18. Viajem ao passado

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Meghan

          — Para onde está me levando? — pergunto. — Acabei de ver a placa de bem-vindos à Mystery Spell.

          — Calma, Docinho. Você vai gostar. Estou te levando para um lugar legal.

          — Escuta, por que você me chama assim? Docinho ou Doce.

          — Ah... Você me lembra a Docinho das Meninas Superpoderosas — rio. — Qual é a graça?

          — Nada contra, mas você assiste as Meninas Superpoderosas?

          — Ah... A Lorie faz a gente assistir com ela. Não temos escapatória. Me pergunta de desenhos. Tenho doutorado neles — fala rindo. — Principalmente Barbie.

          Eu rio ainda mais.

          — Caramba! Coitado de você.

          — Que nada. Até que gosto.

          — Você não é como eu imaginei.

          — E como você me imaginou?

          — Sei lá... Um garoto que só quer saber de pegar as mulheres e partir logo para outra. Que gosta de brincar com os sentimentos. Que seu jeito rebelde faz parte do seu estilo. Mas você é um garotinho. Um garotinho que só quer aproveitar ao extremo a vida — exponho, o olhando. Ele não tira os olhos da estrada. Vi que seu olhar ficou profundo. — O que foi? Ficou quieto.

          — Eu sou rebelde assim por um motivo. As circunstâncias me fizeram ser assim — diz, sombrio.

          — Quer falar disso?

          — É uma história chata e entediante.

          — Bom... Estamos na estrada escura. Fora da cidade. Sabe-se lá aonde você está me levando. É um ótimo momento para ouvir uma história.

          Ele suspira. Fica em silêncio por um tempo. Seus olhos estão fixos na estrada. Não conseguia parar de olhá-lo. Estava fascinada e isso pode ser minha ruína. Não sei se teríamos futuro. Na verdade, nunca me imaginei com alguém.

          — Tudo começou em 1922, na Alemanha. No ano em que nasci e no país em que nasci. Vinte e cinco anos depois, se deu a guerra fria, em 1947. Naquela época, eu era um gângster. Dominava uma área. Minha mãe... — hesita. Vi que ficou triste. — Vendia o corpo para cuidar de mim. E para ajudar em casa, me envolvi com essas coisas. Um dia ela ficou doente. Não tínhamos muitos recursos para o tratamento. Desesperadamente, com medo de perdê-la, me envolvi com outro gângster. De outra área. Fizemos um acordo. Uma parceria. Que nos daria muito lucro. Porém, não contei com que ele fosse me trair. Armou para mim — suspira. — Seus capangas me pegaram e me deram uma surra. Em um beco escuro. Fiquei em um estado lamentável. Várias costelas quebradas, o meu rosto ficou inchado. Um grupo de pessoas me encontrou e me levou ao hospital. Fiquei semanas internado. Depois de um tempo, um dos meus homens veio me dar notícias das coisas. Ele me disse que minha área havia sido dominada pelo gângster. E... — pigarreou com a garganta. Estava desconfortável. — Minha mãe... havia morrido. Eu não soube o que fazer. Ela era tudo para mim. Me mimava... — ri nostálgico. — Contava histórias. A comida dela era deliciosa. Eu a amava. E naquele dia, eu só quis morrer. Não me importava mais nada. Queria voltar para aquele gângster e deixar ele terminar o serviço. Os soviéticos nem se preocuparam em desgraçar mais a minha vida. Naquela noite, naquele quarto de hospital, me vi sozinho. Sem saber o que fazer. E foi nesse dia que aquele maldito apareceu. Viktor. Ele sabia o que eu estava passando. Ele conseguia ler minha mente. E se aproveitou da minha fraqueza. A proposta que fez foi tentadora. Mas eu não queria viver para sempre. Queria morrer. Mas, contra a minha vontade, ele me transformou. E me forçou a segui-lo e fazer parte do clã. Por isso o odeio. Ele tirou, de todos os aspectos, a minha liberdade. De morrer. De ir embora. Por isso sou assim. Rebelde. E o que mais quero é me livrar dele.

DROGO • Trilogia Irmãos Bartholy - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora