Capítulo 9.1

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— Mais uma vez, bruxa! — Thomas exclama.

— Eu já estou cansada, minotauro.

Thomas, Rique, Terin, Kiran e eu estamos em uma praia, na ilha de Tharáa, treinando desde que o sol nasceu.

Já faz duas semanas desde o ataque e desde então Rique intensificou, e muito, meus treinos. Odeio admitir, mas ele estava certo quando falou para o Vane que me treinaria em dois meses, afinal se eu continuar assim, em um mês vou dominar meu dom plenamente.

Vane.

Meus pensamentos vão até ele. Desde o ataque, conseguimos ficar sozinhos algumas vezes, mas em nenhuma eu tive coragem de perguntar algo que estava corroendo meu cérebro de tanta curiosidade. Enquanto examinava seu corpo sem a camisa na sua cabine eu notei que em seu braço esquerdo havia uma marca de Rastreio, a mesma que eu levo no peito. Quando ele apareceu mais tarde naquele dia no meu quarto eu não consegui trazer isso à tona, pois quando ele tirou a camisa de novo, havia uma faixa de couro a cobrindo e eu fiquei sem coragem de perguntar sobre isso do nada.

Vane conseguia ser extremamente escorregadio quando queria e isso me deixava exasperada.

— Lys, mais uma vez e depois você tem direito a uma hora de descanso — Rique se manifesta.

— Ugh, certo — Prendo melhor o meu cabelo para que não se solte, puxo minha calça mais para cima e me preparo. 

Thomas empunha seu machado de guerra, uma arma imensa que só alguém com a sua força seria capaz de usar, e vem em minha direção.

Ergo paredes e pilares para atrasar o seu avanço e dá certo por um momento, mas logo ele está próximo o bastante para me acertar. Seu machado faz um arco na horizontal em direção a minha cabeça e eu consigo criar uma parede sólida o suficiente para que não me atinja. Aproveito o momento e jogo neve em seu rosto para cegá-lo momentaneamente e então corro em sua direção com um punhal de gelo em mãos, mas quando estou próximo de acertá-lo, ele segura meu braço e me joga em direção a água. Meu corpo bate na areia do fundo, mas não tenho tempo de pensar na dor, me levanto e tento ignorar minhas roupas encharcadas. 

Me preparo mais uma vez para lançar um ataque quando do nada uma grande onda bate nas minhas costas e eu caio com tudo no chão, de novo. Quando a água recua eu consigo escutar a gargalhada dos três e os latidos do Kiran.

— Tá, tá, muito engraçado — Me levanto.

— Você caiu com os pés pra cima — Thomas diz enquanto ri alto

— Tem alga no seu cabelo — Rique fala em meio ao riso.

Passo a mão no cabelo e realmente há algas nele. Retiro elas e depois tiro uma concha que senti cair no decote da minha blusa.

— Veja se não tem nenhum peixe no bolso — escuto Terin dizer e com isso os três começam a gargalhar ainda mais alto. 

Não consigo manter a expressão séria por muito tempo e acabo rindo com eles. Assim que o momento termina, eu aproveito e congelo a areia que está embaixo de Thomas e como o terreno é um pouco inclinado ele acaba escorregando e caindo na areia.

— Nunca abaixe a guarda, minotauro — Brinco enquanto caminho em direção aos coqueiros.

— Boa jogada, bruxa — ele diz ainda deitado no chão.

Desde o dia do ataque, Thomas tem sido mais falador comigo, não sei se o que fez ele me suportar foi eu ter defendido o navio e ter colocado minha vida em risco no processo, ou o fato de que todas as noites após o jantar eu o ajudo na cozinha.

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora