"Ok, só mais uma vezinha" ela disse enquanto se sentava "Onde o senhor estava no dia quinze de março de 2004?"
As lágrimas dele pingavam por cima da mordaça que estava em sua boca enquanto falava abafadamente
"E-eu não sei moça...! Eu já disse..." "Ah, mas eu sei onde o senhor estava." "Por favor, senhora..."
Ela apontou a arma pra cabeça dele enquanto ele berrava em desespero mais uma vez
"No dia quinze de março de 2004 o senhor assassinou brutalmente Maria Alice de Souza. Ela tinha apenas sete anos de idade." Ela fez uma pausa "O senhor a desmembrou, depois escondeuseus vestígios... ninguém nunca soube o que aconteceu com ela..." ela retira a mordaça "tem certeza que não se lembra?"
"Senhora! Por favor! Eu já disse! Eu jamais mataria uma criança."
"Cala a boca!" disse a mulher, ainda apontando a arma pra cara dele enquanto ele chorava, inconsolável. "Eu já disse que o senhor não sairá daqui até que me diga toda a verdade. O senhorassassinou a menina, basta admitir isso."
Ela se afastou e andou pela pequena kitnet bagunçada.
"Já faz algum tempo, não é?" Ela disse, seus cabelos negros caíam sobre a face enquanto ela olhava o copo que enchia com água. "Está com sede?"
O homem chorou mais uma vez
"É, Maria Alice teve sede também..." Ela bebeu a água do copo "Nunca foi saciada" Ela olhou profundamente nos olhos dele com os olhos claros e de olheiras profundas "lembra-se disso,senhor Antônio?"
"EU NUNCA MATEI CRIANÇA ALGUMA"
Ela o encarou dura e seriamente, com expressão impassível.
"O senhor está a a algum tempo sentado sobre sua própria urina e fezes e se
recusa a admitir o mal que fez a ela? O senhor alega que nunca matou uma menina, mas a verdade é que o senhorfez da maneira mais cruel, senão não estaria aqui."
Ela suspirou.
"Bom, vou refrescar a sua memória." Ela se sentou na cadeira, apoiando os antebraços sobre o encosto e com as pernas abertas. "Maria Alice estudava na
escola municipal da qual o senhor era motorista do ônibus. Uma mocinha loira, pequena, olhos verdes brilhantes, pegava o ônibusno assentamento, a última parada, lembra-se disso?"
Antônio olhava pra ela, imóvel.
"Ela pegava o ônibus todos os dias com seu irmão Paulo, que tinha nove anos na época. Mas ele nem sempre ia à escola com ela." Ela olhou para Antônio "E o senhor se aproveitou disso"
"Por favor..."
"Cale. A. Boca." ela prosseguiu "o senhor a despedaçou, membro por membro, os pais nunca souberam o que houve com ela, ficou absolutamente irreconhecível." ela o encarou "Bom, talvez não tenha matado ela no sentido literal, mas ela certamente morreu depois do que fez com ela."
"Se lembra? Ela voltou sozinha um dia, apenas o senhor e ela no ônibus, estavam um pouco adiantados, o senhor disse pra ela o quanto ela era uma mocinha linda" ela passou a mão direitano rosto dele, segurando o revólver com a esquerda. Uma lágrima escorreu do rosto de Antônio "disse que iria mostrar algo legal no fundo do ônibus, um presente, e com toda a inocência do mundo, ela foi, afinal, era o seu aniversário. E essa foi a primeira morte, a inocência de uma garota, arrancou seus olhos e ela nunca mais viu a vida da mesma forma."
O homem começou a berrar copiosamente
"Ah, e ainda teve mais, não teve? Essa não foi a última vez. Outras mortes sucederam esta, além de violentar seus olhos, os senhor violentou seus ouvidos, arrancou seus tímpanos com as palavras mais torpes, a estourou por dentro, desmembrou toda esperança que ela tinha de..." ela o encarou, olhos cheios de lágrimas "ser normal de novo." andou em sua direção do homem sentado " então sempre que o Paulinho ficava doente, sempre que ele se ausentava, o senhor se aproveitava disso. Matou a infância dela, parte por parte. E ela ainda apanhava da mãe quando chegava atrasada da escola."
Então o encarou, como se enxergasse o fundo de sua alma pelos olhos arregalados"O senhor ainda acha que não a matou?"
"Moça, por favor. Eu não fiz nada disso!"
"Então tá" Ela apontou a arma pra ele e pôs o dedo no gatilho "Não tenho mais tempo pra isso."
Ele guinchou.
"DESCULPA DESCULPA EU CONTO TUDO, PROMETO! SÓ ME TIRA DAQUI, POR FAVOR..." e chorou como se implorasse por perdão.
"Perfeito, então vai confessar?"
Ela posiciona um gravador e ele começa a falar. Descreveu os fatos de maneira simples,gaguejando e olhando para a mulher que parecia morbidamente satisfeita com aquilo.
Quando terminou, ele disse "Por favor, não me mata ..." Ela o interrompe, olhando para o gravador.
"Obrigado pela cooperação, senhor Antônio. Agora vá tomar um banho. Não quero que ninguém desconfie do que aconteceu aqui."
Ela desamarra ele e o conduz, ainda armada, até o banheiro, ele se despiu na frente dela, conforme foi ordenado pela algoz e então entrou no banheiro, sem trancar a porta.
Quando ouve o som das águas, ela suspira e diz:
"Esses vizinhos dele são realmente barulhentos. Foi bom ele ter prestado queixa disso." E acende um isqueiro.
Enquanto isso, o homem se banhava, tramando uma forma de se livrar da mulher... como poderiafugir dali? Ela disse que o deixaria ir, mas quem garante isso? Ela havia o amarrado na cadeira depois de ter dopado ele, mas ele era certamente mais forte do que ela, será que poderia...
Cheiro de fogo... madeira queimada?
A música alta no apartamento ao lado havia cessado. A quanto tempo havia parado? Ele nem notou. Um grito irrompe de fora.
"SENHOR ANTÔNIO É A POLÍCIA ABRA A PORTA"
"Graças a Deus!" ele pensou, saiu correndo para fora do banheiro. A arma da moça estava no chão, à frente da porta.
Ele olha aterrorizado para a cozinha, onde a mulher se encontrava.
Ela estava nua, amarrada numa cadeira diferente da suja na qual ele estava sentado a dois dias seguidos. A cadeira que ele havia usado, assim como as roupas, estavam pegando fogo ao ladodo fogão.
Haviam marcas de espancamento no corpo inteiro da mulher e ela gritava por socorro enquanto chorava copiosamente."SENHOR ANTÔNIO VAMOS ENTRAR"
Ouviu-se um som de um tiro, um baque surdo e silêncio.Os policiais encontram a cena grotesca.
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Folha de ************
A Dra. Maria Alice de Souza foi encontrada na residência do sr. Antônio Lúcio Marques no interior de Goiás na madrugada deste domingo (dia 15/03/2023).
A delegada esteve desaparecida durante todo o fim de semana, suspeita-se que foi sequestrada pelo agressor na noite de sexta-feira. Foram encontrados vestígios de luta corporal no corpo da vítima, mas sem indícios de violência sexual.
O criminoso foi encontrado morto com um tiro na cabeça, tendo tirado a própria vida assim que apolícia chegou ao local.
As testemunhas alegam que foi avistada fumaça saindo da janela do apartamento de Antônio, após, foram ouvidos gritos da vítima pedindo por socorro, então os vizinhos chamaram a polícia,que chegou ao local em poucos minutos.
A Maria Alice foi conduzida ao hospital, onde está se recuperando com o apoio de amigos efamiliares.
O corpo de Antônio Lúcio Marques será velado na capela de Santa Grania, no bairro Caravelas.
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Criatura - Contos Diversos
Mystery / ThrillerCriei isto para salvar e compartilhar meus contos (ou "one-shots" para amantes de estrangeirismos). Minhas histórias curtas são diversas, desde suspense e horror até historinhas de cotidiano e romances açucarados. Talvez a obra seja como a Criatura...