Cicatrizes

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As terras da Irlanda eram muito conhecidas pela ruiva, pois era seu país natal. Quando chegaram em terra firme, venderam os barcos para camponeses perto de um pequeno vilarejo em troca de cavalos. Alguns habitantes se assustaram com os lobos enormes e ferozes de Maeve. Eles causavam medo e espanto, mas também admiração e ambição. Aquelas criaturas seguiram por dentro da floresta para não chamar atenção com um simples sinal de cabeça de sua dona. Hadgar estava bem preso no colo de sua mãe, com panos em volta do corpo como uma pequena bolsa para carregá-lo de deixar as mãos livres. O menino dormiu os dias de viagem, sendo acordado unicamente para comer, bocejar e voltar ao sono. Que ótimo, pensou Maeve enquanto o segurava.

À medida que cavalgavam pelas trilhas sinuosas e desconhecidas, Maeve sentia uma mistura de familiaridade e nostalgia. Cada colina e vale contavam histórias de sua infância, e ela se lembrava das noites passadas ao redor de fogueiras, ouvindo contos de bravura e mitos antigos. Mas agora, ela não estava ali como uma simples irlandesa, mas como uma guia para seus companheiros vikings, que buscavam novas alianças, amizades e aliados na guerra futura.

Ubbe observava Maeve atentamente, admirando sua conexão profunda com a terra. Ele sabia que sua expertise era crucial para a sobrevivência e prosperidade deles naquela nova terra. O peso da responsabilidade pairava sobre seus ombros, mas ele estava determinado a fazer o que fosse necessário para garantir a segurança dela, de seu filho e seu irmão.

Hvitserk, por outro lado, parecia mais descontraído, embora seus olhos estivessem sempre atentos. Ele estava animado com a perspectiva de novas aventuras e possibilidades. A ideia de interagir com os irlandeses e aprender sobre suas tradições e táticas era algo que ele abraçava com entusiasmo.

No entanto, ao caminhar por aquela floresta. Árvores altas e troncos cobertos de musgo, a trilha era aberta no chão e alguns cantos com gramas cobertas de folhagens secas que caiam, o som dos pássaros eram ouvidos de longe e o uivar dos lobos também. Eles eram mais rápidos que os cavalos, mas esperavam pacientemente sua dona para acompanhá-los.

Já fazia muito tempo, muito, mas muito tempo e Maeve sentia tudo que pôde sentir ao cavalgar por entre aquela trilha. Andou ali com o exército russo quando seu povo foi completamente massacrado. Suas cicatrizes já não doíam tanto, porém parecia que naquele instante onde reconheceu aquele lugar, a dor percorreu por volta daquelas marcas. Não que seus sentimentos tivessem mudado, pois antes era tudo muito intenso e se via com lágrimas nos olhos e pés machucados de tanto caminhar. Porém, agora somente se via suspirando fundo, agoniada e rezando aos deuses para que aquele caminho acabasse logo.

— Está tudo bem, meu amor? — a voz de Ubbe despertou a ruiva de seus pensamentos e ela olhou para ele, com um semblante triste — Se quiser, podemos parar um pouco para...

— Não é necessário. — Maeve respondeu simples e rápido.

Engolindo em seco o nó de desconforto em sua garganta. Ubbe entendia muito bem o que ela estava sentindo, por isso não quis insistir. Parar para acampar naquela trilha só causaria mais agonia em sua amada e ele não queria isso.

Desde que entraram no barco e o mar era outro nas terras da Irlanda, Maeve apenas se sentiu minúscula perto de tudo que passou. Seus traumas, seus medos, suas fraquezas estava tudo tão intensificado, mas precisava daquilo.

Ela queria um exército.

Ela queria aliados.

Ela queria vingança.

E não seria fácil.

Não está sendo fácil, mas não é importante como me sinto agora, ela pensou enquanto segurava as rédeas do cavalo e olhava algumas vezes para Hadgar em seu colo com panos em volta como uma bolsa e na floresta, onde estavam seus lobos. Galhos quebrados, uivos e pássaros voando desesperadamente nos céus, era um sinal claro que as criaturas estavam caçando.

I See Fire - Ubbe RagnarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora