Capítulo 27

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De La Cruz narrando

Abri os olhos pela manhã e Mahelí estava com o rosto muito próximo ao meu, o coração reagiu na hora.
A observei em silêncio, passei a mão em seu rosto e tirei uma mecha de cabelo que o cobria.
Mahelí abriu os olhos vagarosamente, as lágrimas que estavam presas escorreram por seu rosto.

- Bom dia. Você é tão perfeito. - Ela sussurrou olhando meus olhos. - Como está se sentindo?

- Bom dia. Obrigado por cuidar de mim, estou melhor do que mereço. - Ouvi-la dizer que eu era perfeito me doía. Isso é uma covardia sem tamanho.

- Que bom ouvir que está bem. - Ela se chegou para frente e enfiou o rosto no meu peitoral, segurou meu casaco, na altura do tórax, enrroscou as mãos ali e se aninhou. - Só preciso de mais vinte minutos de sono. Não fuja. - Peguei o celular para ver a hora, para ver se daria tempo de fazer o almoço.

Sentir o cuidado e o carinho de Mahelí é melhor que morfina, poderia me acostumar facilmente a isso.
Cobri suas costas e relaxei, sentindo seu cheiro de âmbar fresco.
Fiquei ali pensando no que ela falou, como eu queria ser um canalha e roubar um beijo de Mahelí.
Parece que ela marcou vinte minutos cravados, deve ser coisa de médico, pois quase não tem tempo para dormir.

- Como você dormiu vinte minutos cravados? - Perguntei curioso.

- Não sei. - Ela sorriu.

- Vamos tomar café da manhã? Você não pode ficar sem se alimentar. - Levantei e a deixei deitada. Fui no banheiro e voltei. Mahelí estava sentada na beirada da cama, ao me ver se levantou para descer juntamente comigo.

- Ai. - Ela falou e não consegui dar outro passo. Mahelí segurou a barriga e olhou para meu rosto.

- O que foi? - Eu a olhei com desespero no olhar e congelei no mesmo lugar.

- Estou sentindo muita dor. - Ela franziu a sobrancelha e segurou a barriga por baixo.

- Foi a escada, está vendo? - Passei a mão no rosto, nervoso. - Senta novamente. - Cheguei perto dela para tentar ajuda-la a sentar. A parte que ela estava sentada na cama, estava cheia de sangue.

- O que foi? - Ela viu minha cara ao olhar a cama atrás dela. Mahelí se virou para olhar. - Meu Deus! De La Cruz, será que estou perdendo meus bebês?

- Calma, está bem? Não vamos pensar em coisas ruins. Deita aqui. Vou pegar uma roupa para você e absorvente, vamos para o hospital.

- Vai sujar ainda mais a sua cama. - Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.

- Você acha que estou preocupado com isso? - Segurei seu rosto. - Cama eu mando limpar ou compro outra. Você e os bebês são minha única preocupação, entendeu? Deite. - Mahelí deitou e eu desci as escadas correndo, fui até seu quarto e peguei as coisas. Ainda bem que ela tinha comprado absorventes junto com os remédios, facilita a vida quando a pessoa pensa a frente.

Mahelí tomou banho e se vestiu, fiquei do lado de fora ansioso. Após se vesti, desci as escadas com ela no colo.

- De La Cruz, obrigada. - Ele falou  quando a coloquei no chão.

- Desculpe. - Abaixei a cabeça. - Foi por minha causa. - Meu coração estava dilacerado.

- Ei, não faz isso. - Ela segurou meu rosto. - Olha para mim. Olha para mim, por favor. - Ela começou a chorar. - Eu faria novamente se fosse preciso, você não pediu para ficar doente. - A puxei para um abraço.

- Nem você para ter placenta descolada. Desculpe, Mahelí. Estou com tanto medo. - Tentei ser forte, mas a essa altura eu já estava me entregando as lágrimas. - A dor que senti ontem foi a pior de todas, esqueci de tomar um remédio. Mas agora te vendo nessas condições... - Minha voz embargou.

- Vai ficar tudo bem. - Ela falou em meio as lágrimas. - É normal esqueceremos das coisas. E eu que não me atentei às escadas, só queria cuidar de você.

- Se você perder os bebês por minha causa, não me perdoarei.

- Pare com isso. - Ela estava chorando muito. - Nada vai acontecer, ok? Se eu perder foi porque já estava determinado, não quero que se culpe por nada.

- Vamos logo para o hospital, por favor. Estou desesperado e aflito. 

- Primeiro vamos tomar café. Você tem que se alimentar. - Ainda estávamos abraçados. Ela soltou os braços, que estavam ao redor da minha cintura e segurou minha mão. - Vamos?

- Mahelí, eu estou aqui aflito e você está falando de café da manhã para mim?

- Sim. - Caminhamos lentamente até a cozinha, a deixei sentada e fiz o café da manhã o mais rápido que pude.  Logo após, nos alimentarmos, fomos para o hospital.

Mahelí foi examinada, o descolamento aumentou. Ela terá que ficar alguns dias no hospital, poderei ficar com ela.
A colocaram no medicamento. Falei que tinha que fazer uma ligação e sai da sala.

- Alô, De La Cruz. Eu ia te ligar agora. Peguei os novos exames. Não é que estava errado, o laboratório falou que meu exame foi trocado. - Alix atendeu empolgado.

- Que bom que tudo se esclareceu. Tenho que te falar uma parada mano. - Falei logo, sem rodeios. - Mahelí está no hospital, está correndo um sério risco de perder os bebês.

- O quê? Estou indo para aí.

- Alix, ela ainda não quer te ver. Se você aparecer vai ser pior, ela tem que evitar estresses e desgastes. Não faz cena, pelo amor de Deus. Antes de querer entrar e falar com ela, você precisa perguntar se pode.

- Eu fico do lado de fora, se for preciso. Eu só quero ver como ela está. Ela está bem, mano? - Havia preocupação em sua voz.

- Não, ela não está. Está chorosa. Dá para ver que está com medo.

- Estou indo para aí.

Ele desligou o telefone e eu fui para onde Mahelí estava.
Recebi uma mensagem, tinha que encontrar um sócio. Ele estava chegando, sem avisar antecipadamente.
Me irrito fácil quando tenho que encontrar alguém que não está programado. Ainda mais nessas condições que Mahelí está, queria ficar aqui com ela.

Falei com Mahelí que estava indo encontrar alguém, mas que já voltaria.

- Alix está vindo para cá. Ele não entrará, a não ser que você permita. Ele pegou o resultado dos exames, viu que o anterior estava errado. Já estamos a meio caminho andado.

- Leve seus medicamentos, vou te ligar para saber se você os tomou. - Ela ignorou claramente o que eu estava falando sobre Alix. - Atenda quando eu ligar, vou querer ouvir sua voz, para saber se você está bem. Caso demore eu vou te perturbar até me atender, se não atender eu vou atrás de você.

- Sim senhora. - Falei brincando.

- Acho que por isso você nunca quis se casar, para ninguém te controlar. - Ela sorriu.

- Esse era um dos motivos. - Sorri para ela. É cada mulher surtada. Mas foi um trauma mesmo, por isso não quis me casar nunca mais. A mulher que amei abortou meu filho e se casou com outro homem, eu estava disposto a tudo por ela e ela abriu mão de tudo. Éramos novos, eu tinha dezoito anos. - Sorri. - Os pais dela não aceitavam a relação. Mas eu a perdoou, não quero levar isso comigo para o caixão. Até porque tive a oportunidade de me apaixonar novamente e conviver com ela, por mais que eu não possa ser o seu amor, pelo menos a tenho em minha vida. Enfim, é isso.

- Mas existem amizades que é como um casamento e essa é uma delas. Não fique sem comer por muito tempo, me atenda quando eu ligar e tome seus remédios. Por favor.

- Pode deixar, digo o mesmo para você. Me ligue se precisar de algo, paro o que estiver fazendo e corro para cá.

- Está bem. Obrigada. Cuidado.

- Já volto. - Dei um beijo demorado em sua testa e sai.

Fake Love - Triologia 1°Onde histórias criam vida. Descubra agora