18 | marrom realista

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O realista e sombrio, expressa uma paleta terrena que reflete o pragmatismo da minha realidade.

🎨

Julho, 2021.

Os pequenos sinos presos à porta badalaram, trazendo uma melodia à cafeteria naquela manhã de temperatura agradável e cheiro de café.

Irene entrou na sua loja com um sorriso caloroso nos lábios, pronta para mais um dia de trabalho. No entanto, ao olhar para o balcão e ver Jinnie limpando o granito, seu sorriso se fechou lentamente. Sua funcionária estava concentrada na limpeza, aparentemente alheia à sua presença, entretida demais nas vozes da sua mente. Ela suspirou, questionando-se se era uma boa patroa. Jinnie deveria trabalhar apenas no período da tarde, mas desde que voltou da folga devido ao luto, ela estava indo trabalhar o dia todo, sempre com uma desculpa diferente.

Irene não sabia se aquilo era uma válvula de escape ou se Jinnie se sentia sozinha demais e queria se entreter no trabalho. Ainda assim, independentemente do motivo, não era saudável.

Jinnie, ao perceber a presença de Irene, ergueu a cabeça com um sorriso gentil nos lábios, pronta para cumprimentar o novo cliente. Ao ver quem era, seu sorriso se tornou amarelo, e ela desviou o olhar por um instante, sem saber o que fazer.

— Bom dia, chefia — cumprimentou, voltando a encarar a mulher com um sorriso trêmulo.

— O que você está fazendo aqui, Jinnie?

— Acordei cedo, arrumei a casa e não estava cansada — respondeu, dando de ombros e mantendo o tom baixo. — Então resolvi vir trabalhar mais cedo...

— Bem cedo mesmo, né? Você viu a hora? — Irene parou atrás do balcão, jogando a bolsa em cima do granito e colocando as mãos nos quadris.

Jinnie sorriu encabulada, sem saber o que responder. Tinha a chave da cafeteria, estava sem nada para fazer e resolveu ir trabalhar. Não era um crime.

— Jinnie, o sol literalmente acabou de nascer. O horário de pico ainda nem começou e eu vim abrir a loja agora porque é esse o horário de abrir. Querida... o que você está fazendo aqui?

Jinnie sentiu o choro entalado na garganta querer sair, e mesmo que engolisse em seco para controlar aquilo, não conseguiu. Seus olhos não responderam ao seu comando e logo ela estava chorando com o grito silencioso entalado na garganta.

— Ah, querida... — Irene deu a volta no balcão e abraçou a funcionária amiga.

Jinnie se agarrou a ela como se fosse sua única esperança naquele mundo de sofrimento. O choro entalado por dias saiu com soluços tão dolorosos que fizeram seu peito apertar. Sentia-se tão sozinha naquele mundo grande que nem conseguia dormir direito naquele silêncio perturbador que sua casa se tornou. Não sentia que tinha mais nada pelo que viver, mas como era obrigada a continuar, resolveu trabalhar até o cansaço corporal chegar, assim conseguiria dormir sem se preocupar com mais nada.

Era difícil não ter mais um porquê de viver.

— Tudo bem, tudo bem chorar. Nossos olhos sabem quando estamos cansadas e doloridas, então não tem problema mostrar que você está sofrendo. Isso significa que você é humana, nada mais — falou Irene, afagando a cabeça enfiada no seu peito.

Jinnie tentou engolir o choro, mas não conseguiu. Continuou soluçando entre os braços da mulher que lhe deu um trabalho com um sorriso grande quando explicou sua situação. Devia muito a ela, e queria retribuir do único jeito que conhecia: trabalhando. Irene foi uma amiga e tanto nos últimos meses; apoiou quando precisou, liberou mais cedo quando precisava ir ao hospital e sempre se prontificou a emprestar dinheiro caso precisasse. Aquilo era especial demais para Jinnie. Talvez por isso não conseguiu suportar o grito que seu peito queria dar e acabou desabando na presença dela.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora