Capítulo 17

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POV: Catarina

  — Buscapé, podemos conversar?

  Surpresa tingiu o seu olhar, de forma a se questionar, talvez duvidar. Estava sentado e quando tentei me aproximar, se levantou e passou pela porta dos fundos sem ao menos me encarar, deixar um indício se eu poderia lhe acompanhar.

  — Vocês precisam mesmo conversar — Mimosa foi a primeira a se pronunciar, então, o segui, mesmo que não quisesse me escutar.

  Levei um tempo para encontrá-lo, me sentei ao seu lado, torcendo internamente para não afastá-lo. O encarei e vi o quanto parecia chateado, abatido, muito diferente do menino agitado, inteligente e desaforado.

  — Quero te pedir desculpas...

  — A madrinha fugiu e nem pediu a minha ajuda, eu nem sabia onde estava e se voltava, fiquei de castigo e nem foi culpa minha.

  — Sinto muito, não foi planejado, eu sequer sabia que sairia sem comunicá-lo.

  — Não foi pelo castigo que fiquei chateado.

  Não, claro que não. Como ninguém, entendo perfeitamente a sua frustração, Buscapé sempre foi o meu maior aliado, não só contra os pretendentes escolhidos por papai, como todo e qualquer plano elaborado para irritá-lo.

  — E a senhora ainda vai casar, casar de verdade... tá pedindo desculpa, mas vai me abandonar de novo.

  — Buscapé, nunca tive intenção de fazer tal coisa, sinto muito por não ter te comunicado, nunca o abandonaria, imagine, quem eu ensinaria? Quem me irritaria? Quem me ajudaria? Quem seria a minha companhia?

  — Seu Petruchio, num é com ele que vai casar?

  Não pensei que seria fácil, mas nunca imaginei que seria tão difícil.

  — É diferente, você sabe disso — suspirei antes de finalizar — se você puder me desculpar, tenho um convite a fazer.

  — Vai me levar para passear? — Seus olhos voltaram a brilhar.

  — Posso levar, mas o convite é para que venha morar comigo.

  — Arri, é sério isso, madrinha?

  — Claro que sim, alguma vez eu já menti?

  — Não!

  Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas nos encarando, estendi a mão esperando e talvez me preparando pela recusa, mas não veio. Sorri ao sentir seus braços ao redor de mim, o abracei e não contei quanto tempo ficamos assim, talvez até ouvirmos o sino.

...

POV: Petruchio

  — Vamo bora, Calixto — já perdi as contas de quantas vezes disse isso, mas é uma enrolação para sair de casa, como se pudesse ficar mais bonito com toda essa demora, arri égua.

  — Já tô indo — veio vindo com o chapéu em uma das mãos, arrumando os fios do bigode com a outra, Lindinha o esperava na porta e juntos se aproximaram da carroça.

  Já havia carregado os queijos, separado as broas de Catarina, pela manhã tomei banho e olha só, até troquei as meias da botina. Estou ansioso, como se fizesse anos que não a vejo, a verdade é que estou com saudade, não só pelo contexto, mas pelo contentamento que foi viver todos aqueles pequenos momentos, sem questionamentos ou falta de jeito, nem ninguém para interromper nossos beijos.

Além da Verdade e da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora