CAPÍTULO 2 - ELLERY

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Assim que meus pés vão ao encontro do asfalto, tudo se torna familiar, o cheiro, a fumaça, as pessoas e os carros. 

Não existe área melhor que essa longe da civilização. O local das corridas clandestinas. O lugar que faz com que meu coração erre algumas batidas, que entorpece minha mente e manipula meus sentidos.

Nunca senti nada igual.

Speed Hill, meu segundo lugar preferido no mundo. 

Além de ser em um local distante e por se tratar de um morro, o espaço consiste em um grande galpão, cujo canto esquerdo situa-se o bar, no centro do estabelecimento se encontra a pista de dança e no lado direito fica a sala dos apostadores, ou seja, pessoas que fazem a grana rolar solta, são eles que despertam nosso lado competitivo e, sem dúvida, são eles que transformam nós, competidores, em meras peças de um jogo que pode salvar suas contas bancárias. E lógico que, na parte externa, cercado por mato e árvores, não poderia faltar a maravilhosa pista de corrida, onde o sonho de vencer não se realiza sem que antes se veja o pesadelo passar diante de seus olhos, o medo do desconhecido e da possível derrota.

Embora San Diego seja conhecida por suas esplêndidas praias, parques e pelo sol quente, existem pessoas que não curtem atividades ao ar livre, e, agora, eu sou uma delas. Contudo, minha querida e maravilhosa cidade nos proporcionou um presente fantástico, as montanhas que cercam a região leste da cidade, local onde pessoas de muita inteligência desenvolveram a Speed Hill, o melhor lugar para se estar. Talvez seja o refúgio perfeito para quem prefere as alturas e a vista panorâmica das montanhas em vez das praias ensolaradas, ou quem sabe, correr em alta velocidade até perder os sentidos. 

Estar aqui é como estar no paraíso. Você esquece os problemas da vida real e só foca em correr. As sensações são infinitas, mas o que mais amo é poder sentir que estou no controle de tudo, eu governo a mim mesma, eu me permito ter liberdade. Somente eu posso me conter, me limitar ou moderar. Apenas eu. Mais ninguém. 

Por esse motivo, aprecio a arte da manipulação, todos me enxergam apenas da forma que eu permito, e nada além, logo, acreditam que sou meramente uma garota que quer o que todos querem, vencer, obviamente. Entretanto, eles não sabem o prazer que sinto ao estar aqui, em correr e conquistar o que lutei para merecer. Não os proporciono o ensejo de saberem da verdade e é assim que as coisas devem ser.

Não é porque abraço todas essas sensações que também não existe outra explicação para tudo isso. Essa é a realidade. Preciso de dinheiro. Urgentemente. Só o que ganho como babá não é o suficiente, necessito de mais. Quanto antes conseguir uma boa quantia, antes posso colocar meu plano em ação, porém, até lá, vou fazer o que faço de melhor. Correr e vencer. 

A música explode nas caixas de sons, a bebida corre solta e o cheiro de sexo predomina o espaço, tudo do jeito que deve ser, é assim que as coisas funcionam aqui, liberdade e putaria à vontade. 

O lugar está cheio de pessoas, todas esperando para o grande momento da noite. Enquanto isso vou até o bar e peço uma cerveja. Apesar de não ser muito fã, bebo igual para aliviar a tensão que me domina. Estou com um pressentimento diferente para esta noite, sinto que algo vai acontecer, não sei por quê. Ainda assim, é uma intuição que não vai embora, mesmo após o término da bebida, que não ajudou em merda nenhuma.

Levo um susto quando sinto mãos agarrando minha cintura e me levantando por trás, instintivamente meu cotovelo se direciona para o abdômen de quem quer que seja. Não olho para o indivíduo, simplesmente dou o golpe.

- Filha da puta! Caralho Ellery. Não posso nem mais te abraçar? - Ele grita com a voz ofegante, tentando recuperar o fôlego. 

Só pelo linguajar já até sei de quem se trata. Olho para trás vendo meu melhor amigo, Nathaniel Rivera. Ou como prefiro chamá-lo, Sr. Biscate. Já perdi as contas de quantas vezes bati nele por conta desses sustos que ele fica me dando. 

Asas da FortalezaOnde histórias criam vida. Descubra agora