Capítulo 2 - Raiva, amor e remédio

5 1 0
                                    

Doeu mais em mim do que no meu pai.

No meu bolso, por causa do cachê perdido, e literalmente, porque aquele filho da puta me deu um tapa.

Corri até o Governador, segurando o riso.

- Sinto muito, Governador Ribeiro. Foi um...pequeno acidente de sobrecarga.

- Que diabos de "acidente de sobrecarga"?! - Ele gritou, alterado.

- Bem, é isso o que acontece quando se  contrata um único guarda-costas para várias pessoas. - dei de ombros - Se o senhor desse uma olhadinha no protocolo...

O governador me deu um tapa.

- Fodam-se você e seu protocolo, Diego.

Todos ao redor - no caso, os secretários e deputados - ficaram pasmos. O grande Governador Ribeiro dera um tapa no rosto de um dos melhores profissionais de segurança da cidade - sim, eu tinha essa moral, porém apenas da cidade.

Senti vergonha, humilhação...e raiva.

- Perdão, o que pensa estar...

- Chefe - Miguel apareceu ao meu lado - se me permite, isso é uma atitude infantil vinda de um líder político. E rende um processo da parte do guarda-costas.

Olhei para ele.

- Não se meta nessa...

O secretário tapou minha boca com a mão.

- Cale-se, antes que perca a razão. - murmurou.

- hummhmm! - Protestei. Traduzindo: não se meta!

Meu pai pensou um pouco.

- Tem razão, Miguel. A última coisa que quero agora é manchar minha honra com esse pirralho.

Comecei a estapear as costas do secretário com uma mão. Pirralho? Ele quem queria me ferrar!

- Senhor, a confusão já foi resolvida. Precisamos começar a cerimônia. - o secretário pessoal informou.

Assim que meu pai virou as costas, Miguel suspirou e me soltou.

- Agora me deve duas.

- Você não tinha que entrar no meio disso! - gritei.

- E também não tinha que te salvar de uma facada. O Governador Ribeiro é um idiota, ele não iria deixar para lá se você revidasse.

- Acredite, eu sei disso melhor do que você. E quero mata-lo mais do que qualquer um.

- Infelizmente você não pode. Ainda não, pelo menos. - o secretário deu de ombros.

Cruzei os braços.

- Enfim, não me salve outra vez. Não gosto de dever favores.

- Então pague os que deve.

Abri um sorriso, enquanto saia.

- Vou pensar no seu caso.

                            ***

Depois de finalmente tudo se organizar, eles começaram a reunião. Eu só queria ir para casa, mas me pediram que ficasse - pela sensação de segurança, evitar boatos e "elevar a moral" do governador, tendo seu filho presente -, apenas para uma imagem fútil.

Não conseguia parar de pensar que aquilo era errado. Eu sabia que muito dinheiro havia sido lavado ali, que as condições de dar aula eram mínimas durante uma reforma de dois anos, e que a intenção não era nem melhorar o aprendizado - apenas lucrar, lucrar, lucrar... E eu me sentia parte disso.

Cara e CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora