IX

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— Não é o Shadow — afirmo com tanta certeza que todos os olhos se voltam para mim, curiosos. Apesar das palavras confiantes, meu olhar estava preso ao chão, processando o que acabara de ouvir em minha mente.

— Como você sabe? — Tails pergunta, enfim quebrando o silêncio tão duradouro. Ouso olhar de um para o outro.

— Eu ouvi. — Knuckles pareceu confuso, então fui obrigado a completar: — Mephiles disse algo sobre matá-lo se ele for o culpado. — Um amargor se instalou em meu âmago ao dizer isso, temendo o que poderia acontecer com Shadow se Mephiles realmente estivesse disposto a matá-lo se eu não o fizesse.

— Ele falou? Tipo, na sua cabeça?

— Sim — responde Tails por mim, evitando por uma fração de segundos a resposta sarcástica que quase lancei.

— Ainda assim — continuo —, quero perguntar pra ele quando chegar. Preciso saber por que ele faria isso. Preciso saber que ele confia em mim.

Ambos concordaram com a cabeça, aceitando minha sugestão. Apesar disso, Knuckles mordiscava o espinho em sua mão nervosamente, e Tails batucava a mesa com ansiedade.

Mephiles sabia mais do que eu, via mais do que eu. Não tenho dúvidas que ele é capaz de machucar quem eu gosto. E se, na verdade, ele estivesse controlando o Shadow assim como fez comigo, e o fez comprar e instalar aquelas câmeras? Era uma possibilidade muito grande.

Claramente eu tentava me tranquilizar tendo esse tipo de pensamento, mas queria acreditar que ele não faria isso. Não teria nem sentido. Ele me conhece melhor do que ninguém, sabe que o que fiz no passado ficou no passado. Pelo menos eu achava que sim.

Talvez ele ainda temesse que meu eu antigo voltasse e ferisse Sonic, afinal, estamos mais próximos do que nunca antes. É claro, nós temos muito em comum, nos damos bem. O azulzinho é um ouriço incrível, tanto de personalidade quanto de aparência, e eu aprecio muito a facilidade com que ele me aceitou e me perdoou. Eu jamais o machucaria de novo.

Eu não consigo evitar de me culpar por não ter tentado conhecê-lo antes, vê-lo como ele realmente é. Isso teria evitado todo o desastre que causei. As coisas não são mais assim, fui sortudo por ser perdoado tão rápido. Mas ele sempre foi uma pessoa boa, eu só não fui capaz de enxergar isso por, bom… diversos motivos idiotas.

Tails pigarreia, me tirando de meus devaneios. Tanto ele quanto Knuckles pegam suas coisas e o que encontraram de suspeito na minha casa, sorrindo envergonhados em minha direção.

— Então — começa a raposa —, é melhor irmos embora. Quero avaliar isso aqui, ver o que encontramos. Quando tivermos notícias, te avisamos. E vamos marcar outra visita. Provavelmente tem mais alguma coisa aqui que não vimos hoje ou deixamos de notar.

Eu aceno positivamente com a cabeça, soltando o ar que havia prendido sem perceber. Acompanho-os até a porta de saída, nos despedindo rapidamente. Foi só o carro sumir de vista e eu entrar em casa que ouço aquela voz vinda por trás.

— Você não tem mais medo de mim.

Eu me viro na direção dele, os olhos calmos. Estávamos em uma distância segura um do outro, e nenhum dos dois parecia querer diminuir isso. Suas palavras não estavam erradas: eu não o temia mais. Eu apenas temia o que ele era capaz de fazer a quem eu amava. Mas ele não precisava saber disso.

— Não — afirmo, sem desviar os olhos dos dele. Isso não parecia afetá-lo.

Mephiles diminuiu seus olhos daquele jeito estranho de quando sorria, mas agora não era um sorriso cruel ou assustador. Parecia um sorriso… gentil?

Behind The Shadows (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora