CAPÍTULO 4

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À medida que os dias passam, minha rotina se torna cada vez mais cansativa, com apenas pequenos suspiros de felicidade e conforto. Encontro um pouco de alívio ao ver minha obsessão na fila da cafeteria todas as manhãs ou quando me perco entre as páginas de algum livro. Conto os dias como um prisioneiro aguardando seu julgamento, riscando cada dia em meu calendário até o grande dia do meu martírio familiar.

Quando dou por mim, aqui estou , na estação de trem, no último lugar onde gostaria de estar nesta manhã de sábado. Aguardo a chegada do trem para New Haven, Connecticut, a cidade onde passei toda minha infância antes de ingressar no curso de literatura na faculdade em Nova York.

É uma cidade da qual não me vejo mais fazendo parte, convivendo com uma comunidade amável, porém solista, fofoqueira e intrometida, que dá ouvidos a tudo que minha mãe diz. Para eles, sou uma Sarah completamente diferente do que realmente sou.

- Que se dane - penso comigo mesma, tentando afastar os sentimentos de nostalgia e incerteza que me assaltam neste momento. Decido entrar no vagão do trem com determinação, buscando o número da minha poltrona desejando profundamente que tudo isso acabe logo.

Tenho a firme intenção de encerrar essa visita à minha cidade natal o mais rápido possível, não ficando lá mais do que o necessário, e voltar para casa, onde posso me entregar ao consolo do vinho e do sorvete, fingindo que aquele encontro em família nunca aconteceu.

Assim que me acomodo em minha poltrona, abro minha bolsa,tiro um livro de capa preta com os dizeres em vermelho simulando pingos de sangue. O AÇOUGUEIRO.

É um livro bem sangrento, com tantas reviravoltas que será capaz, pelo menos, de me distrair durante o percurso de 2h45 entre Nova Iorque e a cidade onde meus pais moram.

Por algum motivo, o livro que tanto almejava ler assim que chegou na biblioteca há mais de três meses não está me distraindo completamente. Quando dou conta, estou devaneando sobre os acontecimentos futuros, o que me deixa com raiva de mim mesma e frustada.

Sentindo-me como um general em guerra, tentando minha última cartada para vencer, tiro meu celular de dentro da bolsa junto com meus fones. Decido me distrair com uma busca por novas informações sobre Walker. Isso toma um tempo considerável, verificando cada rede social, tanto dele quanto de seus familiares e amigos.

Para minha total infelicidade, encontro apenas uma nova informação que não é lá essas coisas: uma foto no feed do Instagram de Noan,  ambos estão suados e desarrumados, após uma corrida. É algo um tanto incomum, já que Noan odeia correr ao ar livre, prefere muito mais uma esteira do que o ar puro de um parque no meio da cidade.

Vendo que não tenho muita informação sobre ele nesta nova busca, apenas salvo a nova foto em meu álbum do celular, que é exclusivo para Jonas.

Decido então ver todos os vídeos e fotos que tenho dele, tanto os que capturei de alguma rede social quanto aqueles momentos em que me sentia mais corajosa e fazia as imagens por conta própria, como as corridas matinais, entre outros momentos. Isso é suficiente para me manter distraída até minha casa

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Assim que desço na estação, dou de cara com meu pai. Seu sorriso carinhoso, suas feições marcadas pelo tempo, me deixam triste comigo mesma. Sinto que não estou aproveitando meu pai e os bons momentos que compartilhamos ao longo dos anos.

Ao mesmo tempo, também sinto tristeza ao perceber que, apesar de ser uma boa pessoa de me amar, meu pai nunca tomou a frente para me defender das crueldades proferidas por minha mãe e Ana. Parece que ele faz o máximo para se manter calado e inerte, evitando se tornar o foco das duas.

FascinaçãoWhere stories live. Discover now