Cap 1:O encontro

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## Capítulo 1: O Encontro

Era uma tarde escaldante de outono no Rio de Janeiro. O sol queimava sem piedade, refletindo seu brilho inclemente nas ruas pavimentadas e transformando cada superfície em um espelho de calor. Emy, uma estudante do ensino médio, voltava para casa após mais um dia exaustivo de aulas. Com a mochila pesada nas costas e os pensamentos mergulhados nos deveres de casa e nos sonhos de um futuro melhor, ela seguia seu caminho pelas ruas cheias de vida que levavam à favela onde morava. A favela era um labirinto de vielas estreitas e casas amontoadas, um emaranhado de histórias e segredos que se escondiam em cada esquina.

Emy costumava evitar as áreas mais perigosas da favela, aquelas onde o crime e a violência eram mais frequentes. No entanto, naquele dia, algo parecia desviar seu caminho habitual. Talvez fosse a pressa em chegar em casa para começar seus deveres, ou talvez fosse apenas o destino pregando uma peça. Ao virar uma esquina estreita e pouco movimentada, ela quase esbarrou em um homem. O choque foi súbito e inesperado, e Emy deu um passo para trás, o coração batendo acelerado.

Diante dela estava Joseph. Alto, musculoso, com tatuagens que cobriam boa parte de seus braços e pescoço, ele era a personificação do perigo. Seus olhos, frios e penetrantes, a analisaram rapidamente, e um sorriso arrogante surgiu em seus lábios. Emy sabia exatamente quem ele era. Todos na favela sabiam. Joseph era o dono do morro, o líder implacável que comandava a favela com punho de ferro. Sua reputação o precedia, e a simples menção de seu nome era suficiente para causar medo e respeito.

— Cuidado, menina. Pode se machucar andando por aqui — disse ele, a voz grave ecoando nas paredes ao redor. A intimidação em seu tom era inconfundível, mas havia algo mais em seus olhos, algo que Emy não conseguiu decifrar imediatamente.

Emy sentiu seu coração acelerar ainda mais. Ela sabia que deveria se afastar, evitar qualquer tipo de confronto com alguém tão perigoso, mas seus pés pareciam presos ao chão. Joseph a olhava de cima a baixo, avaliando-a, e ela se sentiu vulnerável, como se ele pudesse ver através de sua alma.

— Desculpe, eu... eu estava distraída — respondeu Emy, tentando manter a voz firme. Ela sabia que mostrar medo só tornaria a situação pior.

Joseph deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre eles. Emy podia sentir o calor de seu corpo e o cheiro de cigarro e perfume caro que emanava dele. Seus olhos, antes tão frios, agora pareciam brilhar com uma curiosidade inesperada.

— Qual é o seu nome? — perguntou ele, a voz suave, mas ainda cheia de autoridade.

— Emy — respondeu ela, sentindo a boca seca.

— Emy — repetiu Joseph, como se saboreasse o som de seu nome. — Bem, Emy, você deve tomar cuidado por onde anda. Nem todos aqui são tão... compreensivos quanto eu.

Antes que ela pudesse responder, Joseph deu um último olhar penetrante e se afastou, desaparecendo na escuridão das vielas. Emy ficou parada por um momento, o coração batendo forte no peito. O que acabara de acontecer? Por que ele parecia tão interessado nela? E, mais importante, por que ela sentiu uma estranha mistura de medo e fascínio em sua presença?

Nos dias que se seguiram, Emy não conseguia tirar Joseph da cabeça. A imagem dele, com seus olhos frios e sorriso arrogante, a assombrava. Ela sabia que ele era tudo o que deveria evitar, mas havia algo nele que a atraía de uma forma inexplicável. Ela se pegava procurando por ele nas vielas, esperando vê-lo novamente, mesmo sabendo dos perigos que isso poderia trazer.

Enquanto isso, Joseph também não conseguia parar de pensar em Emy. Ele a tinha visto por acaso, mas algo nela o intrigava. Em um mundo onde ele tinha que ser implacável e calculista, Emy representava algo raro e precioso. Sua inocência e pureza eram como uma luz em meio à escuridão que o cercava. Mas ele sabia que se aproximar dela significava colocá-la em perigo. E ainda assim, ele não conseguia se afastar.

Em uma das noites seguintes, Emy estava sentada na pequena varanda de sua casa, tentando se concentrar nos estudos, mas a imagem de Joseph continuava a invadir seus pensamentos. Ela se lembrava do olhar dele, da forma como seus olhos pareciam despir sua alma, e um arrepio percorria sua espinha. O que ele queria com ela? Por que ela, entre todas as outras pessoas da favela?

Enquanto lutava para afastar esses pensamentos, ouviu um ruído vindo da rua. Levantou-se e foi até a janela, espiando através das cortinas. Lá estava ele, Joseph, parado na esquina, olhando diretamente para sua casa. Emy sentiu seu coração acelerar novamente. O que ele estava fazendo ali? Estava a vigiando?

Com um suspiro, Emy decidiu que não podia continuar assim. Precisava entender por que Joseph estava tão interessado nela e, ao mesmo tempo, precisava proteger-se. Ela sabia que envolvê-lo em sua vida poderia trazer consequências perigosas, mas a curiosidade e a atração eram fortes demais para serem ignoradas.

No dia seguinte, na escola, Emy tentou se concentrar nas aulas, mas sua mente estava longe. As palavras dos professores soavam como um murmúrio distante enquanto ela refletia sobre o encontro com Joseph. O que ele queria? Por que parecia tão intrigado por ela? Emy sabia que não poderia compartilhar esses pensamentos com ninguém. Seus amigos e familiares a alertariam sobre os perigos de se envolver com alguém como Joseph.

Ao final do dia, Emy decidiu caminhar por uma rota diferente ao voltar para casa, na esperança de evitar qualquer encontro inesperado com Joseph. No entanto, enquanto andava pelas vielas, não conseguia deixar de olhar por cima do ombro, esperando vê-lo em cada esquina. A favela, com seus becos labirínticos e sombras espreitando em cada curva, parecia ainda mais opressiva.

Foi então que, ao virar uma esquina, ela o viu novamente. Joseph estava encostado em uma parede, conversando com alguns de seus homens. Quando ele a viu, parou de falar e seus olhos se fixaram nela. Emy sentiu o coração acelerar mais uma vez. O que deveria fazer? Correr? Ficar e confrontá-lo?

Antes que pudesse decidir, Joseph se aproximou, dispensando os homens com um gesto rápido. Ele parou a poucos metros de Emy, um sorriso enigmático nos lábios.

— Parece que nos encontramos novamente, Emy — disse ele, a voz baixa e suave.

— Eu... eu só estava indo para casa — respondeu Emy, tentando manter a voz firme. — Não quero problemas.

Joseph riu, um som profundo que reverberou nas paredes ao redor.

— Não se preocupe, não estou aqui para causar problemas. Na verdade, estou mais interessado em evitar que você os tenha.

Emy franziu a testa, confusa. Por que ele estaria preocupado com ela?

— Por quê? — perguntou ela, a curiosidade finalmente vencendo o medo. — Por que você está tão interessado em mim?

Joseph ficou em silêncio por um momento, seus olhos analisando Emy com uma intensidade que a fez sentir-se nua. Finalmente, ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles.

— Porque você é diferente, Emy. Nesse lugar cheio de escuridão, você é uma luz. E eu quero entender essa luz.

Emy não sabia como responder. As palavras de Joseph eram inesperadas e perturbadoras. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele deu um passo para trás, o sorriso enigmático ainda no rosto.

— Tome cuidado, Emy. Esse lugar não é seguro para alguém como você. E se precisar de ajuda, sabe onde me encontrar.

Com isso, ele se virou e desapareceu na escuridão das vielas, deixando Emy com uma mistura de medo, confusão e uma curiosidade crescente. Ela sabia que aquele encontro não seria o último. O destino havia cruzado seus caminhos, e suas vidas estavam prestes a mudar para sempre.

Me afogando em magoasOnde histórias criam vida. Descubra agora