Capítulo 9

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Ellie terminou de fazer as malas após o balconista do motel ter arrombado a porta para permitir que recuperasse suas coisas. Estava agradecida de não ter descompactado ainda. Estudou o policial em sua porta, observando cada movimento seu.
— Obrigada. Estou pronta para ir agora. Agradeço por tomar conta de mim.
O policial deu de ombros.
— É o meu trabalho.
Ellie agarrou sua bolsa e sua mala. O policial saiu do seu caminho e fechou a porta para ela. Desceu as escadas, tentando não perceber que alguns dos convidados do motel ainda estavam lá fora, olhavam espantados para ela como se fosse o entretenimento da noite. Suspirou. Não gostava de ser a principal fonte de divertimento para estranhos.
Estremeceu com as palavras em seu carro. O policial fez um relatório dos danos, tirou fotos, e deu a ela um cartão com o número do relatório policial. O policial desbloqueou seu bagageiro enquanto levantava sua mala. Fechou-o e forçou um sorriso quando ele entregava as chaves de volta.
— Gostaria de um conselho?
Ela balançou a cabeça.
— Claro.
Ele olhou para o carro e depois para ela.
— Consiga carro alugado e deixe esse dentro do estacionamento da empresa de aluguel. Essa é uma pequena cidade. Se esses idiotas estão decididos a atormentá-la tudo o que têm de fazer é dirigir em torno de motéis e hotéis procurando por isso. Você ficaria muito fácil de encontrar, até sua companhia de seguros cuidar disso.
Ótimo, pensou Ellie. Suas finanças apertariam até encontrar outro emprego. Quase podia ver mentalmente o dinheiro queimando, mas fez um ponto válido.
— Obrigada. Acho que é um grande plano e vou fazer isso.
— Não posso esperar para que estes idiotas deixem esta área. Desde que os manifestantes apareceram tem sido assim. Os moradores locais ficaram felizes em aceitar Homeland, na sua maior parte, e aquelas pobres pessoas lá sempre serão bem vindas na nossa comunidade. Era chato ter uma base militar, como vizinha. Vivia ao lado de uma quando era criança e eles sempre faziam confusão na cidade quando bebiam em suas horas de folga. Os Novas Espécies não fazem isso. Em seguida, esses Puros Humanos, idiotas, apareceram em cena. Você não acha que eles deveriam ter algo melhor para fazer?
Ellie lhe deu um sorriso agradecida, aliviando a tensão de seu corpo. Foi bom ouvir alguém concordar com suas opiniões depois de sua experiência.
— Sim. Os Novas Espécies sofrem o suficiente sem esses idiotas racistas.
— Vou dirigir atrás de você por algumas quadras para me certificar de que não está sendo seguida.
— Obrigada.
Ellie deu um passo para a porta do motorista do seu carro, mas parou quando uma grande SUV preta arrancou para dentro do estacionamento. Congelou, olhando. Parecia muito com um dos carros usados em Homeland, com todos os vidros fumês pretos. Parou logo atrás do carro de Ellie. Ficou tensa quando o policial ao lado dela pegou sua arma com uma mão, e o rádio na outra.
A porta do motorista se abriu e Ellie olhou desconfiada para o homem que circulava em torno da frente do SUV. Usava um terno e óculos escuros. Ele parou, com a cabeça voltada para o policial, e, em seguida, parecia estar olhando para Ellie pela maneira como seu rosto abaixou em sua direção. Suas mãos estavam abertas ao seu lado e abriu os dedos, movendo suas mãos para longe de seu corpo para mostrar ao policial que não estava armado.
— Srta. Brower? Sou Dean Hoskins. Sr. Fury me enviou. Você ligou para o escritório do Sr. North, e ele tomou conhecimento de que você estava tendo algum tipo de problema.
Fury? Ellie relaxou.
— Está tudo bem — ela garantiu ao policial.
Dean Hoskins deixou suas mãos caírem logo que o policial liberou a coronha de sua arma. Estendeu a mão, tirou seus óculos escuros, e revelou que tinha olhos verdes num rosto bonito.
—O Sr. Fury me pediu para recolher você e suas coisas. Fui enviado para dar-lhe uma mensagem. Não sei o que significa, mas o Sr. Fury me garantiu que entenderia. Pediu-me para dizer-lhe que depois de salvar sua vida, você deve a ele agora. Pediu que você me seguisse de volta à Homeland para falar com ele pessoalmente. Ele teria vindo por si mesmo, mas infelizmente, por causa da situação fora de Homeland, não seria aconselhável ele vir.
Sem brincadeira, pensou Ellie. Fury queria falar com ela. Perguntou-se o que ele queria discutir. Pode ser que tenha se arrependido de não ter dito adeus. Pode até querer dizer que a perdoou pelo o que fez a ele. Claro que poderia só querer saber o que tinha acontecido. Não queria ter esperanças por ele só querer vê-la novamente. Nunca saberia a menos que falasse com ele. Iria incomodá-la, se não fosse.
Assentiu para Hoskins. Não tinha dúvida de que ele estava no nível. Fury só iria falar sobre quem devia a quem.
— Tudo bem.
Colocou seus óculos de sol de volta em seu rosto. Ellie virou-se para o policial.
— Muito obrigada por tudo. Vou passar na empresa de aluguel de automóveis, logo após o meu encontro com o Sr. Fury.
Ellie subiu em seu carro e esperou enquanto Hoskins virou o grande SUV por dentro do estacionamento. Ellie se afastou do espaço para seguir o SUV de volta à Homeland. Odiava os olhares que recebeu dos outros motoristas e temia, quanto aos manifestantes terem uma carga extra do que foi pintado com spray em seu carro.
As palavras de ódio a humilhavam e envergonhavam. O guarda que a escoltou até o portão olhava para ela com as sobrancelhas levantadas. Ellie suavemente xingou e resistiu não falar alto. Não tinha escolha a não ser dirigir com o veículo vandalizado. Seguiu o SUV preto até o escritório central e estacionou ao lado dele na seção de visitante.
Ellie agarrou sua bolsa quando saia do carro. Não estava prestes a deixá-la longe de seu alcance depois de já ter sido mandada embora de Homeland. Precisava ter opções se a chutassem para fora outra vez sem um carro. Dean Hoskins estudou seu veículo com uma careta.
— Foi este o problema que você enfrentou?
— Em parte. Parece que alguns idiotas pensaram que fizeram uma lavagem cerebral em mim e três deles foram na tentativa de supostamente me salvar. Só Deus sabe o que achavam que iam fazer se tivessem conseguido me sequestrar. —Balançou a cabeça. — Alguns deles são simplesmente insanos.
* * * * *
Fury aumentou seu ritmo enquanto Justice o observava de perto, estudando-o, e isso o irritava. Parou, atirando um olhar a Justice.
— O quê? Ela estava em apuros. Ela mencionou a polícia à sua secretária e precisou de uma escolta até lá. Você tem um problema comigo por enviar Dean para buscá-la? Ele trabalha para nós. Qual é o lado bom de ter alguns humanos nos ajudando se não fazem nada?
— Não estou discutindo o seu raciocínio. Acreditava que estaria mais segura em seu mundo, mas devo admitir quando estou errado, se já teve problemas tão cedo. Só estou me perguntando se você vai explodir quando ela chegar. Você parece prestes a perder totalmente o controle de novo.
Fury rosnou, lutou contra sua raiva, e encontrou o olhar preocupado de seu amigo.
— Todos os instintos de proteção dentro de mim estão lutando. Meu primeiro impulso era de saltar dentro de um jipe e ir lá para procurar por ela. Estou no controle desde que enviei Dean.
— Bom saber. — Justice avançou para mais perto. — Se isso significa tanto para você, pode mantê-la aqui. Vou acalmar as coisas de alguma forma com o diretor e se isso não funcionar, vou obrigá-lo completamente a permitir que ela fique. Sob as circunstâncias, pode não despertar muitas suspeitas ir sobre sua cabeça. Ele é muito paranoico sobre quanto poder nós temos e está tentando manter o comando absoluto de Homeland. Está sendo um idiota tratando-nos como se fôssemos crianças, mas o importante é que ele trabalha para nós. Tenho certeza de que há uma habitação disponível na seção de visitantes-humanos. Vou fazer algumas ligações.
Os olhos de Fury se estreitaram.
— E ter o diretor agindo pelas nossas costas novamente? Você me colocou no comando da segurança. Não vou permiti-la longe da minha vista.
A boca de Justice caiu aberta.
— Onde você vai hospedá-la, então?
— Tenho dois quartos. Ela estará segura dentro da minha casa. Ninguém seria estúpido o suficiente para ir atrás dela lá, e posso guardá-la.
— Você quer dizer protegê-la.
— É a mesma coisa.
— É uma má ideia. — Justice deu de ombros. — Mas você está no comando. Tenho dores de cabeça o suficiente tentando descobrir o lado comercial de Homeland, como dar ao luxo de pagar por tudo e onde encontrar mais recursos para usarmos depois que começarmos a executá-lo nós mesmos. Enquanto o presidente é generoso, estamos utilizando um monte de dinheiro com os custos de construção de todas as medidas extras de prevenção, que precisamos para o local após o ataque. Não se esqueça que você tem uma reunião pela manhã com o arquiteto. Quero que vá de acordo com o plano cuidadosamente e a decisão é sua sobre o que é melhor para evitar outra violação às nossas portas da frente.
— Vou estar lá.
Justice avançou, agarrou o ombro de Fury, e olhou profundamente em seus olhos.
— Sei que você vai fazer o seu trabalho. Estou mais preocupado com seu estado emocional quando se trata dessa mulher. É a única rachadura em sua armadura que já vi. Emoções podem ser muito perigosas na nossa espécie.
— Posso separar as minhas responsabilidades com nosso povo dos meus assuntos pessoais.
— Sei que pode. — Justice o soltou. — Boa sorte com sua humana. — Um sorriso dividiu seus lábios. — Não te invejo. Claro, elas têm que ser mais fáceis do que tentar lidar com nossas mulheres.
Fury bufou.
— Na verdade não. Ela é muito difícil de entender, já que viemos de dois mundos diferentes. — Hesitou. — Sinto raiva por ela talvez estar machucada.
— Tente ficar calmo. Eles se assustam facilmente quando rosnamos ou mostramos os dentes. — Justiceriu, indo embora.
Fury resmungou em voz baixa. Tentou ouvir o que aconteceu com Ellie, sem deixar mostrar sua raiva. Dean ligou para dizer-lhe que ela estava seguindo-o até Homeland, mas agora se recusava a dizer-lhe o que tinha acontecido. Ellie não estava ferida já que estava dirigindo e isso era tudo o que importava. Caminhou para fora do escritório para o estacionamento aonde ela chegaria. Queria estar lá esperando, mas Justice o atrasou.
* * * * *
— Eles o quê?
A voz profunda atrás de Ellie a surpreendeu. Girou e deixou cair a bolsa. Fury chegou logo atrás dela sem perceber. Ele se moveu tão sorrateiramente que não fez um som para avisá-la de sua abordagem. Apertou seu peito quando o encarou.
— Não se aproxime de alguém assim. Não fazia ideia que estava aí. Você quase me deu um ataque cardíaco. — Seus braços caíram para os lados.
Fury se aproximou.
— Alguém tentou te sequestrar? — Se abaixou, levantou sua bolsa do chão, e segurou-a com a mão grande, enquanto endireitou a sua altura máxima novamente. — Como?
O coração de Ellie correu freneticamente.
— Descobri que um dos manifestantes me seguiu até o motel e alugou um quarto ao lado do meu. Estavam esperando para me emboscar quando voltei para o meu quarto depois de pegar um pouco de comida. Gritei quando um dos três homens me agarraram. Havia gente por lá que começou a gritar e eles fugiram.
O olhar em Fury combinava com seu nome. O nome certamente se encaixava nele, Ellie decidiu. Ficou em silêncio enquanto continuava a olhar para ela, mas então resmungou baixinho. Seus dentes caninos saíram para fora de seus lábios cheios entreabertos. Recuou, desconfiando de sua raiva. O que eu fiz? Não foi minha culpa. Olhou como se quisesse arrancar-lhe a garganta novamente.
— Você não está segura lá fora — afirmou em um tom áspero. — De agora em diante você ficar aqui. Não discuta comigo.
Dean Hoskins limpou a garganta e pegou seu telefone celular.
— Vou ligar para habitação de convidado para se certificar que tenham um quarto para ela.
— Espere. — Fury exigiu. — Ela morará comigo.
Ellie olhou confusa para ele, tentando dar sentido a sua oferta.
— Com você — ela suspirou.
Ele deu um passo mais perto.
— Você parece saber como encontrar problemas, doçura. Ou talvez ele simplesmente parece saber como encontrá-la. Tenho um quarto de hóspedes e você ficará comigo. Dessa forma posso ficar de olho em você.
Uh-oh. Ela viu quando Fury desviou seu olhar do dela e voltou sua atenção ao seu carro. Passeou por todo o caminho em torno do carro, examinando cada centímetro do dano, só parando quando ficou na frente de Ellie novamente. Agarrou a mão dela, segurando-a firmemente dentro de seu aperto de pele quente, mas suave.
— Vamos. Minha casa não é muito longe, por isso vamos andar até lá. Vou pedir a alguém que retire as suas coisas e conserte o que fizeram com o carro.
— Mas a minha mala... — Ellie tentou parar.
— Agora não. — rosnou, puxando fortemente sua mão, forçando-a a se mover quando não tinha a intenção.
Ele puxou Ellie ao seu lado, dando-lhe pouca escolha senão acompanhá-lo. Notou a expressão alarmada de Dean Hoskins. Não queria causar uma cena para que Fury entrasse em qualquer tipo de problema. Sabia que a estava protegendo, por algum motivo e odiava a ideia de deixar Homeland mais do que viver dentro de sua casa.
— Obrigada por vir me pegar — ela gritou para Dean.
— Não é um problema — respondeu Hoskins.
Ellie olhou de relance para seu perfil bonito, mas severo de Fury, enquanto corria, mas ao lado dele, suas longas pernas comiam o chão. Ainda agarrava sua bolsa em uma mão. Deu à sua bolsa um olhar preocupado e esperava que nada dentro ficasse esmagado com sua força e com os nós dos seus dedos brancos. Ellie não protestou quando Fury continuava até que chegaram em sua casa. Ele se aproximou da porta da frente, enfiou a mão no bolso de trás, e usou seu cartão-chave para abri-la. Seu olhar escuro fixou nela.
— Entre, agora.
Ellie hesitou.
— Por que está tão bravo comigo?
— Não estou — rosnou. — Entre.
Ellie entrou no interior escuro, lançando olhares ao redor na sala. A porta bateu atrás dela fazendo um barulho alto. Virou para enfrentá-lo. Fury encostou-se à porta, apenas deixou cair a bolsa no chão, e se encolheu, esperando que seu telefone celular, que enfiou lá dentro sobrevivesse ao duro golpe no piso da entrada. Sua atenção voltou-se a Fury apenas para encontrá-lo olhando para ela com seu olhar escuro e intenso. Seus dentes afiados saíam por entre seus lábios entreabertos novamente.
— Para alguém que não está com raiva de mim — afirmou baixinho — Você está fazendo uma péssima impressão. Poderia, por favor, pelo menos... — apontou para sua própria boca. — Esconder as presas?
Elel rosnou.
Ela se afastou alguns centímetros.
— Tudo bem. Não esconda. É que quando você mostra essas presas e faz esse olhar de raiva, você tende a dar às pessoas a impressão de, bem, a mim pelo menos, que está irritado com elas. — Respirou. — E quanto a rosnar... — Deu de ombros. — Parece que está com raiva.
— Estou furioso. — Rosnou.
— O que eu fiz? — Deu mais um passo para trás.
— Nada. Não é dirigido a você. Você foi demitida por me proteger. Foi jogada para o seu mundo e por causa de nós, virou um alvo como se fosse uma de nós.
— Bem — Relaxou, secretamente emocionada que não tinha o irritado. — Trabalhava em Homeland e sabia que não ia fazer amizade com pessoas estúpidas quando assumi o cargo. Se concordasse com esses idiotas não estaria aqui e todos sabem que sou pró-Novas Espécies. É apenas um fato da vida que eles são uns imbecis. Todo mundo tem grupos de ódio.
— Ninguém te odeia por causa de onde você vem.
Ela sorriu.
— Sou originalmente da Califórnia, antes de minha família se mudar para Ohio. Metade do país tem certeza de que todos os malucos e esquisitos da América vivem ou nascem no sul da Califórnia.
Fury piscou.
— O quanto pró-Novas Espécies você é?
Ela se perguntava se questionou se ela secretamente não gostava do seu povo.
— Se está perguntando se sou preconceituosa, não sou. Quando ouvi os rumores sobre as Indústrias Mercile e seus tipo de teste e as cobaias que usavam, fiquei indignada. Imediatamente concordei em ajudá-los. Horrorizou-me saber que podia, de alguma forma, ser parte de alguma coisa a ver com uma empresa tão cruel. — Fez uma pausa. — Novas Espécies são pessoas para mim, ponto, assim como todos os outros. Você tem o direito de fazer qualquer coisa que os humanos fazem. É isso que você quer dizer? Odeio até mesmo fazer distinção.
Afastou-se da porta e deu um passo na direção de Ellie. Fez uma pausa.
— Você já ouviu o último protesto contra nós? Estão com medo que vamos começar a namorar com os humanos. O que você acha sobre isso?
— Você não me ouviu quando disse que acho que vocês são pessoas pra mim? Vocês têm tanto direito de viver ou estar com quem quiserem ficar como eu faço.
Ele balançou a cabeça.
— Você ficaria com um dos meus homens? Slade é bastante chegado a você.
Slade? Ellie piscou, lembrando o cara que salvou sua pele no portão. Isso veio como uma surpresa que estivesse atraído por ela.
— Não o conheço. — Não conseguia pensar em mais nada a dizer.
— Você o encontrou esta manhã.
— Bem, sei quem ele é, mas não o conheço pessoalmente. Não sei se gostaria de passar tempo com ele ou não.
— Mas se você gostasse dele, você sairia com ele? Mesmo sabendo quem ele é?
Ela observava atentamente Fury o suficiente para localizar sua raiva. Não conseguia entender o homem.
— Claro. Eu acho. Não vejo porque não. Realmente não tenho pensado nisso.
— Nossas espécies não são totalmente compatíveis. — Fury deu um passo mais perto.
Ellie deu um passo na direção oposta. Ele avançava, enquanto se afastava. Sentia-se perseguida. Sua ira irradiava dele, trazendo a certeza de que vir à sua casa tinha sido um erro. Ainda estava com raiva sobre o que aconteceu nas instalações de teste? Será que ainda quer me punir por isso? Tinha perdoado e ele fez pior. Não sentia medo dele, cortando-lhe o ar, ou sequestrando-a de um parque para amarrá-la a uma cama.
— Por que está me apoiando contra a parede? — Olhou por cima do ombro. Só faltavam mais alguns metros de espaço e, em seguida, não teria mais para onde ir. Sacudiu a cabeça e olhou para Fury. — Poderia, por favor, parar? Você está começando a me assustar.
— Você estaria com medo de mim se fosse Darren Artino ou um homem como ele? Humano?
Franziu a testa.
— Se alguém estivesse com raiva e vindo até mim, sim, estaria com medo. Você vai parar com isso?
— Percebi que não negou que as nossas espécies não são compatíveis. — Avançou.
Ellie deu mais um passo para trás e bateu na parede. Ia ficar sem espaço para colocar entre eles.
— O que você quer que eu diga? Nem sei o que te dizer. Sei que você tem a maior parte de DNA humano e não entendo o que quer dizer. Nós dois somos pessoas.
— Passei minha vida inteira dentro de uma instalação de testes. — Suas mãos apoiaram sobre a parede em ambos os lados dos ombros de Ellie. A fixou entre seu peito e braços, não a tocando.
— Sei. — Não conseguia desviar os olhos de seu lindo rosto, pairando tão perto dela. Inalou seu aroma masculino maravilhoso e lutou para evitar roçar em seu corpo.
— Erámos constantemente experiências, alterados e testados — rosnou. — Nós ainda estamos aprendendo coisas novas sobre o nosso corpo, o que fizeram em nós, e não somos humanos o suficiente para nunca nos enganar, acreditando que poderíamos ser um. Há traços de animais muitos presentes. Você pode ver algumas das mudanças, olhando para nós, mas também estão dentro de nossos corpos, em nosso DNA. Estou preocupado que se você soubesse o quanto de mim não é humano iria aterrorizar você. — Fez uma pausa. — Isso assustaria a maioria dos seres humanos, se eles percebessem o que escondemos na esperança de vivermos com eles. Queremos viver juntos, em paz, esperamos a aceitação, e apenas para sermos deixado em paz pelos grupos de ódio.
Ellie olhou para ele com curiosidade.
— Que tipo de características animais que você esconde? — Com certeza não era o rosnando. Fazia isso com frequência ou talvez seja apenas para mim.
Ele hesitou.
— Eu apenas não sou completamente humano. Não vou entrar em detalhes. Somos muito diferentes de seu povo. Nós nem sequer temos pais e se alguma vez os tivemos, nunca chegamos a conhecê-los. Esses registros não foram recuperados, nos levando a acreditar que foram destruídos. Nossas infâncias foram completamente diferentes. Tanto é assim que temos muito pouco em comum.
— Como foi sua infância?
Sua mandíbula cerrou.
— Me lembro de ter medo, de estar sempre preso. Lembro-me da escuridão que me aterrorizava e depois da dor. Sempre me levavam para baixo e injetavam em mim com todas aquelas agulhas. Lembro-me — ele sussurrou — Dor e o terror foram sempre meus companheiros de infância.
Lágrimas encheram os olhos de Ellie. Estendeu a mão sem pensar e colocou a palma aberta em seu braço.
— Sinto muito. — Quis consolá-lo.
Fechou os olhos, levou muito tempo, respirou fundo, e depois os abriu.
— Eles me mudaram. Lembro-me do choque quando meus dentes de leite caíram e meus novos dentes eram mais longos e mais afiados. Não tinha um espelho, mas eu podia sentir a diferença. Podia sentir meu rosto, sabia que não se parecia com os técnicos ou os médicos. No momento em que cheguei à puberdade minha musculatura tinha crescido porque estavam me enchendo com drogas para alterar meu corpo. Sabia que não era certo, meu corpo mudou, que estavam me fazendo diferente com as drogas, mas não paravam de me dar.
— Sinto muito, muito mesmo, Fury. — Arrastou sua mão um pouco mais alto, então abaixou, acariciando-o. — Estavam tão errados em fazer isso.
— Sei que sim. É um pouco confortante saber que algumas das pesquisas que fizeram eram para criar drogas para ajudar os humanos doentes quando uma vida inteira de memórias dolorosas me assombra. Agora, existem grupos de pessoas, milhares delas, que me querem morto só porque alguém me jogou no inferno quando criança e me obrigaram a suportar o pesadelo. Sofremos pelo benefício dos humanos e para Mercile ganhar dinheiro. — Limpou a garganta. — Estou cansado de sempre me sentir do lado de fora da vida por ser diferente — respondeu asperamente. — Sabia que algo me fez único pelo tanto que me lembro. Olhava para eles, sentia meus dentes e a face, notava as diferenças do meu corpo, e então comecei a prestar atenção ao que diziam. Com o tempo fui capaz de aprender o suficiente para descobrir o que faziam conosco e por que. Sentia-me tão só e via somente humanos até... — Fechou a boca.
— Não te culpo por odiar todos em Mercile. Não ajuda ouvir que algo de bom veio disso?
— Não — ele rosnou suavemente. — Talvez. Não sei. Odeio o que fizeram conosco.
— Também. O que você ia dizer sobre vendo somente aqueles humanos até? Você parou.
Seu olhar escuro estreitou, olhando para ela, e limpou a garganta.
— Até que trouxerem uma mulher em minha cela. Ela era dos Novas Espécies e foi a primeira vez que vi alguém que se parecia comigo. Queriam ver se nós poderíamos reproduzir. — Olhou para a parede ao lado de seu rosto, fixando-se lá. — Nos forçaram a ficar juntos algumas vezes, mas nunca funcionou. Não éramos capazes de produzir filhos. — Sua mandíbula ficou tensa antes de voltar o seu olhar. — Fiquei contente. Não queríamos que tivessem sucesso em trazer uma nova vida para aquele inferno.
Ellie mordeu o lábio e abaixou a mão.
— Ouvi algo sobre isso com as mulheres — admitiu. — Não é justo o que fizeram com vocês. Estavam errados e era só maldade em fazer isso, Fury. Chamo essas pessoas de totais idiotas, sem um pingo de inteligência ou compaixão.
Fury procurou seus olhos, olhando profundamente neles.
— Você tem medo de mim, Ellie?
Ela hesitou.
— Tenho quando você está irritado, mas você me assusta, tendo DNA animal ou não, para ser honesta. Você é um homem grande.
Todo o seu corpo caiu, sua tensão diminuindo.
— Não queria te machucar na minha cama, derramando seu sangue.
Não esperava que dissesse isso. Soltou o ar que a engasgou. Seu coração disparou e então se forçou a se acalmar. Fury a observava em silêncio.
— Acredito em você.
— Não acho que teria te machucado se não fosse pelo que fizeram comigo. Não teria dentes afiados.
Ellie não sabia o que dizer. Engoliu o caroço que se formou dentro de sua garganta. A atração que sentia por Fury era forte, admitiu que sempre teve, desde o dia que colocou os olhos nele. Pensou no que fez a ela em sua cama, por muitas noites, uma realização de fantasia, de sua mente cheia de lembranças eróticas durante o sonho. Foi fantástico até essa última parte, quando de repente se retirou dela e Justice chegou.
— Agradeço ao seu Deus que não fiz as coisas que queria fazer com você.
Ellie de repente estava toda aquecida.
— O que...? — Teve que engolir. A voz dela quebrou. — O que você queria fazer? — A pergunta saiu num sussurro.
Seus olhos brilharam alguma emoção que não conseguia identificar.
— Realmente te assustaria. Nós não somos sexualmente compatíveis em todos os sentidos.
Ellie olhou para ele. Abriu a boca para perguntar o que quis dizer com isso. Fury de repente se afastou para longe da parede e virou as costas para ela. Afastou-se, uns bons dois centímetros os separavam.
— Seu quarto será a primeira porta à direita pelo corredor. Fique à vontade. Vou correr até o escritório de segurança e pedir um passe temporário para você, mas por enquanto deve ficar dentro da casa. Vou certificar que suas coisas estejam a caminho. Há muita comida na cozinha, se você estiver com fome. — Saiu da casa e bateu a porta.
Ellie inclinou-se contra a parede por um longo tempo olhando para a porta pela qual desapareceu completamente. O que ele queria fazer comigo naquela noite? Fechou os olhos, abraçando seu corpo. E por que de repente gostaria de saber muito, muito? Droga!
* * * * *
Fury saiu de casa antes dele totalmente fazer papel de bobo, agarrando Ellie, enterrando o nariz contra sua garganta, e inalar seu perfume maravilhoso. O desejo de abraçá-la era tão forte fisicamente, que doía.
Lamentou dizer-lhe que não eram sexualmente compatíveis. Só disse isso para chocá-la. Estava muito perto, estavam sozinhos, e queria fazer uma centena de coisas com ela. É por isso que andava em um ritmo acelerado para colocar distância entre eles.
Em vez disso se concentrou em sua ira. Poderia ter sido sequestrada, levada por estar apenas associada aos Novas Espécies, e isso o enfurecia. Ela se preocupava com seu povo, havia arriscado sua vida para salvar a sua espécie, em primeiro lugar, trabalhando disfarçada no interior das instalações de teste e, novamente, protegendo suas mulheres quando o dormitório foi invadido. Ficou sozinha para enfrentar os violentos invasores, a fim de ativar as portas de aço para proteger as mulheres.
Que foi a primeira coisa que ordenou mudar. Os seres humanos fizeram a asneira de não instalar paredes reforçadas para proteger o primeiro andar, bem como os pisos superiores. O painel de controle principal também devia ter sido instalado onde estivesse protegida.
Seus olhos o perseguiam, tão azuis e bonitos, podia olhar para eles todos os dias e nunca se cansar da vista. Seus dedos doíam para tocar sua pele suave, pálida, e percorrer através de sua macia cabeleira loira. Sua voz soava doce como puro mel, macia e ligeiramente rouca. Se soubesse que podia manter um controle sobre seu desejo de tocá-la, teria ficado, e puxado dela mais informações pessoais. Precisava saber tudo sobre ela, mas o desejo de estar mais perto dela se tornou muito forte.
Agora que ela voltou, viveria sob o seu teto. Não estava disposto a deixá-la ir. Poderia cuidar dela e do seu povo, ao mesmo tempo. Não desapontaria Justice, por não fazer seu trabalho, mas Ellie estaria lá quando voltasse para casa. Um pequeno sorriso curvou seus lábios.
Ela estava dentro de sua casa. Sua velocidade aumentou. Quanto mais rápido lidasse com tudo o que precisava fazer, mais cedo seria capaz de vê-la novamente. Só precisava ir devagar e evitar assustá-la, senão poderia querer fugir. Teria de ser paciente. Não era sua melhor característica, mas aprenderia por ela.

Fury - novas espécies 1 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora