Capítulo 32

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Mahelí narrando

De La Cruz apoiou um pouco na moto,  se segurando, até Alix chegar em nós.

- Vai com ele. - Suas sobrancelhas estavam franzidas. - Obrigado por tudo, Mahelí.

- O que houve? Por que você está falando o assim? - Eu me aproximei dele e vi uma poça de sangue no chão. Suas pernas começaram a falhar e ele caiu de joelhos. - Não, De La Cruz, não faz isso comigo. Para com isso, você falou que vai me levar para o hospital. - Alix chegou e pude ver sua cara de desespero. Ele pegou o celular e falou um código. - Deixa eu ver onde foi o ferimento? - De La Cruz segurou minha mão, me impedindo de mover.

- Obrigado por tudo, Mahelí. Meus dias foram mais felizes com você. Espero que você tenha boas memórias de mim, desculpe se te magoei ou deixei algumas falha. Desculpe pelos bebês, pelo menos conseguir salvar você.

- Pare de falar assim. Por que está se despedindo? Eu ainda não descobri a cura para você, ainda não está na hora. - Minha voz quase não saia em meio ao desespero.

- Queria ter te encontrado antes, com certeza  seria feliz por mais tempo.  Não interrompa sua vida, não tenha uma vida infeliz, não sofra por muito tempo. Obrigado por ter casado comigo, agora você estará livre. Espero ter te ajudado de alguma forma, pois já te dei muitas dores de cabeça. - Ele sorriu e cuspiu um pouco de sangue. - Eu te amo Mahelí, obrigado por ser tão perfeita e tão fiel com sua palavra. Se eu pudesse teria um filho com você, ou seria sogro da sua filha. - Ela falou e sorriu. - Meu amigo, meu irmão. - Ele levantou os olhos para olhar o rosto de Alix. - Eu te amo brother. Obrigado por ter sido meu irmão. Desculpe se deixei falhas. Não seja tão desconfiado, não seja tão rígido e controlador. Não espere que seja tarde demais, para descobrir que  podes ser feliz. Desculpe não ter te contado, não queria te ver sofrer.

- Desculpe irmão. - Alix caiu ajoelhado ao lado de De La Cruz e o abraçou. - Obrigado por ter sido meu irmão. Obrigado por ter salvo Mahelí. Eu te amo, cara. Não faz isso comigo não. - Alix se entregou ao choro.

- Se tiver que abrir mão de tudo por uma pessoa que vale a pena, faça. Mahelí vale a pena. Para de ser cabeça quente, nunca vi uma pessoa ter tanto amor assim como ela.  Cuida dela mano, ela vai precisar de você mais do que nunca. Amo vocês.

De La Cruz caiu de lado e Alix o segurou.

- Não, você não vai fazer isso comigo. Volta De La Cruz. - Eu caí no chão e gritei o mais alto que pude. - Era pra ser eu, por que você fez isso?  Ai meu Deus! Que dor é essa? - Alix estava abraçado com o corpo de De La Cruz, em prantos. Vi algumas sirenes ao longe.

- Mahelí, o socorro está chegando. Tenta ficar calma por favor. - Eu não queria ser socorrida. Levantei do chão e tentei correr. Alix colocou De La Cruz no chão e correu atrás de mim.

- Me deixa, por favor. Eu só não quero sofrer mais. Me deixa Alix! - Ele me abraçou e eu o soquei, tentando me soltar. - Eu estou sozinha novamente, por que isso meu Deus? Por quê? - Alix chorava abraçado comigo. - Desculpe meus bebês, não consegui cuidar de vocês, desculpe ter falhado.

- O que você está falando Mahelí? - Alix segurou meu rosto.

- Perdi nossos bebês, Alix. - Ele se afastou para me olhar.

- Esse sangue é seu? Mahelí, o que eu fiz? - Ele colocou as duas mãos na cabeça.

- Agora você pode ser feliz, não tem mais nada que te prenda a mim. Só deixa eu morrer. - Minha vista começou a escurecer, senti meu corpo cair e os braços de Alix me segurando.

Alix narrando

O socorro chegou e fomos para o hospital. Mahelí perdeu muito sangue, foi encaminhada para a transfusão, após remover o resto dos fetos de seu útero.
Ela estava sedada, estava tão pálida.
Tive que reconhecer o corpo de De La Cruz, preparei seu funeral.
Parece que o mundo tinha desabado sobre meus ombros. Eu não tinha o direto de sofrer, foi tudo minha culpa.

Já era por volta das dez da manhã, Mahelí acordou e ficou com o olhar fixo em um lugar só. Eu estava sentado na poltrona, no canto do quarto.
Me aproximei de sua cama, ela continuou imóvel.

- Mahelí, vou pedir sua refeição. Você está com dor? - Ela continuou do mesmo jeito. Meus olhos ficaram rasos de lágrimas. Como causei tanta dor em uma pessoa? E eu pensando que era melhor de que aqueles homens perversos do leilão.

Sai e fui pegar a comida dela, aproveitei para chorar do lado de fora.
Tentei fazê-la comer, mas foi em vão.
Avisei que o enterro seria na parte da tarde, as lágrimas escorriam em seu rosto.

- Vou ter que te deixar aqui por algumas horas, mas eu volto.

- Eu vou também. - Sua voz estava trêmula.

- Não vão te liberar, Mahelí. Você está muito fraca. Tem que descansar.

- Se não deixarem, eu fujo. - Seus olhos ainda estavam fixados em um lugar.

- Não faz isso. Vai por sua vida em risco.

- Preciso de uma roupa preta, você pode trazer para mim, por favor? - Ela não tinha emoção nenhuma na voz. Falava e as lágrimas escorriam.

- Vou trazer. - Vi que ela estava decidida, não ia adiantar contaria-la. Fui em uma loja ao lado do hospital e comprei um vestido tubinho preto de mangas compridas. Comprei um scarpin preto e um chapéu. Voltei e conversei com o dono do hospital, ele entendeu perfeitamente. Voltaria assim que o enterro acabasse. - Aqui está. - Entreguei a sacola de papel a ela e coloquei a caixa de sapatos em cima da poltrona.

- Me ajude, por favor. Não consigo levantar sozinha. - A peguei no colo e caminhei até o banheiro, tirei sua roupa e a sentei em uma cadeira higiênica,  empurrei para baixo do chuveiro e liguei.

Os pedaços de sangue caiam embaixo dela, fiquei congelado olhando para o chão. As lágrimas escorriam em meu rosto. Ela se encolheu e começou a chorar desesperadamente. Não consegui ficar distante, estava compartilhando da mesma dor.

- Me desculpe te causar tanta dor, tanto sofrimento. - Abaixei e a envolvi seu corpo em um abraço.  - Será que se pararmos de amar um ao outro a dor vai embora? Vamos pelo menos conseguir sobreviver meio a esse caos? As vezes é melhor um amor falso, um amor fingido. Daí não sofremos tanto.

Fake Love - Triologia 1°Onde histórias criam vida. Descubra agora