0.03: Hanna Gay

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[Hanna Gray]

Deixei meu celular de lado rindo fraco e percebi minha mãe me olhar estranho enquanto me entregava os bolinhos de mel.

- Que foi? -Perguntei, ainda sorrindo.

- Nada. -Deu de ombros. - Ligou pro seu tio?

- É.. Não. -Respondi, meu sorriso sem graça dessa vez, mas desviei o olhar para o bolinho de mel, mordendo um pedaço. - Liguei pro número errado sem querer.

- Ah, então é por isso que tava rindo? -Judith sorriu. - Pra quem você ligou, dona Hanna?

- Sei lá, alguma branquela chamada Eilish. -Dei de ombros.

- E como você sabe que ela é branquela?

- Ela não sabia sobre tranças.. -Respondi e ela franziu as sobrancelhas confusa. - É que a gente conversou um pouquinho.

- Ah, você conversou com uma estranha.. Muito conveniente, Hanna. -A mulher murmurou séria se apoiando no balcão, mas eu sei que ela tá só brincando com a minha cara. - E ainda ficou com um sorriso besta no rosto.

- Não fiquei, não! -Murmurei enquanto comia o bolinho, mas então engoli e voltei a falar. - Eu só tava rindo.

- Desde quando você ri atoa por causa de uma ligação?

- Oxe, desde.. Desde hoje, quem liga? -Gaguejei tentando me defender, saindo de trás do balcão. - Eu estou me auto dando folga, é domingo e esse lugar tá vazio.. Vou ir pra casa, tomar um banho e mimir.

- Faz a janta pra mim. -Pediu e eu concordei. - Vou passar na casa do vizinho quando sair, mas não vou demorar.

- Tá bom. -Sorri e deixei um beijo em sua bochecha. - Até mais tarde, mãe.

Saí da loja, pegando a bicicleta após destrancar ela e montando.

Eu queria saber o quê tanto minha mãe faz na casa desse vizinho. Ela sempre vai lá, fica uns minutos e volta estranha.

Não é como se eles tivessem um caso, eu saberia se sim, ela sempre me conta.. Nós sempre conversamos sobre tudo, raramente escondemos algo uma da outra, somos tipo carne e unha.

Mas ela não gosta muito de falar dele, ou pelo menos é isso que eu percebo.. Ele fala comigo as vezes, é um cara legal até, mas definitivamente não faz o tipo dela; ele é muito certinho e ela prefere rato de lixo.

Virei a esquina da rua principal rindo um pouco disso.

Além do mais, o senhor Johnson é casado. E, se tem uma coisa que minha mãe nunca faria é ser amante de alguém, ainda mais do marido de uma mulher que está doente.

Talvez ela esteja ajudando o homem a cuidar daquela moça e a doença dela seja séria, sei lá, tem que ter um motivo.

Olhando brevemente para a biblioteca, decidi parar lá e parei de pedalar aos poucos, a encostando e descendo.

Não que eu seja a maior fã de livros pra parar assim do nada, tenho objetos melhores do que ler dessa biblioteca.

Andei nervosa para dentro do local rústico, esqueci como se andava mas continuei, até parar na frente do atendente.

- Você por aqui, Hanna Gay? -Thomas brincou ao me olhar, errando meu sobrenome propositalmente. - Ah, é verdade, é Gray.. Meu mal. Sabia que seu livro favorito teve continuação?

Franzi a sobrancelha porque não tenho um livro favorito.

- Pois é, tenho até spoiler. -Ele riu. Acho que esse idiota não está falando sobre livros.. - Uma leitora disse que a personagem principal está com um interesse amoroso agora, mas eu não sei se é verdade.

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