Sempre me perguntei sobre o que acontece quando morremos. Será que vamos para uma terra perfeita? Talvez para o inferno? Ou então deixamos de ver, pensar, existir? De todas as hipóteses, nunca pensei que o meu destino após morrer fosse o Inferno.
Acordei ao sentir algo gelado e húmido tocar no meu corpo. Abri os olhos para uma imensidão branca à minha frente e um céu da cor do vómito de um gato que comeu salmão. Semicerrei os olhos ao notar umas manchas verdes no horizonte.
Comecei a correr, tentando aquecer o corpo e alcançar a zona verde. A cada passada, no entanto, a zona verde parecia afastar-se mais, como um pesadelo sem fim. A angústia começou a tomar conta de mim, crescendo a cada passo pesado na neve fria que queimava a pele.
O meu coração batia descontroladamente, a respiração tornava-se ofegante e irregular. O medo de nunca alcançar a salvação fazia os meus músculos doerem e a mente enlouquecer.
Foi então que vi uma mancha vermelha na espessa neve, um sinal perturbador. O vermelho formava um caminho de gotas que segui com cautela, mas o pânico já dominava os meus pensamentos. A cada gota que encontrava, sentia um calafrio percorrer a espinha, como se algo terrível me aguardasse no fim daquele trilho sanguinolento.
O silêncio opressor da paisagem, a vastidão gelada e a incerteza do meu destino aumentavam a sensação de desolação. O meu corpo tremia, não só pelo frio, mas também pelo terror que se infiltrava em cada fibra do meu ser. A esperança desvanecia-se a cada passo, substituída por um pavor crescente de estar presa numa eternidade de solidão e sofrimento.
Sem dar por ela, acabei por chegar à zona verde, um bosque de pinheiros-bravos, altos e frondosos. A mancha vermelha continuava pelo bosque adentro e, preocupada com a possibilidade de haver alguém ferido, continuei a seguir o rasto. Ao fim de alguns passos, encontrei um lobo com o pelo castanho coberto de sangue e o pescoço desfeito no meio da vegetação. Imediatamente, senti um nó a formar-se na minha garganta e os meus olhos a arder.
Em pânico, apenas consegui correr. Corri até ficar sem fôlego, as minhas pernas falhando, deixando as lágrimas molharem livremente o meu rosto. Cada passo era uma tentativa desesperada de escapar ao horror que acabara de testemunhar.
Finalmente, avistei a casa dos meus pais, mas o que encontrei destruiu completamente o meu coração. As forças abandonaram-me e caí de joelhos no chão, incapaz de suportar o cenário à minha frente.
Sangue pintava o chão, e os corpos dos meus primos mais novos, assim como os das crias de lobisomem, estavam em estado deplorável. Um soluço escapou da minha garganta antes de uma cascata de lágrimas inundar o meu rosto. O desespero e a dor esmagavam-me, e sentia como se o mundo tivesse desmoronado ao meu redor.
A visão dos corpos, mutilados e ensanguentados, era mais horrífica do que qualquer pesadelo que pudesse imaginar. O cheiro metálico do sangue misturava-se com o ar frio, tornando a cena ainda mais insuportável. O pânico apertava o meu peito como um punho de ferro, e cada soluço parecia arrancar um pedaço da minha alma.
Um rosnado ecoou na rua e, antes de avançar, peguei numa adaga caída no chão. Quem quer que tenha matado a minha família pode estar lá fora. Já no jardim da casa, evitei olhar para os rostos dos corpos caídos e corri para o bosque, tendo o cuidado de não tropeçar nas raízes das árvores. Os rosnados guiaram-me até um lobo cinzento que reconheci pelos seus olhos azul-marinho. Ian estava acompanhado do meu pai, que tinha um grande ferimento na perna direita e sangue a jorrar do abdómen. Ele estava caído junto a uma árvore, lutando para manter os olhos abertos.
Um lobo enorme mantinha uma distância ameaçadora de Ian, rosnando furiosamente. No instante seguinte, os dois envolveram-se numa luta feroz de garras e dentes, rasgando pele, arrancando pelo e abrindo feridas que deixavam escapar grandes quantidades de sangue. No meio do confronto, o lobo conseguiu agarrar a garganta de Ian e dilacerou a sua traqueia com os dentes afiados.
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Aliança Improvável: entre sombras e segredos
Loup-garouAlicia McAllister aparenta ser uma estudante universitária perfeitamente comum, com o simples desejo de concluir os seus estudos e encontrar um bom emprego. No entanto, ela esconde um segredo sombrio: nas suas horas vagas, ela caça lobisomens. A vid...