Ass: DB

Epílogo: acidente

Escuridão total aos meus olhos. Crepitar intenso de sonhos inocentes em minha cabeça. Mas algo estava errado. Eu sei que estava. Está tudo calmo demais. Nunca é assim. Nenhum barulho de porta se abrindo. Nenhuma descarga ecoando.
Meus olhos se abrem. Fico acordada. Sem um propósito, só não estou com sono. O sono não vem. Tenho uma leve impressão de que tem algo errado. Nunca foi tão quieto assim. Nunca ouvi minha casa tão silenciosa.
Me levanto. Saio do meu quarto e vou em direção ao banheiro, dois quartos ao meu lado. Entro no banheiro. Acendo a luz, abro a privada e me sento. Nada vem. Vim atoa aqui também. Fecho a tampa da privada. Dou descarga, mesmo não tendo utilizado. Lavo minhas mão e me encaro no espelho.
Meu rostinho cheio e gordinho, típico de uma garotinha de 7 anos. Minha pele morena fica brilhando com a luz, meus cabelo é liso, curto e preto, preto como carvão. Minhas pupilas são duas jaboticabas pretas e redondas. Meus olhos são levemente puxados e herdei isso de meu avô japonês, já falecido também.
Retorno ao meu quarto. Encosto a porta e me deito. Tentando pegar no sono. Tenho escola amanhã, mesmo que não queira ir.
Ouço um barulho e desperto, quando meus olhos já estavam de fechando. Era uma chave girando. Olho em volta. Me levanto em um pulo e tento abrir minha porta. Ela não abre. Está trancada. Tento não entrar em pânico e grito. Grito com todo meu pulmão. Mas não adianta, ninguém me ouviu.
Um grito estridente corta o silêncio após minha gritaria. Era minha mãe. Minha mãe gritando. Ouço arrastar de móveis no quarto de meus pais. Fico alarmada. Espanco com toda minha força a porta, mas não vai, sou muito fraca.
Silêncio recai novamente. O quê aconteceu?

Acordo ofegante. Mais um pesadelo. Mais um pesadelo igual. Nunca esquecerei. Nunca esquecerei esse dia. Deixei alguma coisa passar. Não consigo me esquecer de como fui impotente. Nunca vou me esquecer.