Capítulo 3 - O puxa-saco

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Acordei no banco de um Corolla.

Aos poucos, minha consciência foi retornando. Olhei em volta, estranhando o ambiente.

- Ah, ok. O que aconteceu...?

- Bom dia, margarida. Finalmente acordou.

Olhei para frente, apenas para ver Miguel, o secretário, no banco do motorista.

- Porra, garoto! Você tem que parar de me salvar, cara. - me sentei - Já é o terceiro favor.

- Acho que não consigo evitar. - Ele deu de ombros - Agora me explique, como caralhos você foi parar no banheiro naquele estado?!

- Uau, mudança drástica de humor! - não pude evitar um sorriso.

- Não me enrole, Diego. - A voz de Miguel era firme.

Me espreguicei.

- Calma lá, príncipe encantado! Nem meu pai manda em mim assim. Foi só um pouco de Lorazepam.

- Essa merda é tarja preta!

- Foda-se. Me ajuda.

- Se drogar só te mata lentamente.

- Lucros! - Me debrucei entre os dois bancos da frente - Agora, onde estamos?

Miguel apenas passou a mão pelos cabelos.

- Estamos a um quarteirão da escola.

- Por que me trouxe para cá? - perguntei.

- Pensei que não fosse querer mais transtornos, filho do Governador.

Congelei ao som deste nome. "Filho do Governador". Pensei que ele não soubesse disso, pelo jeito como me tratou. Não sabia quem eu era, como muitos outros secretários e vereadores. Cortei relações com meu pai no ano em que assumiu o estado, então muito poucos sabiam que eu era seu filho, e muito poucos se importavam.

- Você já sabia disso?

- Não. - Miguel ajeitou a gravata - Uma pessoa me contou.

- Quem?

- Ninguém importante. - Ele respondeu - Agora, vamos.

O secretário ligou o carro, mas segurei seu braço.

- Ei, ei, ei! Vamos para onde?!

Ele riu.

- Comer. Vamos, eu te pago um almoço.

- E por quê eu aceitaria comida de um estranho? - cruzei os braços - Não tenho oito anos!

- Eu tenho minhas dúvidas. E você me conhece! Eu sei seu nome e você sabe o meu.

Pensei por um momento.

- Onde?

- Lanchonete, se for só agrado de "vossa majestade".

- Vamos nessa. - Saí do carro e fui para o banco da frente - Considere isso o pagamento do primeiro favor.

- Está bem. - Ele deu partida e fomos para a tal lanchonete.

O lugar era simples, pouco movimentado e a comida era boa - meu tipo de lugar.

Miguel pediu um prato feito para cada um, e começamos a conversar.

- Então, o que você ganha? - perguntei.

- Meu salário? Não é grande coisa. - Ele respondeu, confuso.

- Não, o que você ganha me ajudando. - me apoiei nos cotovelos - Para pagar um almoço ao filho do seu chefe... você deve ser do tipo bem puxa-saco, hein?

Cara e CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora