Alvório

Capítulo 7

 - Espera um minuto esse aquela coisa saiu daquele livro? - Lily disse apontando para fricassê em seguida para o livro.

- Foi isso que eu disse das últimas cinco vezes que você perguntou, Lily - Alice fala com um tom de voz monótono cruzando os braços.

- Mas isso é sério...

- É sério mesmo, agora vem me ajudar a olhar os livros daqui desse lugar - Alice corta Lily e se virando para as prateleiras do escritório.

- Livros? Se eu quisesse ler, eu tinha ido para a escola! - ela falou de modo protestante, mas ao ver que sua irmã havia pegado mais de três livros, não teve escolha a não ser pegar alguns livros.

As duas levaram os livros para a mesa que tinha lá e começaram a ler alguns deles, curiosamente todos que pegaram eram de mesmo autor "Rubens Carfa" o que era estranho, mas assumiram ser o único escritor de Alvório ou coisa parecida como o mais famoso ou aclamado.

Alice lia um livro sem título de capa azul manchado, porém em sua coluna achava-se um pequeno e dourado número 1 então a morena decidiu começar pelo mesmo, nas primeiras páginas se dizia:

"Dia 17 de novembro de 1502, minha tripulação foi estabelecida para esta incumbência nesta ínsula, achada entre 1403 e 1423 para simplesmente ser designada em 1500 para exploração, sucederam assim dois anos se transpuseram apenas para ordenar os suprimentos da deslocação no momento em que haviam preparado pela vasta gama de escravizados, portanto, tão logo finalizado a labuta partimos rumo ao incógnito."

"Dia 20 de novembro de 1502, minha tripulação e eu estamos em alto mar e a atmosfera do barco está consideravelmente calma o tempo está, pois sereno, os céus, não tem algum indício de temporal a tripulação está em êxtase e empolgada com a viagem não poderei expressar da mesma alegria apesar de ser jovem e não experiente quanto meus companheiros de viagem pressinto uma forte tempestade que pode chegar a qualquer momento."

As próximas páginas diziam sobre a viagem tal qual foi tranquilo até o dia 25 de dezembro, onde as coisas desandaram:

"25 de dezembro de 1502, minha intuição estava certa, há uma forte tempestade ao lado de fora, três de meus homens caíram nas profundezas do mar, só me restaram 4 homens e 2 mulheres, sendo que 2 deles estão golpeados e uma de minhas mulheres está gravemente ferida vir a esta viagem foi imprudente!"

"30 de dezembro de 1502, depois de cinco dias em tempestades fortes e mares violentos, atingimos terra firme, não sabemos se estamos na tão famigerada ilha, mas nossas preocupações agora estão nos feridos."

"Dia 7 de janeiro de 1503, além da praia, há uma floresta densa que decidimos a explorar para caso encontremos suprimentos que nos ajudem, adentro da floresta avistamos muralhas altas e grandes portões que davam para a entrada de um aparente reinado, com certa facilidade nossa equipe de exploração entrou pelos portões o império, era grande em relação a outros que visitei em minha época de tripulante, mas enquanto explorávamos alguns guardas acharam-nos e fomos levados ao monarca, a língua que eles falavam era estranha e impossível de se entender aos nossos ouvidos, mas o rei, um homem culto, sabia nos dizer algumas coisas em inglês, de difícil compreensão para nós, mas não impossível entre palavras inacabadas e suposições ele nos disse seu nome, Robert, disse-nos também que poderíamos ficar em Alvório, como ele chamou o reino, desde que trabalhássemos para ele assim o fizemos."

"Diário de bordo, tem demasiado tempo que não escrevo creio que se passaram meses desde a última vez que escrevi aqui não me recordo em que dia ou mês estamos mais, porém, minha tripulação e eu começamos a trabalhar para Robert, estranhamente é agradável, descobrimos que os aldeões eram bem receptivos e comunicativos creio que poderíamos passar anos a fio aqui ou mesmo morar aqui, Alvório é um reino com uma extensão e terra maravilhosos para plantio o clima aqui pode não favorecer para nós, mas quando plantei uma espiga de milho no chão ela cresceu quase de imediato dando flores de milho lindas, meus parceiros feridos e nocauteados estão bem melhor a essa altura eles têm o pensamento, creio eu, o mesmo deste que vos fala, penso que se continuarmos assim moraremos em Alvório."

"Acredito estarmos em 1517 agora, a medida que nossos anos aqui se passam meu envelhecimento parece mais devagar apesar de estar agora aos meus trinta e cinco anos me sinto como se estivesse no início desta viagem quando tinha meus por volta dos vinte, alguns animais nesta ilha são bem estranhos vi uma pequena ninhada de gansos com seis asas cada quando chegamos e uma espécie de ratazana alada que quase me acertara uma pequena pedra de cor roxa quando a avistei pela primeira vez, gostaria de ter mais cadernetas para anotar minhas pesquisas sobre esta ilha, mas temos somente uma biblioteca com livros escritos em alvoriano, a língua dos nativos era de difícil compreensão para mim, mas com o tempo fui entendendo mais essa linguagem nova."

"Não me recordo de que ano estamos e não me interessa mais saber, meu braço direito Carlo começou sua família com uma de nossas amigas, Elisabeth, desejo toda a felicidade para eles inclusive descobrimos que Elisabeth está grávida, mas uma questão que me deixou demasiado animado, consegui achar algumas cadernetas sem nada escrito dentro, logo comecei a fazer minhas anotações, não que eu seja de grande intelecto e muito menos o melhor para este trabalho, mas vou fazer o que posso para ser bem-sucedido no mesmo, comecei pelos gansos que vi quando chegamos aqui no império, porém em minha procura consegui achar apenas um deles, era um filhote pequeno e esbranquiçado, lembro me de perguntar sobre terem deixado somente este filhote, talvez tenham o rejeitado ou migraram sem ele, estas coisas podem acontecer no mundo animal, então com dó do pequeno animal o peguei com as mãos com cuidado o levando até meus aposentos, dei-lhe o nome de Fricassê, pois ser minha comida favorita."

"Dei a Fricassê uma identificação com seu nome e a essa altura ele já é um ganso formado e com seis lindas asas, os filhos de Elisabeth já nasceram e são um par de gêmeos lindo e saudável, o trabalho para o rei é bem monótono e tranquilo, mas esses últimos dias comentei com minhas colegas de trabalho que Robert andava com um comportamento um tanto quanto estranho, mas nenhuma delas disse perceber este comportamento, ele não falava direito para alguém tão extrovertido, já o peguei diversas vezes errando palavras simples tanto em inglês quanto em alvoriano, o que achei bem estranho, sua silhueta estava estranha, a meu ver, ele era mais baixo e bem mais rechonchudo, agora está alto e magro, mas sempre que percebo como um passe de mágica ele volta a ser o velho e gordinho rei que conhecíamos, tudo aquilo estava me deixando perturbado, mas esse sentimento foi sumindo com o tempo."

"Minhas colegas de trabalho começaram a sumir aos poucos, imaginei que fosse pelo surto de uma doença (com um nome tão difícil de se escrever que não me darei o trabalho) então apenas ignorei, mas não deixei de achar estranho, meu trabalho com a pesquisa está indo devagar, mas está indo bem, descobri várias espécies de animais novos que os batizei de acordo com alvoriano, Fricassê é um ganso amigável com todos os humanos, mas um detalhe que vem me incomodando é de que ele às vezes some e surge alguns minutos depois em meu escritório com um livro ao seu lado com uma ou duas folhas rasgadas."

Alice leu a penúltima página e leu a última com um certo espanto, com uma letra garranchada e apressada a última página do último diário dizia:

"Foi um erro termos vindo a esta ilha! Foi um erro termos até mesmo cogitado vir nesta viagem! Estava limpando um armário fundo no castelo e vi por uma fresta Robert, ou oque deveria ser ele, se transformar em uma criatura que nem mesmo os livros de ficção mais loucos seriam capazes de imaginar tamanho horror e feiura daquela monstruosidade! Ele matou um a um de meus companheiros que me restavam até seus filhos! Esse monstro não é mais o rei que um dia pensei conhecer! Ele não é o Robert! Sei que ele sabe! Seus homens estão batendo em minha porta, ouvi eles dizendo que serei exilado na torre perto do castelo, Fricassê sumiu novamente e meus amigos estão todos mortos, isso é um aviso para você que lê este diário, não confie jamais no Scallbutan! Sinto minha cabeça explodir em dor de tantas vozes nela, estou a beira da loucura! Ele irá matar todos nós! Não... Ele irá me matar!..."

No último verso da folha tinhas uma mancha de tinta preta na qual foi feita por uma caneta-tinteiro que todos os diários foram escritos e um pequeno rasgo como se tivesse sido arrastado.

Alice olhou para Lily com um olhar horrorizado e sua irmã retribui com o mesmo olhar.

- Então aquele homem na torre é o... - Lily começa, mas é interrompida por Alice

- Rubens Carfa...