Capítulo 3

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Quando eu era adolescente e tinha pesadelos, a minha mãe costumava cantar uma pequena melodia para me acalmar e aconchegar-me com todo o carinho. Mas agora, ela não está aqui para impedir que o lobo preto e branco, que assombra as minhas noites, desfira um golpe mortal na minha garganta com as suas presas afiadas.

Um grito rouco e aflito escapou dos meus lábios. Acordei sobressaltada, a minha respiração estava muito acelerada e a minha pele suada. Olhei para o relógio. Ainda tenho uma hora até o despertador tocar. Levantei-me da cama ainda meio-sonolenta, vesti o robe negro, pendurado atrás da porta do quarto e fui até à sala ver como estava o meu visitante peludo. Fiquei surpresa ao chegar à sala e não encontrar o lobisomem em lado nenhum.

" Onde é que ele se meteu?"

O apartamento extremamente silencioso deixou-me desconfiada. A porta da casa de banho estava aberta, a sala, como a deixei ontem, exceto, pelo pequeno pedaço de papel pousado na mesa de café. Peguei nele curiosa.

"Obrigado por tratares das feridas. A mota está estacionada lá em baixo."

No fim da mensagem tinha a assinatura em letras grandes e alongadas.

"Cumprimentos, Ian"

Ian. O nome dele é Ian.

Deixei-me de divagações e fui preparar-me para mais um dia exaustivo de aulas. No estacionamento, como dizia no papel, estava a minha Kawasaki que eu tanto adoro, sentei-me nela e pus-me a caminho da universidade. À entrada havia milhares de alunos a correr de um lado para o outro, atarefados com as suas próprias preocupações. Parei no parque de estacionamento e assim que desci da mota fui esmagada por um furacão chamado Kate.

— Bom dia! — cumprimentou-me ela com alegria e energia, apertando-me as costelas com força.

— Ol... Aii... Kate, estás a esmagar-me as costelas! — reclamei, com uma expressão de dor no rosto.

— Desculpa, mas estou muito feliz hoje! — ela respondeu, com um sorriso radiante.

— A tua felicidade magoa. Literalmente. — retorqui, franzindo a testa.

— Então imagina teres de acordar com ela a cantar ou a gritar, não tenho a certeza do que aquilo era. — disse Mel, com um tom de brincadeira na voz. — Acho que até vi uma racha na janela do quarto.

— Hei, eu canto muito bem, para constar. Tu é que não sabes apreciar uma voz como a minha. — respondeu Kate, ligeiramente ofendida.

— Pudera, quem é que apreciaria o som de um gato a ser estrangulado? — provocou a prima, levantando uma sobrancelha com sarcasmo.

Evelyn e eu rimos do comentário já habituadas ao despique matinal entre as primas e divergimo-nos ao edifício principal acompanhadas por estas.

— Qual é o motivo para tanta felicidade, Kate? — perguntei, curiosa, levantando uma sobrancelha em sinal de curiosidade.

— Kyle conseguiu bilhetes para o concerto dos Imagine Dragons no próximo sábado à noite! — Kate exclamou, com um sorriso radiante que iluminava o seu rosto.

— E tinha logo de ser na nossa noite de saídas... — comentou Mel, com uma expressão de descontentamento, franzindo o cenho.

— Vá lá, Mel, o rapaz não tem culpa, apenas quer fazer a Kate feliz. — intervim, tentando apaziguar a situação. — De qualquer maneira, eu não posso ir esta semana, tenho de ir trabalhar.

— Traidoras! — amuou Mel, cruzando os braços e fazendo uma careta de desagrado.

— Não te preocupes. Depois obrigamo-las a compensar-nos. — disse Evelyn, que até agora estava em silêncio, com um sorriso travesso no rosto, divertindo-se com a situação.

Aliança Improvável: entre sombras e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora