A manhã transcorreu com mais caminhadas e, no caso de Seonghwa, conversas. Não sabia ao certo como interpretá-lo. Apesar de agir inocentemente em alguns momentos, ocasionalmente algo em seus olhos revelava um lampejo da loucura que associaria a um criminoso.
À medida que a tarde avançava, o calor parecia ainda mais sufocante do que no dia anterior. Hongjoong lamentou ter acabado com a água tão rapidamente, pois talvez o rio não estivesse tão próximo quanto imaginava. Sua boca estava ressecada.
– Vamos, delegado Kim – Pediu. – Você está diminuindo o ritmo.
– Está tão ansioso assim para chegar à prisão?
– Não é a prisão – Corrigiu. Ele indicou, ou tentou indicar com as mãos algemadas à sua frente, algo distante. – Não vê o rio?
Hongjoong franziu o cenho. Tudo à distância parecia vagamente distorcido como sempre acontecia em dias de muito calor.
– Não vejo nada.
– Vai ter que confiar na minha palavra, então. Vamos logo!
Hongjoong suspirou, acelerando o passo para acompanhar Seonghwa. Levou mais dez minutos até que percebesse que ele não estava mentindo; estavam quase chegando ao rio.
– Viu? Eu te disse – Exclamou. Ele se virou, andando de costas enquanto falava com Hongjoong. – Meus olhos não me enganam. Uma vez, quando eu tinha uns sete anos...
– Quantas vezes – Interrompeu. – Quantas vezes eu tenho que dizer para prestar atenção por onde anda? – A última coisa que precisava era que Seonghwa pisasse acidentalmente em um escorpião ou algo assim, e apesar de seus esforços, falou tarde demais. Seonghwa tropeçou em uma fenda particularmente larga no chão e caiu para trás. Hongjoong deu alguns passos em falso quando a corda o puxou para frente.
– Viu? Eu te disse – O repreendeu, usando suas palavras contra si mesmo.
Seonghwa se sentou, os olhos lacrimejando.
– Você se machucou? – Perguntou, sentindo-se um pouco culpado por tê-lo repreendido depois que caiu.
Olhou para seus pulsos, que agora estavam pingando sangue onde as algemas deviam ter cortado quando caiu.
– Um pouco – O líquido escuro foi prontamente absorvido pela sujeira, tingindo-a de vermelho.
Hongjoong começou a entrar em pânico.
– Não acho que o xerife Song tenha colocado nenhum material médico, eu-
– Tudo bem – Interrompeu. Ele conseguiu se levantar sem qualquer ajuda, e seus olhos se voltaram para o rio a poucos metros de distância. – Posso lavar na água.
Foram até a margem do rio, Seonghwa deixando um rastro vermelho pelo caminho. Como aquelas algemas puxaram tão forte?
Observou enquanto ele se ajoelhava e mergulhava as mãos na água, suspirando de alívio.
Hongjoong colocou o cantil na água, permitindo que a correnteza o enchesse enquanto observava Seonghwa tentar limpar os detritos e o sangue.
– Já estava sangrando antes mesmo de eu cair – Explicou. – A ferida já tinha parado de sangrar, mas acho que ainda há sujeira por baixo – Após alguns segundos de tentativa frustrada, ele olhou para Hongjoong. – Seria mais fácil se você retirasse as algemas.
Hongjoong balançou a cabeça imediatamente.
– De jeito nenhum.
– Eu não vou a lugar algum – Assegurou – Mesmo que eu tentasse fugir você iria me alcançar. Eu sei disso.
Os olhos de Seonghwa suplicavam, transmitindo uma imagem de inocência. A cada momento em que mantinham contato visual, Hongjoong sentia sua determinação enfraquecer, até que finalmente...
– Tudo bem – Suspirou. Em parte foi culpa sua por insistir em amarrar Seonghwa a ele como um maldito cachorro.
– Mas se tentar fugir eu não vou me dar ao trabalho de correr atrás de você.
Seonghwa lhe lançou um olhar interrogativo.
Hongjoong colocou a mão sobre a arma em seu cinto.
– Vou atirar.
Seonghwa sorriu.
– Oh, não há necessidade de tudo isso. Pode tirar, você vai ver, serei bom como ouro.
Ainda um pouco hesitante, pescou a chave das algemas no fundo de sua mochila. Supôs que teria que encontrar um novo esconderijo para elas mais tarde.
– Seja rápido – Ordenou, ajoelhando ao lado de Seonghwa e trazendo os pulsos para frente.
– Pode deixar.
Hongjoong podia sentir seus olhos estudando seu rosto, e começou a se sentir constrangido. Não sabia por que se importava, mas tinha certeza de que não tinha muito para ser admirado; não depois de caminhar em um clima de 40 graus por mais de um dia. Seonghwa, por outro lado, pelos breves vislumbres que se permitiu tirar dele, parecia completamente inalterado.
Hongjoong segurou as algemas com cuidado, evitando piorar ainda mais a lesão de Seonghwa. Não pôde deixar de notar os círculos irregulares e inchados ao redor de seus pulsos que pareciam fora de lugar em contraste com sua pele clara. Destravou as algemas e as removeu, observando Seonghwa com expectativa.
Ele girou os pulsos algumas vezes com a liberdade recém-adquirida e depois estremeceu.
– Ai. Talvez eu não devesse fazer isso – Ele mergulhou os pulsos na água fria novamente. A essa altura eles já haviam parado de sangrar; o rio raso não estava mais tingido de vermelho.
Pode ter levado apenas alguns minutos, mas pareceu uma eternidade para Hongjoong, pronto para agir caso ele tentasse alguma coisa. Mas nada aconteceu; ele limpou a sujeira dos pulsos como prometido e, quando terminou, estendeu as mãos limpas e pingando água.
– Tudo bem, pode me algemar de novo.
A voz de Mingi ecoou em sua mente, o alertando para ter cuidado e não deixar Seonghwa escapar. Agora, os avisos pareciam paranóicos. Talvez não precisasse se preocupar tanto, afinal.
De todas formas, ele fechou as algemas novamente em volta de seus pulsos e sentiu outra onda de culpa ao fazê-lo.
– Obrigado, delegado Kim. Isso foi muito gentil.
Hongjoong se encolheu.
– O único que me chama de 'Delegado Kim' é meu chefe. Todo mundo me chama apenas de Hongjoong.
– Eu sou todo mundo?
Hongjoong fez uma pausa.
– Não, não é.
Seonghwa era diferente de qualquer pessoa que já conheceu, e ele duvidava que isso pudesse ser atribuído apenas ao fato de ter crescido em uma cidade com menos de 400 habitantes.
Ele sorriu docemente, mas havia algo um pouco selvagem nele também. Como um lobo fingindo estar ferido antes de ir atrás do próximo coelho inocente que cruzasse seu caminho.
Seonghwa se levantou.
– Vamos indo? Estou morrendo de vontade de ver minha nova casa.
– Claro...
Apesar de tudo, era fácil esquecer por que estavam ali. Seonghwa era um criminoso. Estava indo para a prisão. Hongjoong o levaria para lá e eles nunca mais se veriam.
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pretty little killer ✿ seongjoong
FanfictionO deputado Kim Hongjoong é encarregado de escoltar Seonghwa a uma prisão mais adequada para contê-lo. No entanto, uma travessia de três dias pelo deserto revela-se tempo mais que suficiente para ele se apaixonar por um criminoso. ⚠ 𝗪𝗔𝗥𝗡𝗜𝗡𝗚┃ s...