Hongjoong não antecipava encontrar alguém na pequena cela da delegacia de polícia ao se apresentar para o trabalho naquela manhã, menos ainda alguém tão evidentemente alheio à sua pacata cidade, onde todos se reconheciam e os únicos frequentadores da prisão eram os bêbados que causavam tumultos em noites de sexta-feira.
– Quem é esse?
O xerife Song - conhecido como Mingi por Hongjoong - arqueou uma sobrancelha de sua escrivaninha.
– Não o reconhece?
Hongjoong lançou outro olhar furtivo à figura que permanecia imóvel no banco da cela. Era cedo demais para aquilo; esperava entrar e trocar algumas palavras despreocupadas com Mingi por pelo menos uma hora antes de iniciar qualquer tarefa verdadeira.
– Não, não reconheço.
Mingi deslizou silenciosamente um pedaço de papel sobre sua mesa em direção a Hongjoong, que se aproximou para pegá-lo. Ele franziu o cenho, incrédulo diante do que via.
– Você não pode estar falando sério. Aqui?
Ele desviou o olhar da figura estampada no cartaz de "PROCURA-SE" - a mesma que adornava cada canto da cidade e, provavelmente, do condado e além - para o indivíduo na cela, buscando traços de semelhança. Ao se concentrar, percebeu que ali estava, de fato, a pessoa que procuravam, embora o retrato no cartaz exibisse as feições rudes de um criminoso, enquanto o homem diante de si parecia tão...inofensivo.
– Alguns de nossos oficiais o detiveram ontem à noite – Declarou, com um tom quente de orgulho. Hongjoong não podia culpá-lo. Quem poderia esperar que sua cidade inconsequente tivesse Park Seonghwa em seu domínio? – Dizem que ele resistiu bastante.
– E o que faremos com ele?
– Bem, é aí que você entra – Hongjoong já começava a se preocupar ao ouvir isso, mas Mingi prosseguiu. – Você vai escoltar nosso estimado criminoso até a prisão na cidade grande, sabe qual é. Eles estão mais preparados para lidar com tipos como ele.
– Por que não enviam alguém aqui para buscá-lo?
– Seria mais prudente se essa operação fosse mantida...discreta. Ambos sabemos que enviar uma equipe de oficiais altamente armados só traria alarme à cidade. Não queremos instigar pânico entre os habitantes até que possamos garantir que ele esteja devidamente confinado em uma cela de prisão permanente.
– Mas já o detemos-
– Ei! – Mingi interrompeu, sua repreensão carregada de autoridade de xerife, não de amigo. –Nós o temos agora, e será sua responsabilidade mantê-lo assim. Chega de questionamentos. São três dias de caminhada, então é melhor começar logo.
Hongjoong sentiu vontade de gritar. Caminhar?! Mas quanto mais ponderava sobre a situação, mais lhe parecia sensato. Não poderiam simplesmente montar a cavalo; seria fácil demais para Seonghwa escapar, e ele duvidava que houvesse algum ônibus na cidade disposto a transportar um criminoso. Ele abaixou a cabeça em sinal de concordância.
– Sim, senhor.
O semblante de Mingi suavizou.
– Não fique tão abatido. Faça o que deve ser feito e será generosamente recompensado ao retornar.
Na verdade, não era o salário que o inquietava. Apesar de ocupar o posto de vice - o segundo no comando, logo após Mingi - ele se sentia inadequado para a função. A verdade é que só havia alcançado tal posição porque seu pai a ocupara anteriormente. No entanto, ali estava seu superior, o encarregando de uma tarefa de extrema importância a qual não conseguiria recusar.
Com passos hesitantes, ele se dirigiu à cela e lançou outro olhar para dentro, onde o prisioneiro o encarava com olhos expressivos e uma feição solene. Compreendia que as aparências podem enganar. Isso ele sabia muito bem, mas ainda assim não conseguia evitar questionar como alguém como ele poderia ser tão perigoso quanto sua reputação sugeria. As alegações, os atos que diziam que cometera...
Hongjoong estremeceu e virou-se para Mingi.
– Vou precisar organizar alguns-
– Suprimentos? – Mingi ergueu uma mochila volumosa que repousava ao lado de sua mesa. – Já tenho tudo o que você precisa aqui. Munição, um cobertor, água, dinheiro. Há comida suficiente para três dias, embora você possa ter que racioná-la se a jornada se estender.
De todas as informações que Mingi acabara de fornecer, uma palavra em específico ecoou em sua mente. Cobertor?
– Você vai precisar evitar entrar em qualquer cidade pelo caminho, é claro. É assim que as coisas funcionam lá fora – Mingi entregou a mochila. – Há também uma corda aqui. Use para amarrar-lo a uma árvore ou algo assim quando precisar dormir.
Apesar de tudo isso, Hongjoong não pôde deixar de notar que Seonghwa permaneceu em silêncio. Sem protestos ou discussões nem mesmo diante da menção de ter que ser amarrado a uma árvore para passar a noite. O silêncio o perturbava, e alguns minutos depois, após concluir algumas instruções finais com Mingi e destrancar a cela, Seonghwa levantou e se deixou algemar sem resistência. O coração de Hongjoong acelerou quando seus dedos tocaram a pele dos delicados pulsos do criminoso. Quantas vidas haviam sido ceifadas por aquelas mãos... dezenas, centenas?
Ele ajustou as algemas. Estavam seguras, mas ainda assim não pareciam suficientes, então pegou um pedaço de corda da bolsa. Amarrando uma extremidade da corda em torno dos pulsos de Seonghwa, Hongjoong ponderou segurar firmemente a outra extremidade para garantir que ele não pudesse escapar de forma alguma. Seonghwa sorriu. Tinha um sorriso encantador que o fazia parecer mais jovem. E quando falou, sua voz era suave apesar de profunda.
– Parece que não confia tanto em mim, vai me levar para passear como um cachorro?
– Silêncio – Vociferou Mingi. – Não tem direito de reclamar depois de mandar dois dos meus policiais para o hospital.
Seonghwa deu de ombros e trocou um olhar conspiratório com Hongjoong.
– Não podia deixá-los me levar sem resistir.
Hongjoong engoliu em seco e enrolou a corda em sua mão, apenas para garantir uma segurança extra, antes de se virar para Mingi.
– Você o revistou em busca de armas?
Mingi assentiu.
– Óbvio. Agora vá rápido antes que toda a cidade desperte e perceba sua partida.
– Sim, senhor. Pretendo estar de volta em uma semana.
– Estarei aguardando.
Hongjoong conduziu Seonghwa para fora da cela e em direção à porta da frente.
– Ei.
Hongjoong se virou. Mingi lhe lançou um olhar sério.
– Lembre-se, você é quem está com a arma.
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pretty little killer ✿ seongjoong
FanfictionO deputado Kim Hongjoong é encarregado de escoltar Seonghwa a uma prisão mais adequada para contê-lo. No entanto, uma travessia de três dias pelo deserto revela-se tempo mais que suficiente para ele se apaixonar por um criminoso. ⚠ 𝗪𝗔𝗥𝗡𝗜𝗡𝗚┃ s...