Cap-14

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— Eu sou o diretor técnico, Rune. Tenho que ir para onde precisam de mim, e agora é Oslo.
Eu não disse nada. Eu não ligava que ele era o maldito diretor técnico de uma empresa com problemas. Eu estava furioso porque ele só tinha me contado agora. Eu estava furioso porque íamos embora, ponto-final.
Quando fiquei quieto, meu pappa disse:
— Estou juntando nossas coisas, filho. Esteja no carro em cinco minutos.
Quero que você fique esta noite com Poppy. Quero dar pelo menos isso a você.
Lágrimas quentes se formaram nos meus olhos. Virei o rosto, assim ele não poderia me ver. Eu estava com raiva, com tanta raiva que não conseguia impedir as malditas lágrimas. Eu nunca chorava quando estava triste, só quando sentia raiva. E naquele momento eu estava tão furioso que mal podia respirar.
— Não será para sempre, Rune. Uns poucos anos no máximo e estaremos de volta. Eu prometo. Meu emprego, nossa vida, é aqui na Geórgia. Mas tenho de ir para onde a companhia precisa de mim. Oslo não será tão ruim; é de onde somos. Você sabe que sua mamma vai ficar feliz por estar perto da família de novo. Achei que você também poderia ficar.
Não respondi. Porque uns poucos anos sem Poppy eram uma vida toda. Eu não ligava para minha família.
Eu estava perdido, observando o movimento das ondas, e esperei o máximo que pude antes de me levantar. Eu queria encontrar Poppy, mas ao mesmo tempo não sabia como dizer a ela que estava indo embora. Eu não suportava a ideia de partir seu coração.
A buzina tocou e corri para o carro, onde minha família esperava. Minha mamma tentou sorrir para mim, mas eu a ignorei e deslizei para o banco traseiro. Enquanto saíamos da costa, fiquei olhando pela janela.
Senti um toque de mão no meu braço e me virei. Era Alton apertando a manga da minha camisa. Sua cabeça estava pendida para o lado.
Desalinhei seu cabelo loiro bagunçado. Alton riu, mas o sorriso logo se apagou, e ele ficou olhando para meu lado durante toda a viagem até nossa casa. Achei irônico que meu irmãozinho pudesse entender quanta dor eu sentia, mais do que meus pais.
A viagem para casa pareceu durar uma eternidade. Quando paramos na nossa entrada, praticamente mergulhei do carro e corri para a casa dos Litchfield.
Bati na porta da frente. A sra. Litchfield atendeu em apenas uns segundos. No momento em que ela me viu, seus olhos se encheram de pena. Ela deu uma olhada pelo jardim para minha mãe e meu pai tirando as coisas do carro. E fez

um pequeno aceno para eles. Ela também sabia.
— A Poppy está? — dei um jeito de perguntar, empurrando as palavras pela minha garganta apertada.
A sra. Litchfield me puxou em um abraço.
— Ela está no bosque florido, querido. Ficou lá a tarde toda lendo. — A sra. Litchfield beijou minha cabeça. — Eu sinto muito, Rune. Minha filha vai ficar de coração partido quando você for embora. Você é a vida dela.
Ela também é minha vida, eu queria dizer, mas não consegui falar uma só palavra.
A sra. Litchfield me soltou e me afastei, pulando da varanda e correndo até o bosque.
Cheguei lá em minutos e logo avistei Poppy sob a nossa cerejeira favorita. Parei, ficando bem fora de vista, enquanto a observava lendo seu livro, com fones de ouvido roxos sobre a cabeça. Galhos repletos de pétalas cor-de-rosa de cerejeira pendiam ao redor dela como um escudo protetor, abrigando-a do sol forte. Ela usava um vestido branco curto sem mangas e um grande laço branco preso na lateral do cabelo castanho. Parecia que tinha entrado em um sonho.
Senti um aperto no coração. Eu via Poppy todos os dias desde os meus cinco anos. Eu dormia ao seu lado quase todas as noites desde os doze anos. Eu a beijava todos os dias desde os oito e a amava com todas as forças por tantos dias que parei de contar.
Eu não tinha ideia de como viver um dia sem ela perto de mim. De como respirar sem tê-la ao meu lado.
Como se tivesse sentido que eu estava lá, ela desviou o olhar da página do livro. Quando apareci no gramado, ela me deu o maior sorriso. Era o sorriso que ela tinha só para mim.
Tentei sorrir de volta, mas não consegui.
Caminhei com dificuldade pelas flores de cerejeira, o caminho tão repleto de pétalas caídas que parecia um riacho rosa e branco sob meus pés. Observei o sorriso de Poppy sumir à medida que eu chegava mais perto. Eu não conseguia esconder nada dela. Ela me conhecia tão bem quanto eu mesmo. Ela percebeu que eu estava aborrecido.
Eu disse a ela antes, não havia segredos comigo. Não com ela. Ela era a única pessoa que me conhecia completamente.
Poppy ficou parada, movendo-se apenas para tirar os fones de ouvido da cabeça. Ela colocou o livro ao lado dela no chão, passou os braços em torno das

pernas dobradas e apenas esperou.

Mil beijos de garoto Onde histórias criam vida. Descubra agora