Inysfoar: As Montanhas de Fogo

Capítulo 1: Histórias de Ninar

Trovões e relâmpagos estremeceram a câmara submersa, fazendo tilintar o ouro e as joias que ali se escondiam. Brenin Herborsed, empunhava sua espada ao lado de seus conterrâneos determinados, mas seus olhos não pareciam deslumbrados pela visão da riqueza como se esperava. Estava esperando. Esperava uma emboscada, uma mentira, até mesmo uma traição, mas não esperava que fosse fácil. 

Estava acompanhado de um esquadrão quase de elite, composto pelos melhores vassalos que qualquer rei poderia pedir. Sigwier Naif era seu braço direito, tinha a força de um cavalo, mas o corpo pequeno de anão; Graig Medrus era sua feiticeira élfica seguidora de Tomos, tinha grande poder de ataque, mas seu potencial era melhor aproveitado quando usado para medicina e amplificação do desempenho do time; Hantress Dalln era sua arqueira, uma Feliciana forte e de cabeça firmada no objetivo que não se deixava abalar por nada no campo de batalha, por isso Brenin confiava nela de olhos fechados. Quando tudo desse errado, Hantress era a última esperança.

O ar denso em seus pulmões devido ao cansaço fazia com que todo o lugar não passasse de uma miragem, daquelas que pesam nosso peito de euforia e torna tão difícil de respirar quanto de acreditar. Quando Sigwier quis relaxar sua postura, recebeu uma bronca silenciosa de Hantress que baixou seu arco à altura do peito do anão, para manter seu corpo ereto. As orelhas de felino da caçadora se mexiam para todas as direções, buscando algum sinal de movimento naquele buraco quente e estranhamente claro. Uma câmara nunca seria tão silenciosa. Não havia um rato para tamborilar com suas patinhas pelas paredes, ou uma mariposa para se debater no ar desnorteada. Na verdade, algo parecia expulsar toda e qualquer vida de dentro daquela câmara. E, então, como se tudo fizesse sentido, Hantress arregalou os olhos, as pupilas afinando com o susto e sibilou com o pouco ar que tinha em seus pulmões.

"Atenção!", relaxou a caçadora, tomando postura de defesa com seu arco apontado para baixo. "O que quer que esteja escondido, é muito grande."

Brenin sentiu suas pernas bambas. Entendeu o porque aquela sala estava tão quente, e porque aquele silêncio parecia tão ensurdecedor: era uma respiração. Um bafo quente, úmido e bem compassado, que dentro daquela câmara fechada ecoava constantemente, formando um zumbido alto em seus ouvidos. Havia guiado seu esquadrão para a boca da fera.

Um estalido surdo seguido de uma rufada de vento quente e sufocante preencheu a câmara de uma vez só. As tochas se apagaram e toda aquela clareza refletida pelas joias reluzentes se tornou um breu esverdeado e, por trás da montanha de ouro, soergueu-se a silhueta gigantesca de uma criatura imponente e escura como carvão. O silêncio deu lugar a um rosnado borbulhante que vinha direto da garganta do animal e então um latido interrompido por um grito e um som de corda batendo contra o ar. Em um momento de desespero, Graig iluminou uma esfera em sua mão e a lançou para o alto, mantendo-a suspensa, presa a nenhum lugar exceto o próprio ar. Contudo, desejava profundamente não o ter feito, pois a cena que presenciou a fez perder o chão...

— Omana¹! Tô com medo. — tremeu a pequena Rhyfellor sob seus cobertores finos de couro de lapros. 

— Ó, querida Rhy, —  sorriu com carinho a senhora Gwiniver Adewid sentada ao lado de sua filha. — essa história é necessária para todos nós dos Montes Nevados. É a história de Brenin Herborsed, o herói que libertou seu povo do medo e da dor.

Observando sua garotinha com a boca trêmula, a mãe decidiu que poderia terminar a história em outro momento. Deixou o livreto de lado e se aninhou com a menininha ruiva na pequena cama feita por seu marido amado, que outrora fora caçar longe de casa e não voltou mais. Abraçando Rhyfellor com calor, Gwiniver cantarolou uma antiga música conhecida em toda Inysfoar.

Quando o amanhã chegar, nada temerei,

pois o ardor do sol na pele eu sentirei.