~Talvez Em Outra Vida~

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mariiiautora

Música: Fictional - Khloe Rose

   Acordo em um quarto, logo reconheço as paredes camurça e o carpete acinzentado. A colcha bordada com rosas vermelhas e a escrivaninha em um canto, onde há a nossa fotos juntos.

   - Acordada, amor? - sinto o braço de Theo envolver minha cintura, fecho os olhos, aproveitando o máximo daquele momento.
   - Sim. - respondi, me virando para ele.

   Encontro as íris verdes me encarando, a boca rosada e carnuda e o rosto bem desenhado, como se ele tivesse saído de um romance best-seller.

   Como eu amo esse homem.
   - Feliz aniversário, meu amor. - ele deposita um beijo em meus lábios. - Não sei o que seria da minha vida sem você.

   - Eu que agradeço por te ter na minha vida. - sorrio. - Eu te amo.
   - Eu também te amo. - ele coloca o rosto na curva do meu pescoço.
   Logo o alarme desperta, indicando que já é quase a hora de levar Anne para a escola.

   - Sabe que não podemos procrastinar não é? - ele pergunta com um sorriso capaz de derreter qualquer mulher.

   Reviro os olhos, desejando poder passar o resto da minha vida agarrada à ele.

   Logo a porta se abre, revelando a pequena junção de nós dois. Os olhos verdes do pai e os cabelos negros da mãe.

   - Bom dia mamãe! Bom dia papai! - Anne se joga na cama entre nós. - Feliz aniversário mamãe!

   Anne se joga em cima de mim e a envolvo em um abraço apertado.
   - O que acha de irmos à sorveteira depois da escola? - pergunto.

   Quero aproveitar o máximo possível com os dois amores da minha vida. E não há uma maneira melhor de passar o meu aniversário se não for com eles.

   - Sim! - a pequena diz, empolgada e se joga em cima de Theo.

   Encaro aquela cena. Os dois se olhando, Theo acariciando sua cabeça. É a família que eu sempre desejei, não tem como eu ser mais realizada.

   - Então vamos tomar café. - me levanto e eles repetem meu gesto.

(...)

   Estaciono o carro na garagem e entro em casa, encontrando as cortinas fechadas e as luzes apagadas.
   Franzo o cenho, a essa hora é comum que Theo estivesse me esperando para fazermos o almoço juntos.
   - Amor? - o chamo, mas ao invés dele responder, sinto braços me envolverem e o seu peitoral em minhas costas.

   Ele acende a luz, e me viro para ele.
   O mesmo está com uma caixa branca nas mãos, com um laço de cetim branco no topo.

   - Abra. - ele sorri.

   Pego a caixa e a abro. Minha boca forma um "O" em choque.
   Retiro o Opyum YSL preto da caixa.
   Encaro Theo desacreditada, antes de pular em seu colo, envolvendo seu quadril com as pernas e seu pescoço com os braços.
   - Isso é perfeito! Muito obrigada! Eu amo você!
   Eu não poderia pensar em ter um marido melhor.
   - Que bom que gostou, amor. - ele sorri. - Vamos jantar hoje, quero que use ele.
   Assinto, ainda sorrindo.
   Theo me puxa em direção a cozinha.

(...)

   - Mamãe! - Anne me chama. - Eu quero mais um! - diz, jogando o palito do seu 5° picolé no lixo.
   Theo ri.

   - Calma aí pequeno dragão! - ele a pega e coloca sentada em seu colo. - Acho que chega de doce por hoje, não?

   Anne faz bico.

   - Pode ir brincar no parquinho, filha. - tiro ela do colo de Theo. - Tem várias crianças lá, vá fazer amizade.
   Logo o bico se desfaz, dando lugar a um sorriso e covinhas.

   - Tá mamãe! - ela sai correndo em direção às outras crianças.

   - À qual restaurante vamos hoje? - pergunto para Theo.

   Ele coloca o indicador sobre sua boca, indicando que é "segredo".

   - Mas você vai gostar, amor, eu prometo. - ele me dá um selinho.

   O encaro, pensando como a sorte está do meu lado. Eu sou casada com o homem da minha vida, tenho uma filha linda, e minha vida é simplesmente perfeita.

   De repente escuto o barulho dos tênis correndo em nossa direção.
   - Mamãe! Olha o que eu achei! - ouço a voz da pequena.

   Vejo Theo arregalar os olhos.
   Me viro, e não posso deixar de arregalar os olhos também.
   Nas costas de Anne, há um filhote de macaco agarrado à ela.

   - Eu já dei até nome! É George, quem nem no "George, o curioso"! - ela sorri.

   O pequeno macaco se agarra à ela como se ela fosse sua mãe.

   Me levanto e ajoelho, ficando da sua altura.

   - Me desculpe, filha, mas você não pode levá-lo. - falo.

   Os olhos de Anne se enchem de lágrimas e não posso deixar de ficar chateada também. Eu odeio vê-la chorar.

   - Se você o levar, ele nunca mais vai ver a mamãe dele, você gostaria de nunca mais me ver? - pergunto, acariciando sua bochecha.
   Ela me encara com olhos verdes brilhando e nega.

   - Vem, vamos devolvê-lo para a sua família. - pego em sua mão e seguimos em direção ao pequeno bosque perto do parquinho.

   Anne pega o macaquinho e o devolve na árvore, onde sua mãe está. Seus olhos ainda estão cheios de lágrimas.

   Pego ela no colo, para voltarmos para casa.

(…)

   Anne chorou o caminho todo de volta para casa. Prometi à ela que quando eu voltasse faríamos uma noite das garotas. Ela ficou com sua tia, irmã de Theo.

   O restaurante que Theo me trouxe é lindo, e elegante, com certeza muito caro.

   - Eu amo você. - falo, encarnado o homem à minha frente.
   Mas quando seus olhos encontram os meus, não vejo eles brilharem de alegria como sempre.

   - Eu também te amo. - ele sorri, mas é um sorriso triste. - Mas você precisa acordar.

   - Acordar? - pergunto confusa.
   Ele assente.
   Tento entender o que está acontecendo, e lutar quando sinto algo me afastar dele, do meu amor. Da minha vida. Da minha família.

(…)

   Levanto assustada. Demoro um pouco para reconhecer o meu escritório.

   Não sei por quanto tempo dormi, na minha frente, vejo o caderno que uso para escrever meus romances.
   Leio a última frase.

   “Talvez em outra vida.”
   Suspiro entristecida.
   Afinal, essa é a maldição de ser uma escritora, a vida que eu desejo, serve para ser lida, não vivida.

(Esse texto foi revisado e está entre os classificados )

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