E se o próprio Lúcifer fosse seu anjo da guarda?
Ayla, uma gaúcha que nunca saiu do próprio estado, viveu as primeiras décadas de sua vida sob o olhar protetor de seu exótico anjo da guarda: o próprio Diabo.
Mas, com o surgimento de uma ameaça imine...
"Você se parece com um anjo Anda como um anjo Fala como um anjo Mas eu fiquei esperto Você é o Demônio disfarçado Oh, sim, você é O Demônio disfarçado"
(You're The) Devil In Disguise - Elvis Presley
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Ele bateu na porta. Houve silêncio. Ele entrou e a viu deitada na direção da parede. Ele disse "oi" e ela apenas o olhou rapidamente. Foi o suficiente para que ele pudesse ver como os olhos dela estavam inchados, provavelmente fruto de muitas horas de choro.
— Trouxe torradas — ele disse, tímido. — Não sei o que tu gosta de comer, mas recheei elas com presunto, queijo, margarina e ovos. São as minhas preferidas pelo menos.
Ela se virou na direção dele, fitando as torradas como um cão faminto, mas muito medroso. Medroso porque já sofreu demais.
Ele alcançou o prato até ela, que pegou uma das torradas e a mordeu com selvageria. O efeito foi engraçado para Jericó porque os olhos da garota brilharam assim que ela sentiu o gosto da torrada.
— Bom! — elogiou. — Tem um gosto diferente, não sei dizer.
— Orégano, eu ponho orégano em tudo.
— Realmente muito boa — ela aprovou balançando a cabeça para cima e para baixo. — Diria que é melhor que as que Lúcifer faz.
Nesse momento, o brilho nas íris morreu na mesma velocidade que seus ombros murcharam.
— Queria entender porque ele não me contou sobre o que tava fazendo, sobre o lance com os Pecados Capitais e tals. Queria saber porque mentiu pra mim exatamente como minha mãe faz.
Ela seguiu encarando um ponto aleatório do quarto, com os olhos tristes e parados enquanto mastigava a torrada. Jericó respirou fundo, sentando-se de costas para a porta.
— Temos preocupações maiores agora. — ele disse e Ayla franziu o cenho, desaprovando a fala. — Tu entende o que tu é, Ayla? Entende o que ele quer fazer?
— Não tô nem aí pro que ele quer fazer. Quero saber porque mentiu, porque me enganou.
Jericó suspirou fundo e observou o quarto ao seu redor, tudo perfeitamente organizado e colorido, mas sem vida, sem alegria. Incluindo a rosa sobre a escrivaninha que começava a murchar.
— Tu pode ser a protagonista que muda o desfecho da humanidade — ele comentou. Ela riu.
— Não quero ser a protagonista ou muito menos uma heroína — seus olhos transbordaram com uma avalanche de lágrimas. — Eu só quero ter alguém que se preocupe de verdade comigo. Eu só quero ter uma família, Jeri!
Ela despencou em lágrimas e soluços numa tristeza que partiu o coração de Jericó em fragmentos minúsculos. O queixo do exorcista se enrugou e seu peito ficou pesado e ele a envolveu nos braços, descansando a cabeça de Ayla em seu pescoço.
