0.01: (310) 807-3956

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[Hanna Gray]

Eram três da tarde e eu estava pensando em miojo com requeijão e bacon.

É um pouco incomum, mas eu amo.

Os clientes da loja não apareciam há um bom tempo, o quê é completamente normal para uma loja de vinil em pleno domingo.

Não que eu queira que esta loja vá a falência, mas prefiro quando ela está vazia.

Não entendo muito de música, então parece que estão falando russo comigo quando vêm pedir opinião sobre qual comprar, mas o pior mesmo, é quando começam a conversar comigo.. Nunca consigo acompanhar o quê falam, e às vezes acabo passando vergonha.

Além disso, eu sou a pessoa mais vergonhosa da face da terra, então é um pouco difícil pra mim atender as pessoas, ainda mais quando são tão fechadas.

Pelo menos, minha chefe é a minha mãe.

- Querida, você já ligou para o Roger? -Judith perguntou enquanto saía de dentro da dispensa.

Por falar no diabo..

- Não, ainda não. -Me ajeitei no balcão e suspirei, pegando meu celular de cima dele. - Mãe, o quê eu tenho que dizer?

- Benção, tio.. Que saudade, como vai? Preciso saber se conseguiu a vaga pra mim. -A mulher dizia, afinando a voz enquanto carrega uma caixa e indo até uma das prateleiras. - Fale de uma vez só e pronto, é simples, Hanna.

- Eu me sinto mal, parece que eu 'tô me aproveitando dele. -Murmurei enquanto procurava por seu contato.

- É porque você está. -Riu.

- Mãe! -Reclamei, mas ela continuou a rir. - Culpa sua, você quem insistiu.

- É pelo seu futuro, agora vá enfrente e ligue para ele. -Ela disse, terminando de colocar alguns cd's em uma prateleira. - Vou na cafeteria, quer algo?

- Bolinho de mel. -Falei, ainda buscando pelo contato de meu tio. - Poxa, não lembro como salvei o contato dele..

- Irmão do bostão. -Minha mãe sorriu divertida, vindo em minha direção com a caixa agora vazia e a colocando em cima do balcão. - Se não for esse, talvez seja tio da lancha.. Você disse que se não colocasse um, colocaria o outro.

- Por quê eu sou assim? -Sorri após digitar a primeira opção e realmente ter achado. - Coitado.

- Ai, minha filha, pelo amor. -Judith revirou os olhos e começou a sair do estabelecimento. - Quem tem pena é galinha.

- E quem ainda fala isso é gente velha! -Exclamei para que ela ouvisse e a mesma mandou dedo do meio antes de sair, o quê me fez rir. - Nem acredito que essa maluca é minha mãe.

Me sentindo nervosa, cliquei no botão de ligar.

Estranhei o ddd, mas dei de ombros. Roger viaja muito, talvez seja um número antigo de outro lugar que ele não quis trocar?

Coloquei no viva-voz, deixando o celular na bancada e tirando o plástico de proteção de dentro da caixa, começando a estourar aquelas bolinhas em forma de distração.

Chamou algumas vezes e eu senti meu coração acelerar com a possibilidade dele não querer me atender, mas então sorri aliviada quando fui atendida.

- Benção, tio.. Que saudade. -Repeti as palavras que minha mãe me disse, tentando parecer o mais gentil possível. - Como vai?

- Eu vou bem, mas não é seu tio. -Uma mulher gargalhou do outro lado da linha. - Sinto muito, mas ligou pro número errado.

- O quê? É sério isso? -Me agitei, ficando nervosa olhando a tela do celular e vendo ali o contato do meu tio. - Não é possível! Eu liguei pro Roger, você por acaso é algo dele, sei lá, a filha, ou alguma outra sobrinha?

- Espera.. Você não conhece a voz de uma suposta prima sua? -A mulher voltou a rir. - Não conheço nenhum Roger.

- Mas esse é o contato dele. -Murmurei, pegando o papel dentro de uma gaveta e o lendo em voz alta. - Tá certo.. 323, 807-3956.

- Não, não está. -Ela disse depois de parar de rir, mas pelo tom de voz ainda parecia se divertir da situação. - Você realmente leu o número que ligou?

- O quê? -Murmurei confusa enquanto guardava o papel na gaveta novamente. - Claro que sim, eu não sou tão lerda.

- Garota, meu número é 310.. 807-3956. Lê aí. -A mulher disse e eu arregalei os olhos, pegando o celular e me xingando diversas vezes ao perceber que ela está certa. - Mas, veja pelo lado bom, você errou apenas dois dígitos.

- Droga, eu deveria ter sido mais atenta. -Falei nervosamente, sentindo minhas bochechas esquentarem. - Me desculpa pelo engano, de verdade.

- Fica tranquila, foi um pouco engraçado. -Ela disse e eu sorri, um pouco mais aliviada pela mulher não ter ficado com raiva ou sei lá o quê. - Mas, sério que você não saberia reconhecer a voz de alguma prima sua? Ou eu só tenho a voz parecida com alguma delas?

- Ah, é que eu não conheço muito meu tio.. Eu o vi há algumas semanas em um restaurante, não o via desde os dez anos. -Expliquei, tentando manter a calma, mas estava começando a ficar nervosa em estar falando com a mulher desconhecida. - Ele me passou o contato dele e o resto você já sabe.

- Você pareceu preocupada por não ser o número dele. -Ela murmurou, parecia bem mais calma que eu. - Aliás, meu nome é Eilish.

- O meu é Hanna. -Me sentei na cadeira e peguei o celular, colocando o mesmo no ouvido após tirar do viva-voz. - E é porque meu tio tinha me prometido tentar me arrumar a vaga em uma faculdade, ele me disse para ligar hoje.. E por quê está me fazendo essas perguntas, Eilish?

- Só pra puxar assunto. -Ela respondeu. - Estava extremamente entediada antes de você me ligar, ao ponto de pintar meu cabelo de novo só pra arrumar algo pra fazer.

- De novo? -Franzi as sobrancelhas. - A última vez que pintou foi recente?

- Cerca de um mês. -Murmurou risonha. - Fiquei maluca com castanho escuro e lutei pra tirar o vermelho da raiz do meu cabelo.. Aquela porra brilhava no escuro, eu juro.

- Calma, você tinha o cabelo da raiz vermelha? -Perguntei eufórica. - Céus, eu tenho tantos apelidos em mente agora..

- Cita um que me faça nunca mais colocar essa porra de novo.

- Senhorita menstruação, Cabeça quente, Pica-Pau 2.0, Chucky, Chamin..

- Wow, calma aí.. Também não é pra me humilhar. -Ela riu. - Mas e você, já pintou seu cabelo?

- Nunca quis, mas coloquei trança há alguns meses.. Eu queria pôr braids, mas minha mãe disse que eu ficaria parecendo com meu pai, então deixei pra lá.

- O quê é braids?

- Ai, você é branca, né? -Deixei escapar uma risada.

- O quê isso têm a ver? -Perguntou, com uma falsa indignação na voz e riu levemente. - Mas sim, eu sou.

- Ah, tá explicado.. Braids é um tipo de trança, pesquisa no Google depois, branquela.

- Ei, não me chama de branquela! -Eilish reclamou. - Vem cá, se eu te chamasse de neguinha agora seria racismo?

- Depende, se fosse.. -Soltei uma gargalhada sincera. - Se fosse um apelido carinhoso, não.

- Definitivamente não seria carinhoso. -A mulher bufou, mas acabou rindo junto comigo. - Você é meio idiota, Hanna.

- Você também, Eilish.

Capítulo não revisado!
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