Trabalhar para um parente é o mesmo que pedir para ser humilhado - principalmente quando você e seu chefe se odeiam.
Meu pai - ah, o "Grande Governador" do estado! - é um corrupto babaca. Ele tem um tipo de "organização secreta" na qual ele investe o dinheiro que lava de seu mandado. Por isso cortei minha minha relação com ele.
Tentei, pelo menos.
Lá estava eu, Diego Ribeiro, trabalhando para o governador. Eu morava sozinho e trabalhava como guarda-costas e segurança particular quando aparecia algum bico - E meu pai pagava o maior cachê quando os clientes rotineiros simplesmente "não precisavam dos serviços".
O trabalho era o seguinte: Meu pai, seus secretários e alguns vereadores iriam para uma escola que foi reformada recentemente para uma cerimônia de "reinauguração". Para elevar uma moral.
Objetivo: Proteger todos.
Obstáculo: Eu estava sozinho, desarmado e o pior, foi a escola em que estudei.
Eu até diria que ele estava tentando me matar, se ele realmente não quisesse.
Estava esperando pacientemente - mais ou menos - no pátio, pois me recusava a ir junto com eles. Escutei um murmúrio vindo do portão, mas ignorei. Vi alguns alunos e professores indo para lá e para cá. Haviam alguns pais também.
- Diego - o secretário pessoal chamou no aparelho de escuta - Estamos chegando.
- Estou esperando - respondi - canto superior direito do pátio.
Olhei em volta. Os bancos onde ficava com meus amigos, a quadra onde jogava vôlei, as salas de aula do lado de fora, o esconderijo onde os casais da escola costumavam dar seus primeiros selinhos escondidos dos amigos...Droga, Diego. Eles estão entrando.
Meu olhar encontrou o do secretário pessoal de meu pai. Ele piscou. Agora.
Corri no meio da pequena multidão que se formava. Foi difícil manter a guarda alta dos lados e por trás, mas já tinha alguma prática com isso.
- Por favor, distância de dois metros! - pedi, inutilmente.
Críticas, pedidos e elogios enchiam o ar. Porém tudo ia bem, até as atitudes se tornarem físicas.
- Ladrão! Vagabundo! - um homem tentou estapear um dos vereadores.
Segurei seu pulso e pedi educadamente que se afastasse. Continuou tentando. Um único guarda-costas parece fácil de vencer.
Não se ele já estiver acostumado.
Senti uma mão agarrar meu braço com força, mas me soltei. Segurei uns dois rebeldes enquanto derrubava mais um com o pé. A pequena caminhada até a quadra dos fundos se estendeu a uma pequena briga generalizada. Tentaram me dar um soco, desviei rápido. Levei um tapa, mas também bati. Os cidadãos amigáveis tentaram separar os irritados, o que me deixou um pouco mais solto. Sinceramente, quem não iria querer bater em um homem como meu pai?
Os homens de terno corriam para chegar logo à quadra. Eu os acompanhando de perto. Meu pai dispensara a polícia, pois se algo acontecesse a culpa cairia sobre mim. Suborno? Talvez.
Pessoas falavam de todos os lados. Uma revolta se transformando em conflito. Desviei e acertei alguns golpes, concentrado. Amava a adrenalina do meu trabalho, porém não gostava do meu chefe. Direita, esquerda, baixo... Podia ouvir meus movimentos como instruções do meu subconsciente.
Só desacelerei quando senti algo puxar minha cintura no momento em que ia acertar um golpe.
- Ei! Quem foi o merda que... - Bac. Senti meu corpo bater contra o peito de alguém.
Quando olhei para cima, vi um dos secretários. Sua respiração era ofegante, assim como a minha.
- Me agradeça mais tarde, garoto. - disse ele.
- Agradecer pelo quê, seu... - quando olhei para baixo, entendi ao que ele se referia.
Um canivete. Como eu não vi isso?!
- Valeu, cara.
- Me agradeça depois, agora você tem que... - o secretário começou, mas era tarde demais.
Só tive tempo de ver a belíssima cena de meu pai levando um tapa de uma senhora. Nem se eu ainda estivesse lutando teria a impedido. Não pensei que o faria. Entramos na quadra correndo e fecharam o portão que a separava da escola antes que os outros cidadãos entrassem.
Consegui segurar o riso até ver a "cara de coitadinho" do governador quando foram conferir se ele estava bem. Comecei a rir baixo, e só então percebi que ainda estava junto do homem, que não havia me soltado.
- Está rindo do seu chefe? Que cara-de-pau. - o secretário comentou.
- Óbvio. Olhe para ele. - me soltei de seus braços - O "grande governador" fazendo drama por causa de um tapinha.
Ele suspirou, sorrindo logo depois.
- Ok, é engraçado.
- Muito engraçado.
- Certo, certo. - ele voltou a sua expressão normal - Mas você me deve uma agora, super guarda-costas.
Estranhei o apelido.
- Super?
- Sim. Para ser maluco ao ponto de aceitar esse serviço sozinho.
- Eu sou o Batman. - brinquei - Eu nunca durmo.
- Tenho minhas dúvidas, homem-morcego.
Dei de ombros, com um sorriso de canto.
- Posso saber o nome de quem salvou minha vida?
- Miguel - o secretário respondeu - e qual o seu nome, Bat?
- Diego - respondi, fazendo uma reverência - Aos seus serviços.
- Se fosse seu patrão, não te contrataria nunca mais.
- Ainda bem que não é. Aquele cara não vive sem mim.
- Acho que depois dessa quem não vive é você. - Ele brincou.
- Veremos. - desafiei - Valeu, outra vez, Miguel. A gente se vê por aí.
Saí andando, e esperava que não nos encontrássemos, pois não gosto de dever favores.
Porém, não foi o que aconteceu.
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Cara e Coroa
RomanceAmigos? Ok. Romance? Talvez. Regras? Feitas para se quebrar. Diego é um guarda-costas minimalista, cujo único desejo é viver em paz. Mas seu pai, o governador do estado e líder da maior organização criminosa da cidade, não facilita para seu único h...