Capítulo 4 - Miguel-Senpai, Diego-Sem-casa.

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Quando cheguei na portaria, Seu Luis e dona Lara - porteiro e zeladora - estavam lá, como de costume.

- Oi...seu Diego! O trabalho deu certo? - Lara perguntou, sua voz soando um pouco diferente.

- Hã...mais ou menos, mas obrigado por perguntar - Respondi, com um sorriso.

Isso era definitivamente algo com o que se preocupar. Dona Lara era a reencarnação do William Bonner numa senhora de cinquenta e três anos. E por incrível que pareça, ela dá sinais extremamente sutis quando algo está prestes a acontecer.

Olhei para Luis, que deu de ombros.

- A coisa está feia contigo, Seu Diego.

Meu corpo gelou por um momento.

- Ah, merda.

Saí correndo em disparada para o elevador. Um único pensamento pasara por minha mente - Os capangas de meu pai.

Quando finalmente consegui minha própria casa, não demorou muito para ele se desesperar e tentar me "puxar" para o lado da organização. Invadiram meu apartamento e reviraram tudo. Agora que o deixara levar um tapa, não me surpreenderia se mandasse seus pau-mandados novamente.

Assim que o elevador abriu, corri até minha porta, abrindo-a com um empurrão.

Não estava trancada.

Caí de barriga no chão. Uma mão se estendeu, me ajudando a levantar.

- Sr. Ribeiro? - o nome me deu um arrepio - Eu sou o Breno, proprietário.

Aceitei a ajuda para levantar.

- Breno, sei. Hã...o que está fazendo aqui dentro?

- Perdão pela invasão repentina. Creio que não tenha visto meu... comunicado por mensagem.

Peguei o celular do bolso. Havia realmente uma mensagem.

- Seu aluguel está atrasado, Sr. Diego, e não é a primeira vez.

- Sim, eu sei e sinto muito. - estava ficando um pouco irritado - Mas não é necessário vir até aqui desta maneira.

O proprietário esfregou a nuca.

- Isso realmente foram medidas drásticas, porém, necessárias. E Eu realmente não queria ser a pessoa a lhe dizer isso, mas...

- Sim? - pela primeira vez, estava um pouco temeroso.

- O governo comprou a  propriedade.

Engasguei com minha própria saliva.

- Com licença?! O prédio todo?

- Sim, todo. - Breno desviou o olhar - A porta já estava aberta quando cheguei aqui, e como seu pai é o governador...

- Imaginou que ele já estava examinando a propriedade. - completei a linha de raciocínio, minha cabeça rodava - Certo, certo. Mas o quê farão com o prédio?

- Pelo que entendi, uma espécie de escritório. Para o prefeito da nossa querida capital.

Legal. Minha casa agora seria um escritório.

- Mas não temos nem um tempinho para encontrar outro lugar? E os outros moradores?

O homem me olhou de maneira confusa.

- Ninguém comentou com o senhor? Seu pai fez um acordo comigo, e disse que vocês teriam cerca de um mês. Mas, todas as despesas do imóvel estão sendo pagas pelo estado agora. Ou seja, querem despejar qualquer inquilino com parcelas atrasadas.

Agora fazia sentido. Meu pai armou tudo isso. Ele vai me arrastar para o precipício, até que aceite o que quer.

- Estou aqui apenas para avisá-lo, como um amigo. - Breno tentou me tranquilizar - O governador disse que daria dois dias para esses inquilinos.

- Obrigado, isso foi muito atencioso. - respondi, sentindo minha cabeça rodar.

Para completar minha situação, Miguel chegou correndo.

- Diego! - ele ofegava - O que está acontecendo? A senhorinha que estava ajudando o porteiro...

- Te disse que vamos todos ser expulsos? - perguntei - É, eu estou sabendo.

O proprietário se desculpou e saiu, prometendo mais detalhes.

Dois dias.

Miguel me

- Diego, é sério. Você ao menos tem onde ficar?

Fiquei em silêncio. Tantas coisas aconteceram ao mesmo tempo, e minha cabeça não conseguiu processar todas de uma vez.

Eu perdi o que tinha em menos de vinte e quatro horas, e para o meu próprio pai.

- Diego! - Miguel chamou, me chacoalhando.

- Eu me viro. Talvez consiga um hotel, só até encontrar outro lugar... - respondi de maneira vaga, sem olhá-lo nos olhos

Miguel virou meu rosto - bruscamente, porém segurando com cuidado - para que o encarasse.

Quando olhei em seus olhos, vi duas poças do mais puro Mel.

- Você ao menos tem dinheiro? Perdeu o cachê de hoje, lembra?

Ele estava certo. Droga, xeque-mate.

- Eu vou dar um jeito. - Tentei tranquilizar o secretário, mas não tranquilizei nem a mim mesmo.

Miguel suspirou.

- Eu posso te ajudar. Outra vez.

Olhei-o, um pouco surpreso. É normal ajudar alguém, mas tantas vezes?

- Você é um anjo, mas você precisa da sua privacidade.

- Não se preocupe com isso, eu ainda tenho meu quarto. E não é para sempre, é apenas até conseguir se estabilizar novamente. - ele estava genuinamente preocupado - Fora que eu também não tenho conseguido manter o orçamento, mais alguém ajudando seria extremamente útil. Um tipo de..."colega de quarto temporário".

Pensei um pouco. "Colega de quarto temporário"...

- Eu não estou em condições de recusar ajuda. Obrigado, cara, isso é muito bom da sua parte.

- Não me agradeça, estamos apenas ajudando um ao outro.

Ele estendeu a mão. Apertei-a com firmeza.

- Estou te devendo três favores outra vez. - comentei - Pare imediatamente de me ajudar.

Miguel riu.

- Sinto muito, mas a "princesa" ainda terá que conviver bastante comigo.

E lá estávamos nós, outra vez. Éramos basicamente estranhos, mas ele confiava em mim. Você deve se perguntar "Diego, por que você não mora com a sua irmã?". A resposta é que Mirella mora com a mãe - E ela não é lá uma grande fã minha. Principalmente por ser filho do seu ex-marido. Sim, ele já se casou três vezes. E não duvido nada que traia a terceira.

Miguel se mostrou uma pessoa muito boa, mas ainda lhe dava o benefício da dúvida.

Nem sempre é o que se parece, e nada impede de passar a ser.




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⏰ Última atualização: Jun 05 ⏰

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