416 rosnou para Ellie, revelando seus dentes caninos afiados, e percebeu que seus braços doíam onde ele os agarrou acima dos cotovelos. Ele bateu suas costas em cima de uma das mesas de conferência. Curvou-se sobre ela, seu rosto enfurecido centímetros acima do dela, e ira derramava de seu olhar escuro. Puro terror inundava Ellie.
Sua boca se abriu, mas nada saiu. Sugou ar. Ele rosnou mais alto, a apertou ainda mais.
— Que diabos? Deixe-a ir! — Diretor Boris engasgou.
Ellie viu movimento ao seu redor com sua visão lateral, mas não se atreveu a virar seu foco para longe do olhar escuro, furioso de 416. Ele parecia que estava pronto para rasgar sua garganta com seus dentes afiados, que pairavam centímetros dela. Seu coração batia tão forte que ela se perguntou se ele iria explodir. Ele sobreviveu e iria matá-la do jeito que prometeu, se alguma vez tivesse a oportunidade.
— Deixe-a ir — uma voz masculina pediu firmemente em um tom de aço.
— Que diabos está acontecendo? — Isso veio de um outro homem que parecia chocado e choroso.
— Fury, deixe-a ir — outro homem ordenou em uma voz extraordinariamente profunda.
Seu olhar domado pela raiva deslocou-se do olhar aterrorizado de Ellie quando virou cabeça para o lado. Rosnou para alguém atrás dele.
— Não. Isto é entre ela e eu. Recue.
Ellie passou a língua nos seus lábios secos, aliviada com o fato de poder respirar novamente. As mãos em seus braços faziam contusões e machucavam o suficiente para que lágrimas inundassem seus olhos. Fury olhava ameaçadoramente para alguém atrás dele que manteve seu foco nela. Apesar de estar numa sala cheia de homens, ela sabia que iria morrer na frente deles, quando sua atenção voltasse para ela.
— Deixe-a ir, Fury — A voz masculina ficou mais profunda, para se destacar do rosnado ameaçador. — Por favor.
— Ela é um deles — Fury rosnou. — Ela trabalhou como técnica nas instalações de testes. Recue agora. Tenho o direito de me vingar.
Um ruído conhecido cortou a sala e os olhos de Ellie se arregalaram. Ela reconheceu o som de uma espingarda sendo carregada. Engoliu o caroço que se formou em sua garganta, estava com medo deles o matarem para salvá-la. Droga. Não permitiria que isso acontecesse. Todo o terror se dissipou em sua preocupação com a vida dele. Ela o salvou uma vez e o salvaria de novo.
— Está tudo bem — Ela falou tão alto quanto podia. Sua voz falhou, mas conseguiu pronunciar as palavras. — Não o machuquem. Ninguém atire. Por favor.
— Ellie? — Diretor Boris se aproximou. — O que ele está falando?
Ellie suspirou quando seu tormento virou-se a cabeça para olhar para ela novamente. Um arrepio percorreu sua espinha com o olhar, frio, intenso e o conhecimento de que ele iria cumprir sua promessa. Ela não tinha dúvidas de que ele iria matá-la em cima da mesa na frente de todos os presentes.
— Fury — uma outra voz masculina falou. — Solte a mulher. Vamos resolver isso razoavelmente.
— Minha — rosnou Fury, obviamente com tanta raiva que não podia falar em um tom normal. Seus dedos apertaram ainda mais.
Lágrimas caíram de seus olhos e rolaram para o lado do seu rosto, mas não fazia nenhum som. Temia que iria aborrecer todos ao seu redor, especialmente quem tinha carregado a espingarda que ouvira.
— Ellie? — Dominic Zort falou perto. — Você era uma informante, não era?
Ela engoliu um gemido de dor. Fury rosnou suavemente e suas mãos apertavam brutalmente seus braços.
— Sim — ela engasgou. — Eu o conheço.
Um rosnado profundo saiu de dentro da garganta de Fury viciosamente.
— Fury! — Um homem gritou. — Solte esta mulher agora!
Fury aliviou, mas não deixou de apertá-la. Recuou alguns centímetros, mas não se afastou muito dela e seus lábios se apertaram para esconder os dentes caninos. Respirou fundo pelo nariz, mas não desviou o olhar de Ellie.
Fury. Sim, o novo nome se encaixava com o olhar em seus olhos.
— Ela estava na equipe médica do Mercile. Ela foi enviada como informante quando os rumores sobre a instalação de testes vieram à tona. Tentamos obter agentes secretos infiltrados no Mercile, mas nunca foram contratados. Acho que ela era enfermeira do escritório corporativo. Custou muito trabalho duro para ela ser transferida para aquele lugar infernal para descobrir se os rumores eram verdadeiros. Ela saqueou provas suficientes para obtermos os mandados que serviram para invadirmos a primeira instalação de teste. — Dominic Zort falava rapidamente. — Eu não sabia que ela tinha conhecido qualquer um dos seus, Justice. Eu não era seu treinador, mas Victor Helio não escreveu nada no arquivo que indicava que ela tenha prejudicado qualquer Nova Espécie ou tivera contato com eles. Eu nunca a teria contratado para trabalhar com vocês se eu achasse que qualquer um dos seus a conhecia pessoalmente. —A voz de Dominic Zort permaneceu calma e tranquila. — O nome dela é Ellie Brower e ela é a única que dirige o dormitório das mulheres. Ela arriscou sua vida todos os dias para espionar Mercile para nós, Justice. Ela sabia que iriam matá-la se eles percebessem que ela só trabalhou lá para conseguir provas do que eles estavam fazendo.
— Deixe-a ir. — O tom de Justice era suave, mas detinha a autoridade de uma ordem. — Acalme-se, Fury. Eu entendo. Você ouviu o que o homem disse? Ela trabalhou lá para ajudá-los a reunir as provas de nossa existência. Ela ajudou a salvar o nosso povo.
Fury não soltou Ellie e ele continuou a encará-la. Ela olhou para ele, certa de que ele não se importava com o por que dela ter estado lá. Sabia que ele a odiava por tê-lo incriminado pela morte de Jacob e não o culpava por isso. Ela tinha feito isso para salvar a sua vida, mas isso não aliviava a culpa do crime cometido contra ele.
— Ellie? — Diretor Boris falou. — Qual foi seu trabalho exatamente no centro de pesquisa e o que você fez com este homem?
Merda. Ellie engoliu em seco. Observava os olhos de Fury escurecer ainda mais, transformando-se de um castanho chocolate para quase preto.
— Só ajudei quando necessário — Explicou em voz baixa. — Eu reunia um monte de gráficos dos resultados dos testes das amostras de sangue e saliva quando me chamavam.
— Por que ele te odeia tanto? Você, pessoalmente, o feriu de alguma forma? — A voz do Diretor Boris se elevou em indignação. — Você o machucou?
Ellie encarou o rosto tenso de Fury. Se tivesse sido violentada sexualmente, não gostaria que falassem sobre isso. Ele era um homem orgulhoso e isso provavelmente não era algo que queria compartilhar com toda a sala. Teria de dizer a todos por que matou o técnico se admitisse que fez algo para Fury ter tanta raiva dela. Ela hesitou. Seus olhos se estreitaram quando o rugido estrondoso de seu peito tornou-se mais alto.
— Não — Fury ordenou.
— Fury? — Justice falou. O homem tinha uma voz estranhamente profunda. — O que ela fez para fazer você querer machucá-la tanto? Ela te forçou a tomar remédios?
— Ellie, diga-nos agora! — diretor Boris exigia.
— Eu tinha que fazer testes — ela mentiu. — Tinha de infligir dor a ele. — Essa parte foi verdadeira. Sabia que o que fez a ele lhe causou algum sofrimento emocional em cima do que Jacob lhe fez, enquanto ele estava impotente naquele chão de sua cela. — Ele também não gostava quando eu recolhia amostras dele
Ele rosnou para ela em resposta.
Não desviou seu olhar do dele nem mesmo uma vez, seu olhar ficou preso ao dele.
— Sinto muito, mas não tive escolha. Sabia que a ajuda viria se eu pudesse saquear as provas. Eu fiz o que tinha de fazer para salvá-lo. Você estava tão perto de conseguir sua liberdade. — Mais lágrimas derramaram pelo seu rosto. — Eu sinto muito mesmo. Só queria te salvar.
Fury tinha a mulher que o traiu ao seu alcance. Não podia acreditar que tinha encontrado Ellie novamente, ela trabalhava em Homeland, e suas mãos realmente a tocavam. Ele era livre agora, já não era mais impotente, e pensou bastante sobre o que deveria fazer com ela. Uma pequena parte dele queria arrancar seu pescoço, enquanto o resto dele queria puxá-la contra seu corpo e abraçá-la. De qualquer maneira, não queria soltá-la. Desgosto brotou de seu conflito emocional depois do que ela fez para ele dentro de sua cela. Ele nunca esqueceria aquele dia ou aqueles que se seguiram.
Justice exigiu novamente que ele a soltasse, mas suas mãos se recusaram a soltá-la. A ousadia de ela estar onde os Novas Espécies deveriam estar a salvo enfurecia-o. Ela foi a pior deles, com seus lindos olhos azuis que o atraíram para um sentimento de confiança de que ela nunca iria fazer-lhe mal. Seus dedos flexionaram em sua pele suave quando inalou o cheiro dela que o assombrou por muitas noites.
O seu olhar azul-claro parecia mais bonito do que se lembrava e se encolheu, enquanto assistia piscina de lágrimas em seus olhos deslizarem pelas laterais do rosto, sabendo que a estava machucando. Lutou com o conhecimento que tinha o direito de se vingar, mas, ao mesmo tempo odiava lhe causar dor. Quando ela falou a todos para não machucá-lo, o deixou mais confuso. Ellie era para ser sua inimiga, então por que tentava protegê-lo?
— Fury — sussurrou Justice. — Ela é uma mulher.
Ninguém precisava dizer-lhe o sexo dela. Seu cheiro doce de morangos e baunilha o fez querer gemer, enterrar seu nariz contra sua pele e investigar exatamente de onde o cheiro se originava. Perguntava-se se era seu cabelo ou os produtos de lavagem do corpo que exalavam esse cheiro tentador. O fato de querer descobrir de onde vinha seu cheiro o irritou ainda mais.
O surpreendeu saber que ela trabalhava a seu favor. Era importante para ele saber o motivo dela estar na instalação de testes, mas não pôde deixar de se sentir traído por ela o ter deixado na cela para enfrentar as consequências de suas ações.
Ela não percebia o que tinha feito e como ele havia sido prejudicado por isso? Mas não queria que ela dissesse a verdade sobre o motivo da raiva dele. Muitas perguntas seriam feitas. Ele tinha vergonha suficiente. Não queria que ninguém soubesse a humilhação que foi sentir-se desamparado todos aqueles anos que esteve trancado e os abusos que ele sofreu em sua vida.
Ele era um Nova Espécie, no controle de sua mente e corpo, embora tivesse sido um prisioneiro. Não poderia evitar os ataques do técnico, quando estava indefeso, e ainda traumatizado com o que fizeram com ele, seu corpo respondia a Ellie por estar tão perto dele. Ela o transformou, apesar da situação horrível. Não quis reagir a ela dessa forma. Isso só fez sua traição ficar ainda mais imperdoável. Baixou a guarda e, em seguida, ela tentou escapar. Reconheceu que tinha perdido o controle novamente quando agarrou-a sem pensar e agora se recusava a libertá-la.
A dor revelada por suas feições, finalmente o fez compreender o quão fortemente agarrou seus braços e isso o horrorizou, percebendo que havia machucado sua pele macia. Deveria querer matá-la, mas ao invés disso desejava massagear seus braços, ate mesmo se desculpar, e isso o enojou. Ele havia recebido a honra de trabalhar como o segundo responsável por comandar seu povo, um exemplo para sua espécie de como eles poderiam viver em paz com os humanos, ainda estando sobre uma pequena mulher aterrorizada que o perseguia desde a sua libertação.
Sempre se perguntava o que havia acontecido com ela. Ele mesmo usou de sua nova autoridade para ler a lista de funcionários presos da Mercile. Até mesmo havia fantasiado entrar em sua cela para vê-la, só para vê-la novamente. Um rosnado rompeu sua garganta e sabia que precisava fugir dela antes de perder o pouco do controle que havia recuperado.
Precisava pensar, saber o que estava errado dentro de sua mente quando se tratava de Ellie. Normalmente seguia a razão, se mantinha calmo, independentemente da situação, outros até o consideravam de boa índole. Seu povo dependia dele para permanecer dessa forma. Escolheu seu nome pelo o que sentia em seu coração, mas por fora sabia se controlar bem. Geralmente.
Ele olhou para Ellie e ordenou suas mãos que abrissem, mesmo que seus instintos gritassem para não soltá-la. Fury soltou o braço de Ellie, como se seu toque queimasse, então virou-se, empurrando as pessoas que estavam em seu caminho.
Ellie estava imóvel sobre a mesa até que alguém tocou sua perna. Ficou chocada que ele tê-la permitiu viver. Darren Artino aproximou-se dela, seu toque era suave enquanto a fazia sentar. Olhou de relance para o rosto atônito dos homens que a cercavam. Rapidamente enxugou as lágrimas, surpresa por estar viva. Procurou por Fury, mas ele desapareceu.
— Srta. Brower?
O homem que falou era quase tão alto quanto Fury. Ele tinha ombros largos e seus longos cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. Seus olhos eram azul-escuros e de formato estranho, semelhante ao de um gato. Vestia um terno, mas nada conseguia esconder as vibrações perigosas que ele projetava, enquanto permanecia alguns centímetros longe dela.
— Peço desculpas por Fury ... — Fez uma pausa. — Por ter te atacado. Chamo-me Justice North e vou me certificar que Fury seja punido pelo o que fez aqui. Ele te machucou? — Seu olhar exótico, percorreu lentamente seu corpo.
— Estou bem — Ellie mentiu baixinho.
Seu coração se partiu em pedaços pelo fato do homem que havia sido uma obsessão para ela ter ido embora. Ela resistiu ao impulso de correr atrás de Fury, implorar-lhe para ouvi-la, e pedir desculpas novamente pelo o que tinha feito a ele. Ela queria tanto se resolver com ele que até doía. Percebeu que fazer isso seria impossível quando olhou para o homem grande que bloqueava seu caminho. Atualmente, ele representava uma ameaça a Fury e ela precisava lidar com a situação antes que se agravasse.
Ellie não se intimidou com o homem de boa aparência com olhos fascinantes.
— Por favor, não o castigue — Imploraria se fosse necessário. Era o mínimo que poderia fazer para garantir que Fury não tivesse qualquer tipo de problema. — Sua raiva é justificada. Confie em mim. Eu não o culparia se ele tivesse me matado.
O choque empalideceu o homem enquanto piscava para ela algumas vezes. Seus ombros largos pareceram relaxar.
— Talvez você devesse ser dispensada desta reunião. Você deve estar traumatizada e eu tenho certeza que alguém aqui poderia lhe explicar sobre o que será discutido, amanhã, depois que você tiver tempo para se recuperar.
O diretor Boris moveu-se para a frente.
— Vamos removê-la imediatamente de Homeland, Sr. North. Por favor, aceite nossas desculpas.
Pavor se espalhou por Ellie. Ela passou a ser uma parte do projeto de incrementar os Novas Espécies em uma vida normal, mas agora perderia o emprego. Não culparia o diretor Boris por demiti-la, considerando as circunstâncias. Homeland havia se tornado um porto seguro para os Nova Espécie para ser a partir do abuso que tinha sofrido. Tendo um lembrete andando nas instalações violaria esse conceito.
Justice franziu a testa quando olhava para o Diretor Boris.
— Demiti-la não será necessário. Ela salvou o nosso povo das instalações de testes e não vamos agradecê-la assim, levando-a para longe de algo que ajudou a tornar possível. Não é nossa maneira de trabalhar. Esta é a nossa Homeland, não é?
A boca do diretor Boris abriu em choque.
— Mas Fury a odeia e ele é o segundo no comando.
— Fury aprenderá a lidar com sua raiva. — Justice então olhou para Ellie. A expressão dura do seu rosto se aliviou um pouco. — Vá descansar, Srta. Brower. Seu trabalho está seguro. Você pode continuar a dirigir o dormitório feminino. Você tem sido bastante compreensiva, com sua sinceridade e agradecemos sua compreensão pelo comportamento de Fury.
Ellie sabia escapar quando dada a oportunidade. Desceu da mesa. Seus joelhos tremeram, mas equilibrou seu peso uma vez que estava em pé. Manteve a cabeça baixa, seu olhar no chão, e caminhou rapidamente em direção ao corredor vazio. Fez uma pausa, encostou-se à parede e depois cobriu o rosto. Seu corpo inteiro tremeu. Levou um minuto para recuperar suas emoções.
Ellie finalmente se moveu, deixou as mãos caírem ao seu lado, e saiu pela porta externa. 416 sobreviveu, mas agora se chamava Fury. Pior ainda, ele era o segundo no comando. Estremeceu quando saiu. O guarda armado franziu a testa para ela, mas não disse nada enquanto se movia em direção ao carrinho de golfe.
Justice dirigiu a Organização dos Novas Espécies. Seu povo tinha votado nele para liderá-los, para ser o rosto e a voz dos Novas Espécies como um todo, mas eles também nomearam membros do conselho para representar grupos de sobreviventes, desse modo, ajudá-lo a fazer seu trabalho. Um sobrevivente de cada uma das quatro instalações de testes tornou-se membro. O NOS, como eles se intitularam, haviam proclamado as ordens do seu próprio governo quando foram assegurados que os Estados Unidos não se meteriam e os deixariam terem total controle para estruturar sua independência.
O fato de que o governo havia financiado, sem saber, as instalações de testes fez Tio Sam aceitar qualquer coisa que eles pediam. Eles usaram o dinheiro dos contribuintes para ajudar a criar novas espécies e continuar a pesquisas horríveis por décadas em nome do aperfeiçoamento de medicamentos e vacinas. Um monte de dinheiro trocou de mãos à custa do sofrimento dos Novas Espécies. A base militar recém-construída foi dada a eles para ser a Homeland, havia rumores desse ter sido um grande gesto do governo para salvar a própria imagem e obter o apoio da opinião pública em geral.
Ellie estacionou o carrinho de golfe em frente ao dormitório e saiu. Esfregou os braços doloridos e correu para as portas dianteiras. Tinha quase alcançado a porta quando seu cabelo da nuca arrepiou. Acalmou-se, depois tirou sua carteira de identidade e lentamente olhou por cima do ombro.
Um homem se escondia sob a sombra de uma árvore do outro lado da rua, apenas um fraco esboço de uma pessoa, mas Ellie o sentiu olhando para ela. Sabia que era Fury. Ela ficou ali olhando para ele. Ela ficou olhando para ela, mas nenhum deles se moveu.
Ellie mordeu o lábio, pensando se devia se aproximar dele. Poderia se desculpar novamente pelo o que fez a ele e talvez explicar com mais detalhes até que ele entendesse suas ações daquele dia em sua cela. A indecisão a manteve no lugar enquanto lutava com a necessidade de falar com ele e o medo dele não ter se acalmado ainda.
Ele não se moveu e ela não conseguia fazer suas pernas irem até ele. A memória de sua ira, de suas mãos apertando-lhe seus braços, a fez mudar de ideia sobre ir conversar com ele naquele momento. O medo a motivou a encarar a porta, passar seu cartão-chave, e se apressar para dentro do dormitório. Averiguou se a trava realmente tinha fechado antes de se dirigir para o elevador.
Um silêncio assustador dominava o dormitório tarde da noite. Entrou no elevador com a sensação de estar sendo observada. Com paredes de vidro, sabia que ele podia vê-la de onde estava. As portas se fecharam firmemente bloqueando a vista da rua e Ellie se jogou contra aparede. Será que ele se esqueceria disso? Não sabia, mas agora ele sabia onde ela morava. Ele também trabalhava para Homeland e provavelmente morava em uma das unidades habitacionais construídas a poucos quarteirões de distância do conselho e possuía um dos mais altos cargos dos Novas Espécies.
Droga.
O elevador soou quando abriu no terceiro andar, onde atualmente era a única residente. Uma vez que todas as mulheres fossem transferidas para o dormitório, os quartos encheriam até o prédio estar cheio de vida em todos os andares. De repente, se importou em estar sozinha nesse momento.
O prédio era seguro, lembrou a si mesma. As únicas pessoas que tinham acesso ao edifício eram as mulheres que viviam lá e os guardas de segurança. Nem mesmo os membro do conselho tinham acesso. Fury não seria capaz de entrar. Destrancou a porta.
Ela deixou as luzes do seu pequeno apartamento acesas e as portas da varanda ainda estavam escancaradas. Moveu-se rapidamente para fechar as portas e as trancou firmemente pela primeira vez. Ninguém poderia entrar pela varanda, mas não se importava com a lógica. Olhou para os braços depois que se despiu. Ambos estavam vermelhos e machucados das mãos de Fury e depois entrou no banheiro para tomar um banho.
Fury sobreviveu! Esse pensamento não saía de sua mente. Lágrimas quentes se derramaram pelo seu rosto. Se esse dia nunca tivesse acontecido ela não teria tido a chance de conhecê-lo. Ele talvez... Seus olhos fecharam-se de dor. O quê? Se apaixone por mim do jeito que eu me apaixonei por ele? Foi insano sequer considerar essa possibilidade. Eles realmente não conheciam um ao outro, mas queria mudar isso. Ele me odeia. Isso ele deixou claro quando me jogou sobre a mesa possuído pela raiva.
Ellie estendeu a mão e limpou as lágrimas. O que tinha feito com ele não poderia ter sido evitado. Só podia esperar que um dia ele perdoasse por deixá-lo dentro da cela para assumir a culpa pelo seu crime. Então, talvez...
— Droga, não faça isso consigo mesma — ela sussurrou em voz alta, sacudindo a cabeça.
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Fury - novas espécies 1 - Laurann Dohner
RomanceSipnose: Ellie fica horrorizada ao descobrir que a companhia farmacêutica em que trabalha está fazendo experimentos ilegais. Cientistas da empresa associam o DNA humano com o do animal, criando novas espécies exóticas. Uma tal "experiência" captura...