Obsessão doentia

A guerra nunca termina.

"Existe alguém esperando por você

Que vai comprar a sua juventude

E convencê-lo a vencer

Mais uma guerra sem razão

E já são tantas as crianças com armas na mão"

(O senhor da guerra -  legião urbana)                                                 

Hermione arrumou o malão para passar o feriado na Toca, com Harry, Ron e Gina. Embora Hogwarts parecesse segura sob o comando da diretora Minerva McGonagall, o oitavo ano estava sendo muito mais sombrio do que todos imaginaram que seria. 

Quando Harry derrotou Voldemort, eles comemoraram muito. Apesar das mortes dos entes queridos, estavam com o coração cheio de esperança de dias melhores. Gina fez planos de jogar quadribol profissional. Harry e Ron começaram a se preparar para serem aurores. E Hermione quis voltar para Hogwarts para concluir o último ano e depois pensar no que fazer da vida.

Ela queria recuperar as memórias dos seus pais, mas McGonagall a impediu.

- Ainda não é seguro, infelizmente, minha querida. O Ministério está preocupado. Tiraram os dementadores de Askaban e dezenas de comensais conseguiram fugir. Achamos que querem pegar Harry, por isso você precisa tomar cuidado redobrado.

Hermione suspirou:

- Eu sei. Vão exigir que eu dê informações sobre ele. Queria tanto ver os meus pais, professora! - choramingou.

Minerva ficou com os olhos marejados.

- Minha querida, vocês já sofreram tanto... e são apenas crianças! Tudo tão injusto! Mas agora vocês vão tentar levar uma vida normal dentro do que for possível e nós, os mais velhos, é que vamos nos arriscar para proteger vocês! Concentre-se nos seus estudos. Aqui dentro de Hogwarts, eu vou proteger você!

Hermione passou todo o semestre sem ânimo para sair da escola. Os amigos vinham visitá-la, mas nenhum deles quis voltar a estudar. Harry e Ron estavam recebendo treinamento de aurores e ficaram arrasados com os acontecimentos inesperados. Neville e Luna desapareceram. Carlinhos, o irmão de Ron, também. Ex-membros da Ordem estavam sendo capturados e o Ministério achava que os comensais fugitivos planejavam uma emboscada para pegar Harry.

- Você está protegida aqui em Hogwarts, Mione. - suspirou Ron. - Mas Gina, meus pais e o afilhado de Harry estão com seguranças particulares. Temos certeza de que eles querem Harry. Talvez para entenderem como ele derrotou Voldemort e roubarem o poder dele... 

Hermione não sentia medo por ela, mas pelos amigos. Não suportava mais perder as pessoas que amava. 

Foi por isso que ela resolveu finalmente sair de Hogwarts naquele feriado. Comer a comida caseira e deliciosa de Molly, ficar horas batendo papo com os amigos, ganhar o abraço de todos eles, se aproximar mais de Ron... era tudo o que ela mais desejava no mundo.

O relacionamento com Ron ainda estava se desenvolvendo. Eles ainda não tiveram tempo e espaço para ficarem sozinhos diante de tantas ameaças e mudanças, mas planejavam fazer isso no feriado. Hermione, que ficaria hospedada no quarto de Gina, combinou com Harry , que ficaria no quarto de Ron, de trocarem de lugar durante a noite para que pudessem aproveitar os seus namorados. 

Seria a sua primeira vez com Ron e ela estava tentando ficar animada. Ela o amava muito como amigo, mas ainda não tinha sentido borboletas no estômago e urgência em tocá-lo. Pelo contrário: os dois ainda ficavam sem graça quando se beijavam. Estava na hora de deixar a timidez de lado e terem a sua primeira vez logo. 

- Este feriado será inesquecível para todos nós! - exclamou, animada, ao aparatar na Toca.

Harry a recebeu com alegria e preocupação:

- Você veio sozinha? Precisamos pensar em contratar seguranças pra você!

-  Calma, Harry! Eles querem você, não eu. E não existe segurança melhor do que a diretora Minerva. 

- Não sei, Mione... Se me quisessem mesmo, já teriam negociado um resgate para os desaparecidos. Até hoje não recebemos notícias deles!

Hermione suspirou com tristeza. Onde estariam Neville, Luna e Carlinhos? O que poderia ter acontecido com eles? Estariam passando fome, sede? Ainda estariam vivos?

Mas tentou esquecer um pouco as preocupações quando Ron e Gina correram para abraçá-la

- Mione, querida! - Ron a beijou na boca, mas ficou vermelho de vergonha quando a mãe dele apareceu.

- Hermione! Que alegria te ver! - Molly a cumprimentou, muito comovida. Hermione reparou que ela tinha chorado. Além do luto pelo filho morto, tinha que suportar o desaparecimento de Carlinhos!

Todos foram para o jardim da Toca. Ron e Harry tinham conjurado mesinhas e Gina estava colocando frutas, doces e salgados no prato de todos. Tinha até cerveja amanteigada! Seria um dia divertido para variar. 

Mas, quando se sentaram e iam começar a comer, ouviram um estrondo. Vários comensais da morte mascarados entraram na propriedade. Um deles segurava Gina, que tinha ido buscar mais pratos na cozinha, e apontava uma varinha diretamente para o pescoço dela.

Hermione estremeceu. Os seguranças estavam do lado de fora da Toca. Não daria tempo para chamá-los. Os sequestradores queriam Harry e iam conseguir pegá-lo.

- Soltem ela! Por favor! Eu me entrego! Eu vou no lugar dela! - Harry suplicou, desesperado.

O comensal que ameaçava Gina deu uma gargalhada sombria:

- Sempre vaidoso, Potter! Tudo no mundo gira ao seu redor, não é mesmo? O menino-que-sobreviveu-por-pura-sorte...

Aquela voz arrogante e debochada! Ele não precisaria tirar a máscara para que todos o reconhecessem.

- Malfoy, seu maldito! Solte-a!!!! - Harry gritou.

- Você é tão babaca, Potter, que acha que pode dar ordens mesmo quando a sua namoradinha está prestes a ser morta... Acho bom calar a boca e me obedecer!

O senhor e a senhora Weasley se ajoelharam no chão e suplicaram, desesperados:

- Por favor, não podemos perder a nossa filha! Façam o que quiserem conosco, mas deixem Gina viver! - a senhora Weasley chorava tanto que quase não conseguia falar.

Malfoy suspirou, aborrecido:

- Se quiséssemos a sua filha ou qualquer um de vocês, já teríamos invadido a Toca. É impressionante como os Weasley são ruins em tudo, até em feitiços de proteção. - ele gargalhou com sarcasmo. 

Hermione sentiu o coração disparar e começou a tremer de medo.

- A maldita McGonagall é mesmo a melhor em feitiços. Não conseguimos entrar em Hogwarts. - Malfoy estava olhando diretamente para ela. 

- Você já entendeu, garota de ouro? Esse seu cérebro tão brilhante compreendeu, não é mesmo? Se não quiser que a sua amiga insuportável caia morta, se entregue. Agora!

- Nãããããããããããããããao!!! - Gina berrou quando percebeu que o alvo era Hermione.

- Cala a boca, sua ruiva metida a besta! Não sei como Potter te aguenta! Anda logo, Granger. Venha até aqui, ou ela morrerá!

Hermione não hesitou. Não se perdoaria nunca se Gina morresse por causa dela. 

Quando ela se aproximou o suficiente, Malfoy empurrou a ruiva no chão e a agarrou. Os comensais desapareceram de repente, sem darem uma chance para o contra-ataque.

Completamente chocados e se sentindo impotentes, Ron, Harry e Gina se abraçaram e choraram, choraram, choraram.