— Academia.

— Ele é bonito, Namorando?

— Ainda tem álcool no seu sangue? - Não estou pensando coisa com coisa, mas essa foi uma pergunta genuína.

— Os céus me livrem de ser da sua família, é curiosidade. 

— Não tá não, suspeito que ele corta pro outro lado. - Quem diria, uma belezinha daquelas não gostar de mulher.

— An?!

— Papo pra outra hora, você precisa tomar banho amiga. Tá cheirando a bebida! - Sayuri falou e atirou na minha cara algumas roupas e uma toalha cheirosa.

A água gelada do banho tentava me acordar enquanto eu mexia no cabelo embaraçado,o álcool já tava indo embora, e com ele, a névoa que escondia as lembranças da noite passada. Imagens fragmentadas começaram a surgir na minha mente, tipo peças de um quebra-cabeça se encaixando de um jeito meio esquisito. 

Um sorriso involuntário apareceu nos meus lábios quando lembrei da dança solta com o cara de olhos azuis. A música batendo no meu corpo, a adrenalina da pista de dança, lábios perto um do outro, risada fácil e a conversa fiada foram mais motivos de sorrisos involuntários. Mas aí, na sequência, a lembrança de ter acordado sozinha no quarto, com a cabeça latejando e um vazio no estômago, me fez arrepiar. 

Apertei os olhos com força, tentando desesperadamente me agarrar a alguma lembrança concreta, mas tudo parecia se dissolver nas minhas mãos como areia fina. (Olha, descobri que também falo filosofias questionáveis quando estou meio bêbada)

Entre Papos, Gatos & Café Gelado.Onde histórias criam vida. Descubra agora