"Essa não é uma história típica dos contos de fadas.
Troque a maçã envenenada por uma tentadora taça de vinho.
A bruxa maléfica, por uma donzela da sociedade.
E o mais importante: a mocinha não é a personagem principal. Até agora."
Emilli não acorda...
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Desviar de corpos agitados e receber cumprimentos de pessoas que eu não conhecia não era o que eu esperava para a noite. Enrolada debaixo dos cobertores, a quarenta minutos atrás eu estava no antigo quarto de brinquedos, rolando os botões do controle de um lado para o outro à procura de um filme interessante para assistir. E quando eu estava prestes a colocar Frozen II - sim, eu amo filmes da Disney - o telefone tocou.
- Para onde você vai, mocinha? - Hanako perguntou, olhando a minha movimentação. - Já passam das 22h da noite.
- A Lya, aquela garota da agência, chamou Kentin e eu para a festa de aniversário dela. Eu até ia recusar, mas ela falou com o Kentin primeiro...
- Essa gente famosa não sabe o que é avisar com antecedência? - Encostada no sofá, Tia Miya desviava a atenção por alguns segundos antes de voltar para o dorama que assistia. - Essa protagonista é tão lerda...
- Hmmmm, acho que não. - Respondi, sincera. - Posso ir, mãe?
- Se envolve a agência... - Hanako suspirou, pensativa. - Você vai dormir no Ken?
Eu já estava a tempo suficiente nesse mundo para saber que Hanako era uma mãe super liberal, mas aquilo ainda me chocava. De onde eu venho, garotas não são nem permitidas a se encontrarem com seus pretendentes amorosos sem uma dama de companhia por perto. Dormir então? Nem pensar. Mas essas eram as regras do mundo de conto de fadas, não do mundo real.
- Eu acho que sim... - Mordi os lábios e balancei as pernas de maneira nervosa. Da última vez, disse à Kentin que dormiria na casa dele quando fôssemos a outra festa, e esse dia tinha chegado. Minha cota de desculpas para não dormir com o meu namorado já havia esgotado o limite.
- E por quê está com essa cara de pânico, menina? No meu tempo, era preciso fugir pela janela para se divertir.
- Miyako! - Hanako a repreendeu. - Não fale essas coisas para ela.
- Ah, Hana, faça-me o favor! - Tia Miya retrucou, ironizando. - Você acha que nesse tempo todo tudo o que ela fez com o namorado se resume a dormir?
Dessa vez, fui eu que corei. Me levantando rapidamente, deixei as duas naquela calorosa discussão, me trancando no meu quarto.
Kentin e eu não havíamos feito nada desde que assumi o lugar de Sophie. No entanto, sabia que a antiga dona desse corpo já partilhava de certas intimidades com o namorado, e já que eram adeptos a práticas carnais, Kentin não entendia o motivo de "termos" parado.
Não tenho devaneios. Apesar de vir de uma cultura onde a virgindade, e a manutenção dela era tida como algo que separava as moças puras das chamadas pecaminosas, sabia que regras como as que eu estava acostumada não existiam nesse mundo. Não é por não querer saber como é a sensação, que fujo das investidas dele. Eu não consigo. Apesar de tudo o que faço para me aproximar de Kentin, todos os sorrisos e dizeres, não consigo vê-lo como alguém que eu queria partilhar o meu corpo. Não consigo imaginar um cenário onde Kentin e eu passaríamos a noite em carícias e beijos apaixonados, trocas constantes de calor e palavras sussurradas na intimidade. Quando penso em me despir na frente dele e dar a liberdade para que ele me tenha daquela maneira profunda, fico mais assustada e pavorosa do que deveria.
